ENTREVISTA / ORLANDO FANTAZZINI
Leticia Nunes
A campanha "Quem financia a baixaria é contra a cidadania" completa um ano de existência. Coordenada pelo deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), o movimento iniciado em novembro de 2002 luta por uma programação televisiva de qualidade.
E sua maior arma é a manifestação popular. A campanha possui um site, em <www.eticanatv.org.br>, e um número gratuito de telefone (0800-619619), pelos quais os telespectadores podem expressar sua crítica a qualquer programa de TV. Com base nessas denúncias da população é montado um ranking de baixaria com os dez programas mais criticados. Esta lista é encaminhada a um conselho que formula parecer para ser enviado às emissoras.
Na semana passada foi divulgado o quinto e último ranking de baixaria deste ano [veja tabela abaixo]. A lista foi montada com a participação de 1.135 denúncias feitas por telespectadores no período de 24 de setembro a 12 de novembro. O deputado Orlando Fantazzini falou a este Observatório sobre o resultado deste ranking e sobre os resultados do primeiro ano da campanha.
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Qual o balanço do primeiro ano da campanha "Quem financia a baixaria é contra a cidadania"?
Orlando Fantazzini ? A campanha superou as expectativas. Esperávamos ter esses bons resultados apenas no final do segundo ano. Principalmente pelas nossas dificuldades de divulgação. Mas, felizmente, tivemos um amplo apoio da imprensa escrita, das emissoras de rádio, das TVs educativas e de entidades da sociedade civil. Com isso, a participação da população nos rankings foi aumentando. Nós tivemos, em um ano, mais de 11 mil manifestações de telespectadores. Destes, mais de 7 mil entraram em contato conosco para dizer que apoiavam a campanha; e mais de 3 mil denunciaram determinados programas de televisão e fundamentaram suas denúncias. Isto foi um grande resultado, pois mostrou a insatisfação dos telespectadores. E mostra também que ter muitos pontos no Ibope não significa necessariamente que o telespectador está satisfeito com a qualidade daquele determinado programa. Outro ponto positivo neste ano foi a decisão histórica da suspensão do programa do Gugu [Liberato, Domingo Legal, do SBT, pela falsa entrevista com supostos integrantes da facção criminosa PCC], e, em conseqüência disso, o aumento da preocupação e do receio dos anunciantes em apoiar programas que sejam ofensivos ou desrespeitosos aos telespectadores.
Quais são os planos para o próximo ano?
O.F. ? Iremos fazer uma conferência em fevereiro para definir os próximos passos a serem tomados. A continuidade da campanha é certa, mas queremos ampliá-la. Queremos que os telespectadores continuem se manifestando cada vez mais. Os rankings de baixaria vão continuar, mas vamos discutir qual deverá ser sua periodicidade. Iremos investir mais acentuadamente na relação com os anunciantes e estreitar nossa parceria com o setor empresarial, que desempenha um papel importante junto às emissoras de televisão.
Neste último ranking do ano, uma novela ficou em primeiro lugar e outras duas ocuparam a terceira e quinta posições. Foi uma surpresa?
O.F. ? Não foi surpresa. Acho que os telespectadores têm sido estimulados a uma visão mais crítica do que assistem na televisão. E isso vale para as novelas, que costumam ter uma audiência enorme. Hoje em dia, com esta vida corrida, a noite costuma ser o único momento para a família se reunir, conversar, mesmo que isso ocorra em frente à televisão. O que está acontecendo é que as novelas ? com suas inúmeras cenas de sexo explícito ? estão causando constrangimento em pais e filhos. Com isso, vemos o aumento das denúncias dos telespectadores, que estão desenvolvendo um olhar mais crítico e, mais do que isso, estão desenvolvendo consciência. Foi o conjunto destes fatores o que levou uma novela a ficar em primeiro lugar no ranking.
Outro aspecto deste ranking é que a crítica por "apelo sexual" aparece em sete dos dez programas da lista, e está contido nos cinco primeiros. Como analisa isso?
O.F. ? Isso também não foi surpresa, foi assim nos rankings anteriores. Mostra apenas que a televisão tem explorado excessivamente o sexo e a violência. Estes dois fatores são os mais votados pelos telespectadores, e isso é refletido nos rankings.
PROGRAMAS |
DENÚNCIAS |
ASSUNTO
|
PROCEDÊNCIA
|
01 . Kubanacan
(Rede Globo)
Carlos Lombardi |
130 60% masculinas* 40% femininas* |
Apelo sexual; incitação à violência; horário |
SP: 34 DF: 17 RS: 12 SC: 10 Outros: 10 Desconhecidos: 17 |
02 . Domingo Legal (SBT)
Gugu Liberato |
117 68% masculinas* 32% femininas* |
Apologia ao crime; apelo sexual; desrespeito aos valores éticos |
SP: 40 RS: 11 DF: 08 Outros: 22 Desconhecidos: 20 |
03. Celebridades
(Rede Globo)
Gilberto Braga |
108 55% masculinas* 45% femininas* |
Apelo sexual; incitação à violência; horário |
SP: 41 SC: 10 Outros: 24 Desconhecidos: 18 |
04. Ratinho
(SBT)
Carlos Massa |
104 65% masculinas* 35% femininas* |
Apelo sexual; discriminação; desrespeito aos valores éticos |
SP: 42 DF: 12 Outros: 26 Desconhecidos: 09 |
05. Mulheres Apaixonadas
(Globo)
Manoel Carlos |
85 59% masculinas* 41% femininas* |
Apelo sexual; incitação à violência; desrespeito |
SP: 42 RJ: 07 Outros: 16 Desconhecidos: 08 |
06. Casseta e Planeta
(Rede Globo)
|
72 69% masculinas* 22% femininas* 7% anônimas* |
Discriminação |
RS: 52 SP: 04 Outros: 05 Desconhecidos: 06 |
07. João Kléber
(Canal Aberto e Eu Vi na TV)
(Rede TV!) |
33 87% masculinas* 9% femininas* 4% anônimas* |
Exposição das pessoas ao ridículo |
SP: 17 RS: 04 Outros: 02 Desconhecidos: 03 |
08. Malhação
(Rede Globo)
Emanuel Jacobina |
32 53% masculinas* 41% femininas* 6% anônimas* |
Apelo sexual; horário impróprio |
SP: 14 RS: 03 Outros: 06 Desconhecidos: 06 |
09. Hora da Verdade (Band)
Márcia Goldshmidt |
31 64% masculinas* 36% femininas* |
Exposição das pessoas ao ridículo; apresentação |
SP: 12 BA: 04 Outros: 07 Desconhecidos: 01 |
10. Domingão do Faustão
(Rede Globo)
Fausto Silva |
27 74% masculinas* 26% femininas* |
Apelo sexual; vocabulário impróprio |
SP: 07 RS: 04 Outros: 06 Desconhecidos: 06 |
(*) Valores aproximados
Denúncias do quinto ranking (de 24 de
setembro a 12 de novembro): 1135
Total de denúncias fundamentadas recebidas pela Campanha (desde 12/02/2003): 3622
Total de manifestações recebidas pela Campanha (desde 13/11/2002): 11.327