RÚSSIA
Um tribunal de Moscou ordenou em 27/11 a dissolução da TV-6, a última grande estação de TV independente da Rússia, dando fim ao único canal de critica ao presidente Vladimir Putin. Com a decisão, que admite recurso num prazo de seis meses, a Justiça aceitou a ação de liquidação proposta pela companhia de petróleo Lukoil – acionista minoritária da empresa ?, sob a alegação de que a estação não é financeiramente sólida. O magnata Boris Berezovsky detém 75% da TV-6.
Daniel Williams [Washington Post, 27/11/01] lembra que, meses atrás, Vladimir Gusisnky, proprietário da NTV – canal independente perseguido pelo Kremlin – foi forçado a sair da empresa por pressão da principal acionista da rede, a companhia de gás Gazprom. O empresário se refugiou na Espanha para escapar de acusações de corrupção.
Quando Gusisnky dirigia a NTV, as autoridades a condenavam pela cobertura crítica da Guerra da Chechênia; seus repórteres até foram impedidos de entrar na república separatista. Em agosto de 2000, o canal foi o primeiro e o único a divulgar que o submarino Kursk afundara após explosão interna de um torpedo.
Depois da expulsão de Gusisnky, os jornalistas da NTV se refugiaram na TV-6 – cujos noticiários passaram a liderar os índices de audiência em Moscou -, o que parecia uma escolha improvável pelos antecedentes de seu proprietário: além de rival do ex-diretor da NTV, Berezovsky controlou a rede estatal ORT na época de Boris Yeltsin, até perder o posto com a ascensão de Putin. Quando o novo governo começou a investigar suas ligações suspeitas com uma companhia aérea, o magnata se exilou na França.
Embora os tribunais se baseiem estritamente em fundamentos econômicos, funcionários da TV-6 dizem suspeitar de manobra política. Parte da Gazprom pertence ao Estado, e a Lukoil trata com o governo assuntos importantes como cotas de exportação e impostos. "É claro que é política", disse Lyudmila Alekseyeva, presidente do Grupo Moscou Helsinki. "Nossas autoridades só lembram dos erros financeiros daqueles que querem pegar."
Conta Sabrina Tavernise [The New York Times, 30/11/01] que a União dos Jornalistas Russos convocou colegas e telespectadores a lutar contra a decisão, "exemplo da reconhecida fraqueza do Judiciário do país e de sua subserviência à pressão externa". "É ultrajante", desabafou Alim Yusupov, ex-correspondente da NTV, agora na TV-6. "O motivo é obvio: estávamos ganhando popularidade, e até surpreendemos a nós mesmos, por isso agora querem liquidar a companhia."
NOVO JORNAL
Conrad Black, dono da Hollinger International – uma das maiores editoras de jornais do mundo -, finalmente conseguiu entrar no mercado nova-iorquino, como tanto queria: o magnata bancará 12,5% de um investimento de US$ 15 milhões para lançar um novo diário nos primeiros meses de 2002. O jornal deve se chamar New York Sun, e será dirigido por Seth Lipsky, ex-editor de The Forward, e Ira Stoll, editor do sítio de internet Smartertimes.com, que publica críticas ao New York Times.
Há mais de um ano Stoll promete que sua página um dia lideraria a criação de um novo jornal "que oferecesse alternativa ao diário dominante", que julga "complacente, lento e inexato". Daniel Colson, vice-presidente da Hollinger, disse que o diário será direcionado a consumidores de alta renda, e "certamente neoconservador em sua visão ideológica", expressando, portanto, os valores que modelam os ataques de Stoll ao Times.
A novidade é anunciada em tempos de declínio de investimento publicitário por causa da recessão econômica. Ademais, o Sun entrará num dos mercados jornalísticos mais competitivos, em que diários como o New York Post e o Daily News perderam dinheiro nos últimos anos. Russ Smith, editor-chefe do New York Press, vibrou com o lançamento: afirmou que existe um grande público para uma alternativa ao Times, mas ressaltou o clima desfavorável para negócios.
O empreendimento adota o nome de um antigo jornal de Nova York. Lançado em 1833, o New York Sun fez sucesso com grande apelo à classe trabalhadora graças às matérias sensacionalistas e uma visão pró-imigrante e pró-sindicato. O Sun fechou em 1950, e hoje talvez seja mais lembrado por um editorial de 1897 intitulado Sim, Virginia, existe Papai Noel. As informações são de Gabriel Snyder e Sridhar Pappu [The New York Observer, 3/12/01], e Jayson Blair [The New York Times, 29/11/01].
ZIMBÁBUE
O governo do Zimbábue aprovou medidas que, caso confirmadas pelo Parlamento, darão às autoridades controle total sobre o que é escrito e transmitido no país. O projeto de lei, redigido pelo ministro da Informação, Jonathan Moyo, cria uma licença para jornalistas que pode ser revogada por comissão nomeada pelo governo. A lei proibiria profissionais de publicar notícias não-autorizadas de decisões ministeriais ou informações que "possam causar alarme público", além de impedir repórteres estrangeiros de trabalhar no país. Segundo a BBC News (30/11/01), a iniciativa faz parte da campanha do presidente Robert Mugabe contra a mídia independente no momento em que as eleições se aproximam.
"Isto deve ser combatido com todos os poderes legais que temos", disse Trevor Ncube, publisher do Zimbabwe Independent e do Sunday Standard, dois grandes semanários alternativos. "Qualquer tentativa do governo de licenciar jornalistas é claramente contra nossos direitos constitucionais de livre expressão e de ganhar a vida", afirmou Basildon Peta, secretário-geral da União de Jornalistas do país.