CRÍTICA DE MÍDIA
Victor Gentilli
Basta uma vista d?olhos na retranca Mídia & Eleições, neste Observatório, para observar que aparentemente as atenções estão centradas nas eleições presidenciais. Estas eleições, no entanto, renovarão não apenas o presidente da República, mas também os governadores de estado, 2/3 dos senadores, os deputados federais e estaduais. Com exceção do presidente da República, a cobertura jornalística de todas as demais campanhas fica restrita aos jornais diários locais e aos noticiários de rádio e aos pequenos espaços que as grandes redes de TVs abertas oferecem ao noticiário local.
Desnecessário esclarecer a importância destas outras eleições, até porque duas delas definirão a composição do Congresso Nacional que acompanhará o mandato do novo presidente: as eleições para o Senado e para a Câmara dos Deputados.
Entendo que o espaço privilegiado para o debate do comportamento da mídia nestas eleições é a universidade (ou o ensino superior em geral), em particular os cursos de Jornalismo. Alguns cursos já contam com disciplinas de crítica de mídia; poderiam, neste momento, focar a cobertura das eleições locais na imprensa. Outros cursos poderiam faze-lo em outras disciplinas ou em projetos de pesquisa ou extensão.
Evidentemente que, como um espaço da sociedade, o Observatório da Imprensa está apenas cumprindo seus objetivos ao abrir espaço para a divulgação das análises, dos estudos, das pesquisas, do monitoramento que professores e alunos fizerem da cobertura eleitoral.
É obvio que todos, de qualquer canto deste país, podem comentar o desempenho da mídia nas eleições presidenciais. Mesmo essas, no acompanhamento possível que este Observatório faz, praticamente ignora como o noticiário regional trata os candidatos a presidente.
Assim, os cursos de Jornalismo podem considerar-se convidados a colaborar com o Observatório no acompanhamento da cobertura eleitoral por parte da mídia nacional e regional.
No entusiasmo dos primeiros anos de atividade do Observatório da Imprensa, chegamos a pensar e propor uma Rede Nacional de Observatórios da Imprensa, a Renoi, parceria entre os cursos e este Observatório. A idéia-chave era a crítica de mídia regional em difusão nacional, mas certamente o mais importante era o estímulo à cultura da crítica de mídia nas escolas.
Na época, chamávamos a atenção para o fato de que:
A iniciativa proposta tem o inegável mérito de romper com os impasses que até hoje vinham se cristalizando na relação entre a universidade e o mercado de trabalho. Todas as iniciativas anteriores ou ignoravam o mercado (quando muito tratando-o pejorativamente), ou reproduziam-no acriticamente e de forma caudatária.
A experiência de levar o olhar crítico de alunos e professores para o jornalismo efetivamente praticado em cada região traz uma dupla vantagem:
** não desvia o olhar do mercado;
** não abandona a indispensável função crítica da universidade ? sem a qual os cursos se transformam em meros escolões de terceiro grau.
Certamente a proposta, em julho de 1998, estava adiante de seu tempo. Mesmo a proposta apresentada agora é muito mais modesta. Se se concretizar, será um passo decisivo para que aquela idéia inicial se concretize agora, quatro anos depois.