Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Uma cidade de olho na TV

SP, 450 ANOS

Deonísio da Silva

Quando foi apresentado o primeiro televisor, coube a um dos maiores jornais do mundo fazer a mais equivocada das previsões. Na edição de 18 de abril de 1939, do prestigioso The New York Times, lê-se o seguinte: "não dará certo porque as pessoas terão de ficar olhando sua tela, e a família não tem tempo para isso".

Hoje não se pode imaginar o mundo e muito menos os EUA sem televisão. E o suplemento Telejornal, de O Estado de S.Paulo (18/1/04), dá matéria de capa intitulada "Como SP vê TV". O texto é assinado por Keila Jimenez.

Somos informados de que o paulistano assiste em média 4 horas de televisão diariamente. Nelson Rodrigues, num momento de exagero criativo fez uma de suas frases mais engraçadas e cáusticas: "A pior forma de solidão é a companhia de um paulista."

Bairrismo paulistano

Aferidas as horas gastas diante da televisão e somadas ao tempo que perde no trânsito, quantas horas do dia sobram ao paulistano para viver, supondo que as pessoas não vieram a este mundo para viverem engarrafadas no trânsito ou aboletadas numa poltrona ou sofá diante da televisão?

São Paulo tem 4,8 milhões de domicílios com televisão, mais de 50% a mais do que o Rio, que conta com 3 milhões. As duas megalópoles são seguidas de Salvador e Recife, com 1 milhão cada uma.

Há outras novidades na matéria. O paulistano, provavelmente em decorrência do trânsito complicado, começa a ver televisão mais tarde, por volta das 19h30. No Nordeste, por exemplo, os telespectadores aumentam os índices de programas a partir de 17h, segundo Flávio Ferrari, do Ibope.

Outra curiosidade: nas pequenas cidades os telejornais e outros programas ao redor de 12h costumam ter boa audiência porque as pessoas almoçam em casa, o que em São Paulo é muito raro, para não dizer impossível.

A matéria ressalta ainda o lado paroquial da capital paulista, cujo notório bairrismo ainda impregna o espírito da maioria. Assim os programas de Hebe Camargo, de Gugu Liberato e de Sílvio Santos têm mais audiência em São Paulo do que no Rio.

Espaço nobre

A matéria ainda destaca que a novela das oito ? o folhetim eletrônico que sucedeu e superou em quantidade, em índices astronômicos, o antigo folhetim escrito ? lidera os campeões de audiência em todas as megalópoles e metrópoles, sempre acima da marca de 40%, com exceção de Belo Horizonte, onde a novela atinge 37pontos. Ainda assim, Rio e São Paulo oferecem a liderança nacional de audiência para a novela das oito, com 45 e 44 pontos, respectivamente.

Quanto à TV paga ? um conceito polêmico, pois de algum modo todos os programas são pagos ?, São Paulo responde por 21% do total nacional. Infelizmente a matéria não explorou o filão de um sério tropeço: o encalhe da TV paga, que continua na marca dos 3,5 milhões de assinantes. As previsões eram de que em 2000 seriam 7 milhões.

A matéria deixa uma séria pergunta a ser respondida pelos editores de telejornais na TV a cabo. Com efeito, quem explicitamente paga mensalidades por serviços de televisão prefere desenho animado e filmes.

Talvez para muitos telespectadores o Jornal Nacional da TV Globo seja apenas uma sala de espera onde o público aguarda a chamada, não para entrar na telenovela, mas para que ela entre em sua casa, cuja sala deu espaço nobre ao televisor e horário nobre às redes.

Seria interessante que jornais e revistas fizessem novas pesquisas para aferir quem os está lendo, onde, como, o quê e por quê.