FLUMINENSE FM
Rodrigo Quik (*)
Em 1982, a Rádio Fluminense FM, a Maldita, abriu as portas para o rock no Brasil e criou uma nova linguagem de locução nas FMs tupiniquins. Na época do primeiro Rock in Rio, estava entre as cinco mais ouvidas regularmente. Como era um fenômeno, cresceu muito. E, como na maioria dos fenômenos, não se viu preparada para gerenciar tal crescimento. Resultado óbvio: fechamento de suas portas em 1994, atolada em dívidas e de programas que rachavam a própria rádio.
Pronto, o dial da Flu havia sido passado à Jovem Pan, que trouxe ao Rio uma outra linguagem, até então desconhecida: a do dance. Em 2000 a Flu retornou, só que na freqüência AM, muito pouco ouvida e de difícil recepção. Mesmo assim, a rádio teve bom retorno. Mas, combinemos que AM não é praticamente ouvida pelo público a que a programação se propunha. No meio do processo, a Jovem Pan alugou outro número no dial, e a 94.9 passou a ser Jovem Rio, criação de algum "ixxxpertu" da empresa. Como não podia deixar de ser, foi um fiasco. Mais uma rádio dance (já seria a terceira) e distante de todas as outras na geografia do dial não poderia ir muito longe mesmo. Foi quando alguém teve a brilhante idéia de trazer a Flu de volta às FMs. Não deu outra: mídia espontânea por todos os lados e a esperança de ter de volta uma rádio com propostas e atitudes que condissessem com o estilo de música que se propunha a tocar.
E esse foi o primeiro grande erro. As pessoas que trabalham com esse nicho começaram a cobrar e a se engalfinhar por conta da rádio. A Maldita não era mais vista como uma empresa privada, e sim como um bem público, em que todos têm direito a voz e voto. Nada disso. Como toda empresa privada, a rádio tem dono, que determina seus funcionários, que precisam dar-lhe lucro. Simples. Mas não. Todo mundo queria uma bocada, como os políticos fisiológicos que a população tanto critica. No dos outros é refresco. Como, pelas características já mencionadas, isso se tornou inviável, logo apareceram detratores. O que foi um equívoco e um pensamento mesquinho e pequeno. Afinal, a rádio estava engatinhando e era necessário dar-lhe um voto de confiança a ela.
A fórmula é criar público
O problema foi que, a partir desse pressuposto, a emissora começou a se mostrar vacilante, a demorar para partir para ações práticas, concretas de diferenciação no dial. E aí as cobranças começaram a tomar forma de ações reais, que iam contra ela. Na verdade, toda essa confusão aconteceu por um único motivo: a montagem equivocada da sua coordenação. A olhos nus, o critério utilizado foi o da escolha de uma pessoa que tivesse o perfil da rádio, passado ligado ao rock alternativo, mesmo que sem experiência administrativa alguma. Esse foi o erro. Não havia tino comercial. E essa pessoa tinha que reunir esses dois elementos: conhecimento de causa e experiência administrativa. Rádio privada tem que dar dinheiro, lucro. Seja qual for o estilo. E, como não havia planejamento algum, não havia também ações publicitárias nem espírito de inovação. Era difícil sobreviver. Na verdade, seus gestores não tinham a menor idéia do que fazer com a rádio. Resultado: nenhum artista novo foi lançado, prejuízos foram acumulados, equipes de promoção, comercial e de locução dissolvidas por critérios pessoais de relacionamento, ausência de programas e até de idéias, enfim, uma série de equívocos que só prejudicaram a imagem de pessoas antes respeitadas no mercado.
O pior é ouvir, do próprio dono, que "o rock já era e que o que o lance agora é rádio adulta". Isso é de uma ignorância tão primária que nem é possível ficar com raiva. A opção foi tornar-se a sexta (e possivelmente, última) concorrente das chamadas "rádios adultas", e deixar para apenas uma emissora a exclusividade do público rock. A visão "umbiguista" impede que esse tipo de gente enxergue que apenas uma rádio terá a publicidade de todos os shows nacionais e internacionais de rock no Rio de Janeiro, que apenas uma terá todos os lançamentos desse perfil, que será uma das quatro rádios jovens (e, por sinal, a primeira colocada no nicho) com contas de produtos para a juventude.
Isso é bem característico do Rio. A rádio tem que ser cool ou jabazeira, não há terceira via ou meio termo. As emissoras não se convenceram ainda de que aqui não é São Paulo, onde a prática do jabá é viável pelo tamanho e o poder de consumo. É só dar uma olhada nas rádios do Espírito Santo e do Rio Grande do Sul, estados médios. Há a prática do pagou/tocou, mas há também a preocupação de formar artistas locais, porque só assim se criam eventos e anunciantes. Por quê? Porque se cria público. A fórmula é mais simples do que parece. Para mim, que não sou dono ou coordenador de rádio alguma.
(*) Jornalista e publicitário carioca, pós-graduando em Gestão da Cultura, produtor cultural e músico das bandas Perdidos na Selva e Narjara