REFORMA POLÍTICA
Chico Bruno (*)
O slogan da campanha de Tancredo Neves, em 1984, na última eleição indireta para presidente da República, foi "Muda Brasil". Hoje, 18 anos depois, muita coisa mudou no país, mas infelizmente a principal mudança não ocorreu, a política.
E não ocorreu porque não interessa à maioria dos políticos brasileiros e porque a população, ainda, não compreendeu que a reforma política é fundamental para implementar mudanças radicais na vida dos brasileiros.
A tão falada reforma tributária só se viabilizará se antes houver ampla reforma política. Uma grande falha da imprensa brasileira é não focar nessa direção. A maioria dos editores de Política sabe que sem a reforma política as outras reformas custaram, custam e custarão muito caro ao país.
Sem a reforma política, chega-se ao governo sabendo que não se tem o poder por completo. Mais uma vez, os editores de Política sabem disso. Sabem, por exemplo, que alguns governantes cedem a chantagens políticas para conseguir um mínimo de governabilidade. A imprensa brasileira estaria prestando um grande serviço ao país se pautasse a reforma política, principalmente a partir dessa questão, chantagem versus governabilidade.
Vejamos o caso de Fernando Henrique, que preferiu se poupar de grandes desgastes, e cedeu à promiscuidade do toma lá, dá cá que campeia em todos os escalões da ilha da fantasia, conhecida como Brasília. Só para conseguir aprovar algumas reformas, segundo noticia sempre a imprensa ? que, infelizmente, não pega esse gancho para desdobrar a questão.
Complacência comprovada
Há exemplos de resistência à promiscuidade na política brasileira. Não seria o caso de se contrapor esses novos ventos que sopram aos velhos que assolam a política? Será que isso não é o bastante para se construir a discussão sobre a necessidade da reforma política brasileira? Sabemos que existem esses exemplos de ruptura com a promiscuidade do poder estabelecido há 500 anos. Sabemos que se governa sob constante risco e ameaça dos outros poderes constituídos. Mas esses novos governantes não arredam pé, não se desviam da proposta de mudança. Isso não é uma bela matéria jornalística?
Essa nova atitude de governar que emerge no país não tem, infelizmente, visibilidade na mídia brasileira, o que é uma pena.
Agora mesmo, dois governadores de pequenos estados enfrentam dura batalha contra a promiscuidade do toma lá, dá cá das respectivas casas legislativas. Num deles a Assembléia mutilou e aprovou um orçamento de benesses para seus pares; em outro insiste em não colocar em votação o orçamento 2002, aguardando que a resistência do governador se quebre. Isso não é matéria?
Esses dois casos de ruptura com o status quo precisam ser estimulados e expostos pela imprensa, para que sirvam de exemplo ao país. A partir deles, quem sabe, se consiga enfim fazer a reforma política que o Brasil exige. Caso contrário, continuaremos a ver eleitos chegarem ao governo e serem obrigados a ceder à chantagem do toma lá, dá cá, sob o olhar complacente da imprensa. Aliás, comprova essa complacência o sumiço do noticiário do lobista APS.
(*) Jornalista