DIRET?RIO ACAD?MICO
BERKELEY
Na semana retrasada, o Daily Californian, jornal estudantil da Universidade da Califórnia em Berkeley (UC Berkeley), São Francisco, publicou anúncio dando "Dez razões pelas quais consertar a escravidão é uma má idéia ? e racista também", escrita por David Horowitz.
Ativistas de esquerda rapidamente protestaram contra a decisão do jornal de publicar o anúncio. Despejaram sobre o Daily Cal ? como é chamado o jornal, segundo a mania americana de abreviar tudo ? uma lista de exigências: a contratação de "uma pessoa para examinar conteúdo racial ofensivo", a publicação de "dois pedidos formais de desculpas", com fotos da equipe responsável pelo jornal e dos estudantes que se opuseram ao anúncio, e texto de 10 colunas combatendo cada um dos 10 pontos de Horowitz. Os ativistas ainda surrupiaram os exemplares restantes nas bancas e prateleiras.
Os alunos engajados foram tão censores que o Daily Cal nem noticiou o roubo das cópias, para poupar outros estudantes de serem expostos a opiniões das quais os ativistas discordam.
Segundo Debra J. Saunders [San Francisco Chronicle, 6/3/01], o Daily Cal publicou, de fato, um pedido formal de desculpas. Em carta aos leitores, um dos editores disse que o anúncio continha "conteúdo incorreto ou incendiário". Afirmou que a equipe do jornal deveria ter vetado a publicação, e prometeu aos leitores que isso não acontecerá novamente.
Mas o anúncio não era "incendiário", defende o autor da matéria. Horowitz não utilizou linguagem tão crua e ofensiva. Além disso, o texto não era incorreto, apenas uma opinião documentada. O episódio, "infelizmente", opina o autor, pôs em dúvida a credibilidade da escola ? que alguns passaram a chamar de University of Censorship (Universidade da Censura), em vez de University of California. Como disse o presidente do conselho da escola, Robb McFadden, "parece que a liberdade de expressão em Berkeley só se aplica aos que não fogem à linha liberal de pensamento". Apesar de não concordar com muito do que é dito por Horowitz, McFadden afirma que é de seu direito, como cidadão americano, falar o que bem entender.
Para o repórter do Chronicle, o episódio mostra uma grande falha na educação de estudantes engajados. Eles sabem muito pouca história. "Não apreciam a Primeira Emenda, nem entendem as terríveis conseqüências possíveis para casos em que o poder tenta ditar o que o povo deve falar e pensar."
De acordo com Jonathan Yardley [The Washington Post, 5/3/01], o editor Daniel Hernandez, do Daily Cal, escondeu o rosto com a blusa, envergonhado. Chamou o anúncio de "impreciso e racista" e afirmou: "Alguns podem recorrer à Primeira Emenda para defender o anúncio, mas, em meu modo de ver pelo menos, liberdade de expressão não está em discussão quando é comprada. Anúncios são para venda de alguma coisa, não para pregações. E comprar espaço para defender um ponto de vista é injusto, na medida em que não permite resposta ou opinião oposta. É para isso que existe a editoria de opinião".
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