Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vaguinaldo Marinheiro

LULA ANO 2

“Ano 2”, copyright Folha de S. Paulo, 05/01/04

“Enfim o ano acabou, e com ele a enxurrada de balanços do primeiro ano do governo Lula. Na parte oficial, a condescendência de sempre com os próprios atos e a atribuição de todos os males à herança deixada pelo governo anterior. Já entre os opositores, a intelectualidade e a mídia, uma coincidência: todos criticavam a descaraterização do PT, a traição à sua história. O cerne dos textos era que o partido repete o que sempre atacou.

A maioria esqueceu que movimentos políticos ou artísticos seguem sempre o mesmo destino: ou se fossilizam e deixam de ter relevância ao defender eternamente as mesmas idéias e dogmas, ou aparam arestas, abandonam extremismos, são absorvidos pelo establishment e acabam expurgando sua parte mais radical.

Esses expurgados, por sua vez, tendem a criar uma nova organização ou grupo que, com o tempo, enfrentará o mesmo dilema: fossilizar-se ou adaptar-se às formas mais tradicionais de atuação. Esses processos fazem a política e as artes se modernizarem.

Não foi diferente no caso do PT. Mas não quero aqui repetir ou contestar os textos de balanço feitos de fora do governo. Nem atacar a falta de autocrítica do Planalto, sua chorumela em relação à gestão anterior e a propensão de Lula a fazer promessas, como se estivesse viciado após quatro campanhas. Hoje já é o quinto dia do novo ano, do ano dois desse governo, e é hora de pensar para a frente.

2004 será o ano de provar se são reais as habilidades do PT e de Lula para governar. Na área econômica, será difícil continuar a culpar a ?herança maldita? de FHC caso se repita um crescimento econômico que, segundo o próprio governo, não vai passar de 0,3% em 2003, o pior desde 1998, quando a crise na Rússia arrasou economias por todo o mundo.

Tampouco será fácil fugir da responsabilidade se o desemprego continuar recorde. Ou o governo pára de atrapalhar o setor produtivo, como fez em 2003 com juros astronômicos, ou terá de esquecer, e fazer as pessoas esquecerem, que prometeu criar 10 milhões de empregos em quatro anos.

Quanto à questão social, que era a menina dos olhos do velho PT, será preciso apresentar conquistas efetivas. Neste ano dois, não bastará anunciar programas, renominá-los, relançá-los, unificá-los e guardar os recursos no caixa, como ocorreu em 2003.

Também será necessário retomar os investimentos em infra-estrutura. No ano passado, o total de dinheiro empregado nessa área não atingiu um terço do utilizado em 2002.

Na política externa, as viagens de Lula e a disposição dos diplomatas brasileiros de enfrentar a doutrina norte-americana precisam render mais que o apoio vacilante de outros países pobres e desaforos de negociadores dos EUA. Precisam gerar acordos comerciais rentáveis para o Brasil, fazer o Mercosul andar e transformar o GX em um grupo que tenha poder de negociação com os países ricos.

Esse ano dois parece mais difícil? Essa é a arte de governar. E Lula e o PT precisam mostrar competência nisso caso queiram ter os anos cinco, seis…”

“Jornal aponta débito social e estabilidade”, copyright Folha de S. Paulo, 30/12/03

“Argentina ? Em reportagem de ontem, o jornal argentino ?La Nacion? fez um balanço do primeiro ano de governo Lula e afirma que a estabilidade econômica foi o maior êxito e que, paradoxalmente, a ação social foi o maior débito.

O diário diz que 2003 foi um ano de ?muitas surpresas? porque o PT realizou reformas criticadas pela esquerda, firmou um acordo com o FMI e fez um plano de ajuste econômico severo.

Na área social, o jornal afirma que ministérios sentiram dificuldades por causa do ajuste fiscal e demonstraram ?falta de capacidade de gestão?.

Outro destaque é o desemprego e o ?crescimento nulo?, afirmando que o ministro da Fazenda utilizou ?sua mão de médico para não ceder a pedidos de um pouco de heterodoxia?.”

“Para jornal, trabalhador está desapontado”, copyright Folha de S. Paulo, 31/12/03

De um lado da cidade de São Paulo, João Batista Andrade, que foi à posse de Luiz Inácio Lula da Silva, espera numa fila de desempregados. Ele se diz desapontado. Enquanto isso, na loja Daslu, uma senhora com seis ?criadas? elogia a atual ponderação do presidente. ?Cheguei a pensar que teria que me mudar para Miami.?

É assim que o jornal inglês ?Financial Times? resume o primeiro ano da gestão Lula, em reportagem a ser publicada na edição de hoje. Segundo o texto, a ?classe trabalhadora? está decepcionada: ?Ironicamente, foram os trabalhadores que pagaram o preço mais caro para ter um ex-sindicalista como presidente?. O jornal recorreu a Luiz Marinho, presidente da CUT, para obter esta declaração: ?O governo não dispõe das políticas necessárias para criar emprego e renda?.

O ?Financial Times? vem elogiando a atuação ortodoxa do governo. Às vésperas da eleição, no entanto, fazia previsões sombrias: ?Os males econômicos não foram provocados por Lula, mas são intensificados pela falta de fé em sua capacidade de gerir a economia. Todos os sinais de uma moratória próxima são visíveis?, disse em 15 de outubro de 2002.”

“Para ?Economist?, 1? ano de Lula frustra expectativa”, copyright O Estado de S. Paulo, 31/12/03

“A revista britânica The Economist traz nesta semana um balanço do primeiro ano do governo Lula e conclui que foi um período de quebra de expectativa, apesar das melhores perspectivas para a economia e da possibilidade de retomar o crescimento em 2004. Segundo a reportagem, o governo evitou uma crise econômica, mas os altos juros e o corte de gastos comprimiu salários e eliminou postos de trabalho. O texto destaca que o PT ?não escapou das surpresas de sua primeira experiência nacional? e que a política social foi ?confusa? e compara a virada do ano ao fim da primeira fase de um videogame, ou seja, virão novos e mais difíceis desafios.”

“Lula é popular sem cumprir promessas”, copyright Folha de S. Paulo, 03/01/04

“Espanha ? O jornal espanhol El Pais publicou, em sua edição de ontem, uma análise do primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva dizendo que o presidente brasileiro continua popular mesmo ?diante das dificuldades de colocar em prática algumas de suas promessas eleitorais, como criar novos postos de trabalho?.

O jornal destaca que 2003 terminou com mais desempregados, com perda no salário dos trabalhadores e sem a ?esperada reforma agrária?, que classifica como ?vital?. O El País também relata o sucesso do governo Lula na aprovação das reformas da Previdência e tributária e diz que, ?curiosamente?, as maiores realizações estão na área macroeconômica. Afirma ainda que, com as medidas econômicas adotadas, ?os mais felizes são os banqueiros e os poderes financeiros?.

Para o jornal espanhol, Lula ?teve problemas com os projetos sociais?. O texto cita o programa Fome Zero, que ficou preso à burocracia e é considerado por muitos empresários como assistencialista e não como ?estruturante?. A análise ainda comenta a expulsão de parlamentares do PT que criticaram o governo durante todo o ano: ?Lula encontrou os seus maiores opositores dentro de seu próprio partido?.”