Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Valor Econômico

QUALIDADE NA TV

FUTEBOL

"RedeTV! pode ficar fora da transmissão de jogos", copyright Valor Econômico, 12/02/01

"Na tarde desta sexta-feira, executivos da Rede Globo e Rede TV! estiveram reunidos para decidir sobre a manutenção do acordo de aquisição dos direitos de transmissão dos jogos da Campeonato Paulista, Copa do Brasil, Copa dos Campeões e Brasileirão.

No fim do ano passado, RedeTV! comprou os direitos da Globo, para replicar os jogos. No entanto, até agora, a emissora novata não teria conseguido atrair número suficiente de anunciantes para tornar a exibição dos jogos comercialmente rentável para a emissora.

Rumores de que a RedeTV! não teria quitado a primeira parcela prevista do contrato no prazo determinado, foram negados pelos representantes da empresa. Também foram rebatidas informações sobre a falta de estrutura técnica e pessoal capacitado para realizar a transmissão dos eventos esportivos.

Durante o encontro, a Rede TV! fez algumas propostas que, até últimas informações, seriam avaliadas pela TV Globo. A decisão sairia hoje.

Até o início da noite de sexta-feira, porém, algumas fontes davam conta de que a RedeTV! teria sido descartada e que a Globo estaria atrás de outras interessadas. Com isso, a TV Bandeirantes seria apontada como uma possibilidade.

Em dezembro, quando fechou o acordo com a TV Globo, Marcelo Carvalho, e vice-presidente da RedeTV!de televisão brasileira, disse em entrevista exclusiva ao Valorque aquela teria sido a maior batalha na televisão brasileira.

Com o negócio, ele previa grandes mudanças para a emissora, tanto em relação ao mercado publicitário quanto ao público. Na época, Carvalho sonhava com 180 jogos e mais de 4,5 mil inserções publicitárias, além da possibilidade de atrair e fidelizar um novo público para o canal. ‘Hoje somos fruto do zapping, amanhã seremos do hábito’, profetizava."

PORTO DOS MILAGRES

"Universo baiano para consumo na TV", copyright Valor Econômico, 13/02/01

"Num país predominantemente católico como o Brasil, novela que traz elementos do candomblé faz sucesso. Na nova novela das oito da TV Globo, ‘Porto dos Milagres’, de Agnaldo Silva e Ricardo Linhares, o orixá mais famoso, Iemanjá, é um dos protagonistas da trama, ao lado dos personagens de Marcos Palmeira e Flávia Alessandra. A história é inspirada no romance ‘Mar Morto’, do baiano Jorge Amado.

Elemento comum em novelas de Agnaldo Silva (autor de ‘Tieta’) e que também era explorado por Dias Gomes, o candomblé aparece fundido com o catolicismo – nosso sincretismo religioso. No primeiro capítulo, o personagem de Maurício Mattar, o pescador Frederico, pede a benção à Iemanjá. Seu amigo Leôncio (Tuca Andrada) se aproxima, toca a imagem do orixá e faz o sinal da cruz.

Mas por que ícones da baianidade como o negro, a capoeira, o candomblé e os pescadores – sempre bonitos e sensuais nas novelas – chamam tanto a atenção de um público em sua maioria católico e ainda um tanto preconceituoso em relação ao negro e às religiões africanas?

Segundo o sociólogo Reginaldo Prandi, autor de ‘Mitologia dos Orixás’ (Cia. das Letras), a admiração existe à medida em que o preconceito permanece. ‘O preconceito se manifesta conforme o público acha bonito, exótico, embora não queira fazer parte daquele universo’, explica. ‘É para ser consumido.’

Mas ao contrário do que possa parecer, o sociólogo acredita que se por um lado a novela estimula o consumo do exótico, por outro fornece dados para legitimar essas características socialmente. ‘As pessoas acabam se acostumando aos nomes dos orixás, por exemplo, e aquilo passa a fazer parte da vida delas.’ Que o diga Iemanjá, que é cultuada durante as festas de ano-novo até mesmo por quem nunca ouviu falar em Oxóssi, orixá da caça e um dos filhos da Rainha do Mar. Até na novela metade do elenco é filha de Iemanjá.

Prandi, que está preparando um livro sobre a presença dos orixás na música brasileira no século XX, diz estar achando a novela ótima. ‘Vai alavancar a venda do meu livro’, diz, rindo.

Quanto aos atores, a curiosidade sobre o assunto e a intimidade de alguns deles com o candomblé é notável. Marcos Palmeira, que vive Guma, pescador protegido de Iemanjá, porém filho de Oxóssi, conta que ainda não foi a um terreiro, mas tem vontade de conferir. Quanto ao fato de as pessoas gostarem de novelas desse tipo, diz: ‘Faz parte das contradições do povo brasileiro’. Como Prandi, ele acredita que as novelas contribuem para acabar com o preconceito.

Já Zezé Motta, que sempre telefona para Mãe Stella, na Bahia, para pedir conselhos, foi além: ‘Fiz uma oferenda a Oxum, que é meu orixá, para poder viver uma filha de Iemanjá na novela.’ Ela vai viver uma mãe-de-santo meio trambiqueira. ‘O lado bom é que ela não é mãe-de-santo 24 horas, ela tem uma vida fora do terreiro.’ Quanto à vida real, Zezé acredita que as pessoas que não têm intimidade com as religiões afro-americanas têm ‘medo da palavra macumba’.

Mais que colocar traços religiosos, a novela conta com uma atmosfera mística, que faz jus aos milagres do nome da novela e que é um traço marcante nas obras de Agnaldo Silva.

Tem até quem acredite que o fato de a novela ter essa característica fez com que acontecessem milagres na vida real. É o caso da novata Bárbara Borges, que vai viver Luiza, filha de pescadores. Ela já tinha feito vários testes para TV, mas algo lhe dizia que ‘esse ia dar certo’, conta."

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