Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Valorização da atividade multidisciplinar

FORMAÇÃO EM JORNALISMO

Iluska Coutinho (*)

Há muito se fala em interdisciplinaridade como um possível caminho a ser percorrido nos cursos de Comunicação Social/Jornalismo, no caráter multi ou transdisciplinar da Comunicação como área de estudos. Na maioria das vezes, porém, esses discursos, freqüentes em congressos e projetos pedagógicos, são mais escassos em sua dimensão prática, cotidiana.

Essa perspectiva de integração entre diversos campos de conhecimento também é direção central do doutorado em Comunicações oferecido pela Columbia University, em Nova York. O "Doctor of Phylosophy degree" (PhD) é oferecido pela Escola de Artes e Ciências e administrado pela Escola de Jornalismo, em parceria com as escolas de Administração (Business), Direito e Engenharia/Ciências Aplicadas.

O programa de doutorado da Columbia inclui quatro especialidades ou concentrações, linhas de pesquisa: Jornalismo e vida pública; Impacto social da mídia; Economia e regulação das comunicações e Sistemas informacionais e tecnológicos. Os alunos do doutorado fazem cursos e disciplinas nas quatro áreas, embora desenvolvam sua concentração em apenas uma delas.

Se o mestrado aqui tem caráter profissionalizante, no doutorado a perspectiva é essencialmente acadêmica. "O programa interdisciplinar oferece oportunidade e preparação única para os estudantes que desejem se envolver em pesquisa e ensino de comunicação em faculdades e universidades e ainda para carreiras de pesquisa em instituições governamentais e autônomas", promete o material de apresentação. Também no Brasil essa parece ser a vocação fundamental dos cursos de doutorado em Comunicação, mas os pré-requisitos para se tornar um doutor são diferentes nos dois países.

Nos Estados Unidos, os cursos de PhD são uma opção para os estudantes que concluem o college: em termos gerais, isso é equivalente ao fim de um de nossos bacharelados. O doutorado se tornaria uma alternativa de curso de pós-graduação, da mesma forma que o mestrado, que em grande parte das escolas de Jornalismo tem uma perspectiva mais profissional.

Ambiente regulatório

Assim, também a estrutura dos cursos tem diferenças nos dois países. Se no Brasil o doutorado é marcado pelo desenvolvimento do projeto de estudo de cada aluno, com mais ênfase nas atividades de pesquisa do que nos créditos acumulados em cursos e seminários, aqui o estudante de doutorado deve cumprir 54 créditos ? em média dois anos de estudos, com quatro ou cinco matérias por semestre ? para iniciar seu projeto de pesquisa, sua tese.

A definição dos cinco cursos obrigatórios fundamentais (core courses) evidencia a perspectiva do trabalho de cooperação entre vários campos de estudo. Se os alunos devem cursar duas disciplinas na Escola de Jornalismo (Seminário em comunicações/Critical issues e Impacto social dos meios de comunicação de massa), também são exigidos créditos nos departamentos de Administração (Gerenciamento de Informação, Comunicação e Mídia); Política (Comunicação de massa no governo americano) e Engenharia (Telecomunicações e sistemas técnicos de comunicações).

No Brasil, esse tipo de associação, no que se refere aos estudos de pós-graduação em Comunicação, é mais freqüente nas instituições públicas, especialmente nas universidades federais, como a UnB. Não é sem saudade que me recordo da "exigência" de cursar pelo menos oito créditos em disciplinas de "domínio conexo", no meu caso nos mestrados de Ciência Política e Administração.

Hoje, essa perspectiva de trabalho entre departamentos e faculdades, em Brasília, é responsável pelo funcionamento de um curso de pós-graduação (especialização) na área de Telecomunicações e Regulamentação. Afinal, se o governo brasileiro importou dos Estados Unidos o modelo de regulação das telecomunicações em uma agência, inspirando-se na FCC para criar a Anatel, essa aproximação também poderia ocorrer na formação de profissionais, pesquisadores, pessoas capazes de entender e refletir o chamado "ambiente regulatório".

(*) Jornalista, mestre em Comunicação (UnB), doutoranda da Umesp e professora da Faesa/ES, atualmente é pesquisadora associada da Columbia University, com bolsa sanduíche Capes