QUALIDADE NA TV
FOGO NO XUXA PARK
"Vênus chamuscada", copyright Veja, edição 1684, 24/01/01
"A principal atração das manhãs de sábado da Globo, o infantil Xuxa Park, transformou-se em intrincado enredo policial. O incêndio, que há duas semanas arrasou o cenário do programa, embaçou a imagem de competência da emissora. Suspeita-se que a tragédia tenha sido causada por falhas no sistema elétrico do estúdio, em seu moderníssimo centro de produção do Rio de Janeiro, o Projac. Mais de oitenta pessoas tiveram de ser atendidas em hospitais da região. Desse total, doze foram feridas com gravidade e duas delas continuam correndo risco de vida. As causas precisas do acidente ainda não foram determinadas pela perícia, mas o laudo, a ser concluído nesta semana, aponta vários problemas na segurança. A primeira delas é a escolha do material usado pela cenografia. Era inflamável e com acelerada velocidade de combustão. Uma temeridade num local em que há eletricidade em alta voltagem e lâmpadas muito quentes. Descobriu-se também que havia emendas nos fios, protegidas por fita isolante. Quando se lida com cargas elétricas elevadas, improvisos como esse podem ser fatais. Se não forem bem-feitas, dizem os especialistas, as emendas podem provocar superaquecimento e causar curto-circuito. Essa é a hipótese até agora considerada mais provável.
A maior angústia vivida por quem estava no estúdio foi o resgate das crianças. As mães, sem achá-las do lado de fora, tentavam entrar, mas eram impedidas pela produção. O caso mais dramático foi o da menina Thamires Vallejo, de 7 anos, que ficou presa a uma das cadeiras da roda-gigante. A polícia suspeita que o fecho da barra de proteção tenha dificultado o resgate. Nesse caso, o excesso de zelo, até louvável, teria criado uma arapuca. Cinco pessoas tentaram tirar Thamires, sem sucesso. Somente um sexto homem, da brigada de incêndio da Globo, conseguiu salvá-la. Thamires, a última a sair do estúdio, foi retirada quando o local já estava completamente tomado pela fumaça tóxica liberada por materiais sintéticos. Ela e outras seis pessoas sofreram queimaduras graves nas vias respiratórias, que ficaram impregnadas por uma espécie de resina. Todos receberam apoio irrepreensível da emissora, que mandou buscar os melhores especialistas em casos de queimados, inclusive estrangeiros. A Globo montou equipes permanentes para o atendimento às famílias das vítimas e liberou os médicos para gastar quanto for necessário.
Mesmo com todo esse cuidado, não faltaram tropeções na operação. Num dos comunicados, dos vários que veiculou, a empresa comunicou que o principal herói da noite havia sido o segurança particular de Xuxa, Leonilson Vieira de Oliveira, de 47 anos, que teria arrancado por fim a menina Thamires do brinquedo. Não foi, conforme revelou a VEJA um diretor da própria emissora, na semana passada. Isso em nada desmerece o gesto heróico de Oliveira, que arriscou seriamente a vida para salvar uma criança. Mas permitir que se difunda a versão equivocada de que o herói da noite estava entre os integrantes da segurança pessoal da apresentadora soa como um expediente desnecessário. Essa foi a quarta vez que um incêndio atingiu as instalações da Globo no Rio, o primeiro no Projac. Multiplicam-se casos como esse por outras emissoras ao longo da história da televisão. Acidentes acontecem. Por isso, deve-se estar preparado para as medidas de emergência. Isso evitaria que pessoas da segurança ou espectadores, como o adolescente Flávio dos Santos, de 15 anos, precisassem envolver-se na operação de salvamento. É no terreno da precariedade que costumam florescer os heróis."
"Xuxa ainda não recebeu intimação", copyright Jornal do Brasil, 24/01/01
"A Polícia ainda não formalizou a intimação para que a apresentadora Xuxa preste depoimento sobre o incêndio que destruiu o estúdio F do Projac e deixou várias pessoas feridas. Segundo o delegado Zaqueu Teixeira, titular da 32ª DP (Jacarepaguá), a apresentadora teme que haja confusão durante o depoimento devido ao assédio de seus fãs. Ontem, o policial ouviu declarações de vítimas do incêndio e de funcionários da brigada contra incêndio do Projac. Segundo Zaqueu, as famílias que representaram contra o incêndio terão de aguardar a conclusão do inquérito para dar continuidade ao processo. Poderão, inclusive, cobrar indenização da Rede Globo.
Entre as vítimas ouvidas ontem pelo delegado, Mary Zoé Leal, de 47 anos, disse que teve dificuldades para encontrar a porta de saída. Ela estava na arquibancada (platéia) com a filha Taís, de 10 anos, e, como o local ficou tomado pela fumaça, precisaram da ajuda do pessoal da brigada para deixar o local. Mary disse que não viu as luzes de emergência, embora elas estivessem acesas. Segundo avaliação de Teixeira, a iluminação de emergência não funcionou por causa da fumaça negra. ”A fita do incêndio mostra a fumaça subindo e impedindo inclusive a visão do fogo”, explicou.
O delegado ouviu ainda a depiladora Magda Oliveira Giacomo, 41 anos, e a filha dela, Mayla, de 11 anos. Magda contou que a menina ainda tem pesadêlos sobre o acidente no Projac. ”Quando ela come, sente náuseas e enjôo. Só melhora depois de tomar analgésicos”, explicou. Ela disse que não vai entrar com ação contra a Rede Globo, porque acredita que tudo não passou de um acidente. Ela disse que prefere esperar a apuração das responsabilidades para ver que providências tomar.
Alta – O palhaço Renato Ferreira da Silva, o Topetão, de 30 anos, deverá ter alta hoje do Hospital Barra DOr, onde está internado. Outras vítimas que apresentaram melhoras e que também poderão receber alta nas próximas horas são Silvana Oliveira de Souza, de 38 anos, e Flávio Olímpio dos Santos, de 15 anos. Ainda inspiram cuidados, o segurança Leonilson Vieira de Oliveira, 47 anos, que continua na Unidade de Terapia Intensiva, e Maria Cristina Resende Araújo, 36 anos. Segundo os médicos, o estado de saúde de Leonilson está evoluindo satisfatoriamente. Maria Cristina já está na Unidade Semi Intensiva."
"Médicos proíbem visitas de Xuxa de madrugada", copyright O Globo, 22/01/01
"A apresentadora Xuxa Meneghel terá que mudar os horários de visita aos feridos no incêndio ocorrido durante a gravação do programa ‘Xuxa Park’. Por determinação dos médicos, a visita será feita às 22h. A apresentadora poderá ficar apenas cinco minutos e não mais meia hora como fazia antes. De acordo com a equipe médica do Hospital Barra D’Or, as visitas, que estavam sendo feitas por volta das 2h por medida de segurança, deixavam os pacientes estressados, já que demoravam a dormir à espera de Xuxa.
O estado de saúde de algumas vítimas internadas no Barra D’Or melhorou. Renato Ferreira Silva, o palhaço Topetão, deverá ter alta na quarta-feira. Maria Cristina Resende Araújo, de 36 anos, deixou ontem o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e foi transferida para a unidade semi-intensiva. Ela já pode receber a visita da filha, Mariana, também ferida no incêndio.
O segurança de Xuxa, Leonilson Vieira de Oliveira, de 47 anos, continua internado no CTI do Barra D’Or em estado grave. Leonilson sofreu queimaduras nas vias respiratórias e foi submetido a mais uma broncoscopia. Segundo os médicos, o resultado do exame foi positivo, revelando que o pulmão está com bom aspecto.
Outra vítima do incêndio que continua internada em estado grave é a menina Thamires. Ela está no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital da Aeronáutica. Há quatro dias, ela foi submetida a uma cirurgia para enxerto de pele. Conforme o boletim divulgado ontem pela manhã, Thamires permanece febril e fazendo uso de antibióticos. As infecções cutânea e pulmonar estão sob controle. A menina está sedada e respira com ajuda de aparelhos."
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