Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Veja

O CLONE

"Aroma de México", copyright Veja, 24/10/01

"Na novela das 8 da Rede Globo, O Clone, Yvete é o tipo de mulher que anda com a imagem de Santo Antônio na bolsa para ver se agarra um homem. Ela só se mete em encrenca. Quando decidiu ter alguns momentos de prazer com um garotão mais jovem, escolheu, desavisadamente, o filho de seu namorado. Acabou escorraçada por ambos, e agora se esforça para cair de novo nas graças do ex-amado. Seu destino, pelo menos por enquanto, é ficar sozinha. Espalhafatosa, Yvete é um dos esteios cômicos da trama. E a direção da novela lhe deu uma pimenta a mais tendo a idéia de escalar Vera Fischer, com todas as curvas que Deus lhe deu e o silicone ampliou, para interpretar o personagem. Vera fazendo o papel de encalhada? Pois é. ?A Yvete é uma anti-heroína?, diz ela. ?E eu estou achando ótimo dar um tempo nas personagens superpoderosas de sempre.? Em seu trabalho anterior, Laços de Família, ela era a protagonista disputada por três galãs – José Mayer, Reynaldo Gianecchini e Tony Ramos.

Vera não é nem mesmo a principal personagem feminina de O Clone. As atrizes Giovanna Antonelli e Letícia Sabatella têm tido mais tempo no vídeo do que a loiraça. Elas vivem as muçulmanas Jade e Latiffa, respectivamente, e volta e meia bancam as odaliscas. Estranhamente, Yvete, que está mais para o Sambódromo do que para o palácio de Saladino, também deu para fazer a dança do ventre na semana passada. A cena não fez o menor sentido, mas ninguém reclamou. Recentemente, a atriz se submeteu a um regime e perdeu 13 quilos. Com os atuais 63, ainda faz sonhar os marmanjos. Ela chega aos 50 anos no mês que vem. Jura que seu rosto continua intocado por um bisturi e assim deve permanecer. Como na novela, está sem namorado. ?Outro dia, um cara me seguiu no shopping e pediu meu telefone. Devolvi os olhares até perceber que ele tinha aliança no dedo. Que absurdo!?, indigna-se. É impressionante como Vera Fischer mudou.

O Clone vai bem de público, que não está nem aí para a sua trama estapafúrdia. Mas já virou motivo de comentários a falta de cuidado com a produção da novela. A iluminação, por exemplo, é das piores que já se viu. Não tem nuances e tinge todos os ambientes de um tom alaranjado. Além disso, nos closes, realça (quando não aumenta) as imperfeições de pele dos atores. Nos casos de Giovanna Antonelli e de Vera Fischer, o trabalho de iluminação é particularmente desastroso. O rosto da primeira, de tão cheio de crateras, mais parece uma praça bombardeada de Cabul, a capital afegã. Quanto a Vera, ela deveria estar fula da vida com o que estão fazendo com o seu pescoço. Quando a iluminação é ruim, não há maquiador que faça milagre. No tempo de Boni, uma novela da Globo jamais teve esse tipo de problema. Os desleixos técnicos levam a crer que O Clone representa mais um passo da emissora rumo à mexicanização de seus produtos."

 

"Árabes e dramalhão dão ibope a ?O Clone?", copyright Folha de S. Paulo, 21/10/01

"Um amor proibido, impedido por culturas diferentes e que ainda vai demorar para se concretizar, mais o futuro nascimento do primeiro clone humano da novela brasileira e -não podia ser mais propício no momento- a exposição da cultura muçulmana.

São esses os ingredientes que estão garantindo o sucesso de ?O Clone?, novela das oito da Globo que estreou no começo do mês. Até o meio da última semana, a trama tinha média de 42 pontos. ?Laços de Família?, um dos maiores sucessos da emissora nos últimos tempos, amargou médias de 38 nas primeiras semanas.

?O Clone? tem tido índices semelhantes aos primeiros capítulos de ?Terra Nostra? (1999), que alavancou a audiência das novelas das oito da Globo. Ambas alcançaram um ?share? (índice de televisores sintonizados em um canal, entre o total de aparelhos ligados) de 59%.

?Acho que estamos contando uma boa história, com um elenco competente, produção e direção impecáveis. É um novelão, como antigamente, bem no estilo da minha mestra, Janete Clair. O sucesso de ?O Clone? mostra que a receita dela continua funcionando?, diz a autora da história, Glória Perez.

De fato, a trama ?tradicional? e básica parece ser o que agrada ao telespectador. A novela das sete, por exemplo, apesar de contar com um elenco de estrelas -como Fernanda Montenegro-, não tem conseguido bons índices no Ibope com sua trama e linguagem inovadoras.

??O Clone? é recheado de arquétipos, temas básicos, familiares ao telespectador?, afirma Mauro Alencar, doutorando em telenovelas pela USP. ?Sua espinha dorsal é a mesma de uma trama mexicana. É o que agrada à audiência.? Realmente, é impossível não se lembrar de uma das novelas exibidas pelo SBT quando Jade (Giovana Antonelli) e Lucas (Murilo Benício) dizem que se amam e vão casar logo no segundo diálogo que traçam -e com alguém cantando ?Somente por amooor…? ao fundo.

Além disso, a novela tem a seu favor tratar da cultura muçulmana, assunto em voga. ?Acho que o público sempre teve muita curiosidade a respeito desse universo. E pode ser que os últimos acontecimentos tenham acirrado a curiosidade?, diz Glória Perez.

Para a coordenadora adjunta do Núcleo de Telenovelas da USP, Maria de Lourdes Motter, o ponto alto de ?O Clone? foi trazer a cultura muçulmana para uma realidade brasileira. ?Jade cresceu no Brasil e, de repente, muda-se para Marrocos e tem de se acostumar com outra cultura, outras regras?, diz.

E a novela ainda promete, com o surgimento do clone de um dos personagens. ?Histórias com dois personagens iguais, como gêmeos ou sósias, sempre faz muito sucesso?, diz Mauro Alencar.

Claro que não dá para esquecer de presenças como a de Vera Fischer, uma das responsáveis pelo sucesso de ?Laços de Família?. Ela é garantia de ibope, agora na pele de uma mulher levemente vulgar, que já nos primeiros capítulos se envolveu com pai (Reginaldo Faria) e filho (Murilo Benício, desta vez como Diogo). Isso porque o clone ainda não nasceu."

    
    
                     
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