ENSINO PÚBLICO
Sergio Luiz do Prado
1) Positivo
Eu achei que foi muito legal porque nois todos feis lisos so eu e mais augues que não feis lisão mais profesora eu só não fiz lisão porque eu estava sem o livro se eu estava com o livro eu tinha feito liçao poriso que eu não faso porque eu estou sem livro profesora, Mais só no comesce do ano que eu fui bem depois chegou no meio do ano que eu fui bem depois cheguei no meio do ano eu comesei a bagunsa dai depois eu perdi o livro e ler não faso mais lições porque eu não tenho livro agora eu estou dano uma melhoradinha.
Negativo
Eu achei que eu fui um iresponsavéu porque eu perdi-o livro daí eu não faso mais lição porque a lição que a profesora pasa e tudo do livro daí eu não tenho livro e ninguém impresta daí eu não faso mais lições porque eu perdi o livro se eu estava com o livro eu tinha. Recuperado tudo que eu não tinha feito eu bagunsei um pouco e eu acho que na materia de história eu fui um fracaso porque eu não fis nada só augumas coisinhas.
2) Positivo
Ler, escreve fazer lição os aluno presta mais atenção na aula Positivo a Professora te mais paciênsa os alunos senteresa mais pelas aulas se esforça para aprente cada vez mais
Negativo
Não fala alto enconto a profesora esprica a matera não joga lixo no chão não brigar não arruma confusão não bate nós colega de classe não teraula carteira no chão não corre na sala de aula não joga papel nos outros colegas não cutuca seus colegas com a caneta fica com brincadeiras sem graças com colegas não pula nas carteiras fica conversando atrapalhando a aula joga bolinha de papel nos colegas.
3) Positivo
Eu vou para a escola a professora faz chamada e eu responto e faso lisam não baguso. Quanto dé o sinal eu pego o caderno serto e fico sendado esperando a professora da a lisão Quando a professora esplica a lisam e eu predo atenção para eu saper porque se aguem pergunda eu vou saber e não vou se buro e se você não saper você pode ate repetir poque se você repetir as criança que estam atrás de você ela vam te alcança
Negativo
Você não vai para a escola você figa bagunçansto e não faz lisam de casa e na escola e fica com NS e repete todo o ano e seus amigo cada vez vam te passando e cada vez mais você fica muito buro e você pedi ser dispensado pela diretora e nunca você vou saber nada é se auguem te pegunda na onde você mora você vai ficar com mau vergonha é você trabalha. Não e você saber ler não e pelo menos você sabe ler não e que você o sabe fazer nada. Da vendo não é para a escola.
4) Positivo
A lição que a sinhora pasou para nós eu achei legal depois das brigas casinhora eu ache positivo as liçoes que você passou, eu achei legal também aquela lição que você passou "As rebeliões da Colônia" só o que eu achei mais positivo foi as questões que você passou e eu aprendi muito com você os textos eram muito bons e tudo que você pasou foi positivo.
Acima, transcrições fiéis ? se o corretor automático não corrigiu uma ou outra coisa ? de textos de crianças da 5? série do Ensino Fundamental em escola pública municipal de São Paulo. Nunca repetiram de ano por conta da progressão automática.
A professora solicitara que escrevessem o que tinham achado positivo e negativo na disciplina de História e no comportamento da professora. Repetiu a orientação até quedar exausta. Mas recebeu muitas cópias do dicionário do significado das palavras positivo e negativo ou então textos que diziam: "Positivo é S, negativo é NS".
Da quase centena de "trabalhinhos" que li, menos de uma dezena eram plenamente possíveis de se compreender, com mínima transmissão de idéias. Todos os outros eram tais quais os transcritos acima, quando nada raramente piores.
Mas a Sra. Rose Neubauer [secretária de Educação do Estado de São Paulo] diz que a repetência é que provocou o péssimo desempenho dos alunos brasileiros no Pisa. Se ela lesse os textos acima, provavelmente diria que a culpa é dos professores.
Não sei de quem é a culpa, e não tenho nem mesmo como dizer se a progressão automática é válida ou não. Se tal prática fosse adotada de maneira coerente, estudada, em condições propícias para isso, poderíamos analisar sua viabilidade. Da maneira como é aplicada, no entanto, não passa de uma simples ferramenta de economia do setor público: garantem-se vagas. Isso tudo porque, mais uma vez, temos uma lei imposta goela abaixo, sem a participação da população nem mesmo dos profissionais da área. Uma lei vã, hipócrita, que serve a interesses privados. Muitos sabem que a nova LDB é uma bomba-relógio que explodirá num futuro não tão distante, mas não estão preocupados com o fato.
Sempre estudei em escola pública. Mesmo a faculdade cursei em uma autarquia subsidiada pelo município de Santo André. Não sou nenhum Machado de Assis ? à exceção pelo prazer em escrever ? e nem conheci algum José de Alencar. Mas, quando cursei a 5? série do então primeiro grau, todos em minha sala de aula sabiam escrever. Com pequenas falhas na pontuação, com um ou outro erro ortográfico… Mas com as idéias, as inocentes idéias de crianças de 11 anos, coordenadas, encadeadas, concatenadas.
Tive, também, uma amarga experiência numa sala noturna de Ensino Médio, com companheiros de classe incapazes de ler textos contidos em livros didáticos, de montar no papel a mais elementar regra de três ou de fazer uma conta de divisão ou multiplicação com mais de dois algarismos.
Sem palavras
Agora, estou quase iniciando uma carreira docente em escola pública, justamente para o Ensino Fundamental II. Estou feliz, ansioso, mesmo sabendo do salário transformado em esmola, das péssimas condições de trabalho, das constantes ameaças de agressão ou do risco de morrer com uma chave enfiada na testa como recentemente ocorreu com um professor numa escola de São Bernardo do Campo.
Agora, acrescento que estou também preocupado, receoso, sem saber o que vou fazer com crianças que ainda não aprenderam a ler direito. Que faço? Uso o tempo para tentar alfabetizá-las ou para aplicar os conteúdos de minha disciplina?
Repete-se hoje incessantemente na escola pública que o importante não é o conteúdo, e sim formar cidadãos. Não entendo muito bem as intenções dessa frase, mas só sei que estamos formando simulacros de cidadão. Como estas crianças, que em 2005 estarão no Ensino Médio, desesperados atrás de um diploma ? mesmo que tenham aprendido pouco além de escrever e ler o próprio nome.
Depois, ainda na busca de um canudo, quererão ingressar numa faculdade. Que lhes restará? Instituições privadas, preocupadas unicamente em receber mensalidades e cobrar taxas por qualquer informação ou qualquer documento.
Discernimento? Essa palavra, brevemente, será abolida do dicionário das escolas brasileiras.
Não sei mais o que dizer.
(*) E-mail <sergioprado@hotmail.com>