Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Verdades nada agradáveis

INGLATERRA

"Fiquei chocada com a surpresa dos americanos frente ao ódio contra eles em todo o mundo", disse Yasmin Ali-Brown no dia 13 de setembro, no programa Question Time, da BBC. O auditório ao vivo respondeu com aplausos efusivos. Aí começou o show extremamente controvertido, uma polêmica ainda em discussão em toda a Inglaterra.

Question Time é um programa pouco popular na TV inglesa, com audiência fiel, porém pequena, no qual um grupo de especialistas responde a perguntas da platéia. O tema do programa no dia 13 foi provocativo: os desdobramentos do ataque terrorista aos EUA. A audiência praticamente dobrou, segundo Kiko Itasaka [NBC News, 1/10/01].

Enquanto muitos na platéia demonstravam compaixão e indignação em relação à tragédia, perguntas difíceis eram endereçadas ao americano da equipe de especialistas, Philip Lader, ex-embaixador da Grã-Bretanha nos EUA. Nick Halpern, estudante de Direito, perguntou: "As explosões nos EUA representam uma falha na política externa americana, com milhões e milhões de pessoas de todo o mundo desprezando a nação americana?"

Em seguida, foi a vez de uma jovem árabe: "Quando o presidente Bush falou sobre os terroristas e aqueles que o apóiam, ele considerou em algum momento o fato de que uma das razões pelas quais o mundo despreza os EUA é porque encara Israel como terrorista, e a América como uma força que apóia Israel?"

Após uma enxurrada de perguntas similares, Lader, choroso, disse achar "doloroso que alguém ache que a maior parte do mundo despreze os EUA". E acrescentou: "Só posso dizer que me magoa saber que é possível que nesta noite, 48 horas depois, por causa da intensidade das emoções em assuntos políticos, possamos deliberadamente abstrair o sofrimento sem sentindo de seres humanos." O americano quase não pôde terminar seu discurso emocionado, porque o auditório começou a gritar opiniões antiamericanas.

Após o show, milhares de espectadores telefonaram à BBC insistindo em que a emissora pedisse desculpas. O fato de até hoje o programa estar sendo discutido, inclusive por pessoas que não o viram, só tem uma explicação: Question Time trouxe à tona algumas verdades doídas. Não são apenas muçulmanos extremistas que não gostam dos EUA. Na Europa, há um consenso geral de que o país, de certa forma, provocou os ataques por sua política externa ou seu imperialismo cultural.

Em resposta às muitas reclamações, Greg Dyke, diretor-geral da BBC, desculpou-se em comunicado oficial: "Houve muitos momentos nos quais o tom foi pouco apropriado."

IRLANDA DO NORTE

No dia 29 de setembro, um grupo protestante irlandês assumiu ter matado a tiros, diante da mulher, o jornalista católico Martin O?Hagan. Foi o primeiro assassinato de profissional da imprensa na história do conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, que já dura 30 anos. Um acordo de paz está oficialmente em vigor desde 1998, mas a Grã-Bretanha não consegue manter o cessar-fogo.

Um representante do grupo Red Hand Defenders disse à BBC que O?Hagan foi assassinado por "crimes" contra ativistas protestantes. O jornalista ganhou nome, afirma a Associated Press, em matéria de 29/9/01, por relatar assassinatos, tráfico de drogas e outros crimes do chamado submundo paramilitar protestante. Segundo Shawn Pogatchnik, da AP, a polícia disse que O?Hagan foi morto por um homem armado num carro em movimento. O veículo foi encontrado mais tarde em chamas, longe da casa do jornalista.

Apesar das muitas ameaças, jornalistas nunca foram alvo de atentados. O?Hagan trabalhava no tablóide Sunday World, em Dublin, tendo saído da Irlanda do Norte depois que uma bomba explodiu na redação do jornal em Belfast, em 1993. "Obviamente, como um jornalista destemido e secretário do Sindicato Nacional de Jornalistas em Belfast, um ataque a alguém de seu nível é um ataque à liberdade de expressão e de imprensa", disse Jim McDowell, editor de O?Hagan.

    
    
                     

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