RÁDIOS COMUNITÁRIAS
Gustavo Barreto (*)
A ONG carioca Viva Rio <http://www.vivario.org.br> tem um projeto belíssimo e extremamente atuante chamado Viva Favela <http://www.vivafavela.com.br> e uma vasta rede de solidariedade, onde se incluem as rádios comunitárias. É um projeto único no Brasil e devemos muito aos seus organizadores, estes valentes lutadores. Em parceria que surpreendeu a muitos, decidiu reproduzir os programas da Rede Globo <http://www.redevivafavela.com.br/tvglobo> nestas rádios, espalhadas por todo o país, como noticiou o Centro de Mídia Independente <http://prod.midiaindependente.org/pt/blue//2003/06/257083.shtml> e o próprio Viva Rio.
Sou eu que estou maluco, ou o sentido da rádio comunitária se perdeu completamente? Na minha visão, rádios comunitárias têm duas funções muito importantes (não apenas, é claro, mas também): 1) Ampliar a diversidade da mídia; 2) Fortalecer uma comunidade com programas locais, feitos por e dirigidos para a própria comunidade.
A própria Anatel, envolvida em diversos erros e que persegue muitas rádios comunitárias, menciona o conceito do "local".
Estamos falando, no entanto, da reprodução de programas da maior empresa de comunicação do país ? no Rio Janeiro é maior ainda. E tem mais: não se trata de programas como Globo Ecologia ou os da TV Futura, e sim daqueles que têm grande audiência, como Zorra Total, Vídeo Show e Xuxa no Mundo da Imaginação, entre outros.
Com minúsculas
De que forma isso ajuda a diversidade cultural? Que benefício resulta para as comunidades ouvirem nas rádios locais ? que destacadamente têm muito alcance ? curiosidades sobre novelas e os programas da Globo no Vídeo Show ou as vinculações do programa da Xuxa?
Aliás, Zorra Total e o show da Xuxa são citados no relatório federal Ética na TV <http://www.consciencia.net/midia/01/eticanatv.html> a partir de reclamações recebidas pelo 0800.
Respeito e prezo muito esta belíssima resistência que é o Viva Favela, mas ainda não entendi o conteúdo positivo desta parceria. Trata-se, a meu ver, de vitória do senhor Roberto Marinho e de seus filhos para perpetuar a influência já assustadora da rede no Rio de Janeiro e no Brasil.
É preciso notar que a intenção do Viva Favela de permitir "maior interatividade entre o local e o global" pode acabar impondo ao local a cultural "global" ? com perdão da ambigüidade ?, desrespeitando comunidades de todo o Brasil. Estas, a meu ver, serão invadidas pela já conhecida programação fútil do Sr. Marinho. Mais do que já são.
A comunicação e a cultura de nosso país merecem, hoje, ser escritas com letras minúsculas.
(*) Estudante de Jornalismo, editor da revista Consciência.Net