Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Vítima da vítima

THE PROVIDENCE JOURNAL

Acusações de violência doméstica são um dos aspectos menos saborosos do já pouco apreciado jornalismo policial. Karen Lee Ziner, repórter do Providence Journal, que o diga. Em maio, quando lhe solicitaram uma reportagem dessa categoria, obteve um laudo policial e escreveu o que lá dizia: uma mulher foi espancada com um martelo e encontrada nua no chão de seu apartamento, em Providence, cidade de Rhode Island, EUA.

Tudo estava muito claro. Depois, ficou menos claro. Um segundo laudo dizia que a vítima foi apenas parcialmente desnudada. Com isso, a vítima deu início a uma campanha contra Karen Ziner, exigindo a saída da experiente repórter da cobertura de seu caso.

Felicity Barringer [The New York Times, 20/8/01] conta que é comum entre protagonistas de coberturas noticiosas a tentativa de ditar quem pode ou não cobrir seu caso ? é só perguntar a qualquer estrela de Hollywood. Em 26 de julho, o jornal publicou uma correção, dizendo que a vítima "afirmou que não estava nua".

Joel P. Rawson, editor-executivo do jornal, resistiu, mas acabou afastando a repórter do caso. E esclareceu que o problema não está na reportagem de Karen. "Ela fez um bom trabalho", afirmou. "Mas não queremos nos meter numa briga pública com uma vítima de crime." Segundo Rawson, tal conflito daria à assembléia legislativa do estado uma desculpa para manter longe do público alguns laudos policiais. Karen não concorda com o raciocínio do editor. "Não acho que se deva arrancar um repórter de um caso baseando-se no medo de que alguém possa abrir processo com alegações sem fundamento", disse. "Senti-me completamente vendida."

Em carta recente à redação do Journal, Rawson disse discordar da decisão de afastar Karen. "Isso passa uma perigosa mensagem ao público: alvos de reportagens podem intimidar a administração do Providence Journal e remover repórteres de seus casos, independentemente da validade do que foi publicado", dizia a carta.

VARIETY

Peter Bart, editor-chefe da Variety, principal publicação da indústria de entretenimento americana, foi suspenso no dia 17. Poderoso e controvertido em Hollywood, Bart está sob investigação da Cahners Business Information, proprietária da Variety, por agir "de forma imoral e usar linguagem racista, sexista e homofóbica".

A suspensão foi anunciada após a publicação de uma reportagem de capa do Los Angeles Times, que afirmava que Bart tentou vender um roteiro de filme quando já ocupava cargo na Variety, uma violação da política sobre conflitos de interesse do jornal. A matéria também o acusa de alterar reportagens de sua equipe para favorecer amigos, muitos deles da época em que era um executivo de estúdio.

Além de editor, Bart era o principal colunista da Variety, cuja circulação é de apenas 36 mil cópias, mas é lida praticamente por todos do setor, relatam David Shaw e Rachel Abramowitz [Los Angeles Times, 18/8/01].

    
    
                     

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