A Amazônia é nossa
O governo finalmente vai dar uma resposta ao temor de setores das Forças Armadas e ao persistente mito urbano segundo o qual o Brasil já perdeu a soberania sobre grande parte da Amazônia.
Um grupo de trabalho formado por representantes da Advocacia Geral da União, Conttroladoria Geral da União e Agência Brasileira de Inteligência vem há quatro meses estudando a criação de um novo Estatuto do Estrangeiro que, entre outras medidas, vai propor um controle mais rigoroso sobre a atuação da Organizações Não-Governamentais.
A reportagem do Estado de S. Paulo sobre o assunto não especifica que tipos de restrições serão criados, mas uma declaração do ministro da Justiça, Tarso Genro, colhida pelo jornal, anuncia a possibilidade de grandes mal-entendidos no futuro.
Segundo o ministro, muitas ONGs estrangeiras ‘escondem nteresses ligados à biopirataria e a tentativas de influenciar a cultura indígena para apropriação velada de determinadas regiões, o que pode ameaçar a soberania nacional’.
O governo admite que não tem controle sobre as vendas de terras na Amazônia e não sabe quanto do território está em mãos de estrangeiros, mas isso não é novidade.
O governo também não sabe quantas propriedades em nome de brasieiros tiem documentação autêntica.
A realidade amazônica é a da ocupação, da grilagem e das titulações fraudulentas que envolvem até mesmo grandes empresas.
O novo estatuto não vai tocar na questão da documentação das terras.
Apenas vai tranquilizar as Forças Armadas quanto à ação das ONGs, principalmente daquelas que atuam em regiões próximas das fronteiras.
Quando as novas regras estiverem definidas, as organizações dedicadas à questão ambiental precisarão de autorização do Ministério da Defesa e Licença do Ministério da Justiça para atuar em qualquer área do País.
Segundo fontes militares citadas pelo Estadão, das 250 mil ONGs regulamentadas no Brasil, 100 mil atuam na Amazônia e 29 mil recebem recursos federais, que em 2007 chegaram a 3 bilhões de reais.
Embora a história de que a Amazônia está sendo fatiada por estrangeiros disfarçados de missionários seja um conhecido mito urbano, o governo precisava mesmo colocar alguma ordem na confusa situação de ambientalistas, pesquisadores, aventureiros e piratas que se misturam em comunidades da Amazônia.
O risco é que fazendeiros, garimpeiros e outros desmatadores aproveitem as novas regras para afastar dali os agentes sociais que realmente atuam na defesa da floresta e das populações indígenas.
Os maiores inimigos da Amazônia, pelo que se sabe, são brasileiros da gema.
Superprodução
O caso da morte da menina isabella Nardoni já deixou de ser um espetáculo mórbido, uma novela de apelativo mau gosto, para se tornar uma superprodução do gênero.
Aqueles que ainda esperavam um sinal de racionalidade no trato público da tragédia achavam que já tinham visto de tudo.
Pois tem mais: a polícia teve que pedir ao Ministério da Aeronáutica que fechasse o espaço aéreo na região norte da cidade de São Paulo para evitar riscos com o congestionamento de helicópteros das emissoras de televisão e de rádio que pretendem cobrir ao vivo a reconstituição do crime.
Alberto Dines:
– Não tem limites o delírio da mídia no caso Isabella. Agora nossos paparazzi inventaram uma versão aérea de sensacionalismo: pretendem filmar de helicóptero a reconstituição do crime no próximo domingo. A polícia pediu à Aeronáutica para interditar o espaço aéreo. A Aeronáutica recusou: o pedido da polícia civil não se enquadra em nenhuma das diferentes situações que justificariam a interdição. A Aeronáutica tem razão, mas a Polícia também tem razão: se as quatro redes de TV colocarem helicópteros em torno do edifício, além da perturbação que isso causará naquela parte da cidade, podemos ter o caos nas alturas ou mesmo uma colisão aérea. O caso Isabella deixou de ser uma tragédia, também deixou de ser jornalismo, sequer é circo. Reduziu-se a uma brutal exibição de morbidez como há muito tempo não víamos. Retrato da nossa mídia e retrato das necessidades daqueles que consomem nossa mídia. É um horror!