Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A Amazônia se ‘consolida’
>>O ambiente na imprensa

A Amazônia se ‘consolida’

Os jornais destacam hoje as controvérsias sobre como financiar o aumento de verbas para a saúde, o que inclui a possível ressurreição da CPMF.

O anúncio de que a brasileira Petrobrás superou a Microsoft e se tornou a sexta maior empresa do mundo em valor de mercado também figura entre as manchetes.

A imprensa nacional mal disfarça seu orgulho.

Também ganha espaços nobres a notícia do leilão de concessão para a construção da usina hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia.

Mas quem brilha de verdade no noticiário é o futuro ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

Minc foi ontem se apresentar ao presidente Lula e, segundo havia anunciado, expor suas condições para assumir o cargo.

Entrou festivo e, como gosta de dizer, performático, mas não levou.

Não levou a verba de 1 bilhão de reais do ministério, que está bloqueada, foi convencido a desistir de colocar as Forças Armadas para patrulhar florestas e também não recuperou para o Ministério do Meio Ambiente a coordenação do Plano Amazônia Sustentável, que continua com o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger.

Ainda assim, Carlos Minc saiu como entrou.

Performático.

Enquanto isso, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, engrossa o coro a favor da revisão dos limites da região amazônica, que é liderado pelo governador do Mato Grosso, Blairo Maggi.

Eles querem que o governo retire da lista alguns municípios considerados parte do bioma amazônico, sobre os quais vão incidir as novas regras de crédito, com exigências mais rigorosas de regularidade ambiental.

Stephanes e Maggi afirmam que essa região, a trezentos quilômetros de Cuiabá, já foi desmatada há muitos anos e não possui mais resquícios da floresta.

Segundo o ministro da Agricultura e o governador de Mato Grosso, essas áreas são ‘consolidadas’.

Esse é o nome que se dá às áreas devastadas.

Primeiro chegam os grileiros, que ocupam terras públicas e queimam a floresta para criar gado. Atrás deles vêm os grandes empreendedores rurais, com financiamento do Banco do Brasil.



Depois que a devastação é consolidada, vem o ministro da Agricultura defender menos restrições do Ministério do Meio Ambiente.

Quando a imprensa chega para contar a história, já encontra a nova realidade estabelecida.

Tem sido assim em toda a fronteira agrícola que estrangula a Amazônia.

Esse é o cenário que o novo ministro vai encontrar quando se mudar do Rio de Janeiro para lugares menos aprazíveis.

A economia crescendo, novas usinas para tocar o desenvolvimento acelerado, pressões internacionais para aumentar a produção agrícola, grandes oportunidades para o Brasil também no setor de biocombustíveis.

Nenhum sinal de uma estratégia de desenvolvimento sustentável.

E a floresta amazônica cada vez mais ‘consolidada’.

O ambiente na imprensa

Quem defende o patrimônio natural do Brasil?

Essa é a pergunta que se coloca em debate público com a recente demissão da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e as pressões de produtores rurais pela retirada de novas exigências de controle de atividades predatórias na Amazônia.

A imprensa tem se mostrado mais sensível ao problema, mas, na disputa entre ambientalistas e defensores do crescimento econômico a qualquer preço, ainda tende a pender para a forças econômicas.

Além disso, a mídia passa superficialmente pela necessária discussão sobre estratégias sustentáveis de desenvolvimento.

Alberto Dines:

– Um ministro do Meio Ambiente não precisa ser mediático, nem precisa ser bem tratado pela imprensa, mas cabe à imprensa a tarefa intransferível de criar na sociedade uma consciência ambiental.

O país inteiro deve ser eco-chato, do presidente da República ao ministro do Desenvolvimento, porque a causa ecológica não é partidária, nem política. Envolve a sobrevivência da humanidade não apenas na China, Antártica, mas logo ali, na esquina, em casa ou dentro do carro.

Hoje à noite, o Observatório da Imprensa vai discutir a necessidade desta consciência nacional. Pela TV-Brasil e suas afiliadas, ao vivo às 22:40. Pela rede Cultura, retransmissão à meia-noite e dez.