A Amazônia se ‘consolida’
Os jornais destacam hoje as controvérsias sobre como financiar o aumento de verbas para a saúde, o que inclui a possível ressurreição da CPMF.
O anúncio de que a brasileira Petrobrás superou a Microsoft e se tornou a sexta maior empresa do mundo em valor de mercado também figura entre as manchetes.
A imprensa nacional mal disfarça seu orgulho.
Também ganha espaços nobres a notícia do leilão de concessão para a construção da usina hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia.
Mas quem brilha de verdade no noticiário é o futuro ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
Minc foi ontem se apresentar ao presidente Lula e, segundo havia anunciado, expor suas condições para assumir o cargo.
Entrou festivo e, como gosta de dizer, performático, mas não levou.
Não levou a verba de 1 bilhão de reais do ministério, que está bloqueada, foi convencido a desistir de colocar as Forças Armadas para patrulhar florestas e também não recuperou para o Ministério do Meio Ambiente a coordenação do Plano Amazônia Sustentável, que continua com o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger.
Ainda assim, Carlos Minc saiu como entrou.
Performático.
Enquanto isso, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, engrossa o coro a favor da revisão dos limites da região amazônica, que é liderado pelo governador do Mato Grosso, Blairo Maggi.
Eles querem que o governo retire da lista alguns municípios considerados parte do bioma amazônico, sobre os quais vão incidir as novas regras de crédito, com exigências mais rigorosas de regularidade ambiental.
Stephanes e Maggi afirmam que essa região, a trezentos quilômetros de Cuiabá, já foi desmatada há muitos anos e não possui mais resquícios da floresta.
Segundo o ministro da Agricultura e o governador de Mato Grosso, essas áreas são ‘consolidadas’.
Esse é o nome que se dá às áreas devastadas.
Primeiro chegam os grileiros, que ocupam terras públicas e queimam a floresta para criar gado. Atrás deles vêm os grandes empreendedores rurais, com financiamento do Banco do Brasil.
Depois que a devastação é consolidada, vem o ministro da Agricultura defender menos restrições do Ministério do Meio Ambiente.
Quando a imprensa chega para contar a história, já encontra a nova realidade estabelecida.
Tem sido assim em toda a fronteira agrícola que estrangula a Amazônia.
Esse é o cenário que o novo ministro vai encontrar quando se mudar do Rio de Janeiro para lugares menos aprazíveis.
A economia crescendo, novas usinas para tocar o desenvolvimento acelerado, pressões internacionais para aumentar a produção agrícola, grandes oportunidades para o Brasil também no setor de biocombustíveis.
Nenhum sinal de uma estratégia de desenvolvimento sustentável.
E a floresta amazônica cada vez mais ‘consolidada’.
O ambiente na imprensa
Quem defende o patrimônio natural do Brasil?
Essa é a pergunta que se coloca em debate público com a recente demissão da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e as pressões de produtores rurais pela retirada de novas exigências de controle de atividades predatórias na Amazônia.
A imprensa tem se mostrado mais sensível ao problema, mas, na disputa entre ambientalistas e defensores do crescimento econômico a qualquer preço, ainda tende a pender para a forças econômicas.
Além disso, a mídia passa superficialmente pela necessária discussão sobre estratégias sustentáveis de desenvolvimento.
Alberto Dines:
– Um ministro do Meio Ambiente não precisa ser mediático, nem precisa ser bem tratado pela imprensa, mas cabe à imprensa a tarefa intransferível de criar na sociedade uma consciência ambiental.
O país inteiro deve ser eco-chato, do presidente da República ao ministro do Desenvolvimento, porque a causa ecológica não é partidária, nem política. Envolve a sobrevivência da humanidade não apenas na China, Antártica, mas logo ali, na esquina, em casa ou dentro do carro.
Hoje à noite, o Observatório da Imprensa vai discutir a necessidade desta consciência nacional. Pela TV-Brasil e suas afiliadas, ao vivo às 22:40. Pela rede Cultura, retransmissão à meia-noite e dez.