Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

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A batalha da Amazônia

A imprensa parece ter comprado a guerra da bancada ruralista contra o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

Tudo que se noticia a respeito do ministro induz à imagem de que se trata de indivíduo de idéias erráticas e mais dado aos holofotes do que à ação.

Mas existe aí muito mais em jogo do que o ego do antigo militante que foi transferido das praias cariocas para a Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Minc é hoje o único representante dos ambientalistas no primeiro escalão de um governo obcecado pelo desenvolvimento e sua fragilização diante da opinião pública pode levar o Brasil a decisões desastrosas em relação ao seu patrimônio ambiental.

Nesse cenário, torna-se ainda mais relevante o esforço feito pelo jornal O Estado de S.Paulo nos últimos dias para iluminar um pouco o tema.

No domingo, a entrevista da secretária executiva do Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, contribuiu para restabelecer certa racionalidade que andava ausente no debate.

Na edição desta segunda-feira, é a vez da líder da bancada ruralista,a senadora Kátia Abreu, do Partido Democratas, expressar a opinião dos produtores rurais.

A partir dessas entrevistas, o leitor pode começar a formular uma idéia sobre o confronto que se trava no Congresso Nacional em torno da legislação de proteção ambiental e da proposta de legalização de terras na Amazônia.

Mas falta muito para a imprensa dar uma contribuição efetiva ao debate, porque as frentes em disputa são muitas e complexas.

A bancada ruralista está apostando na municipalização do controle ambiental porque tem o poder em praticamente todos os municípios da fronteira agrícola amazônica.

Seu poder foi composto pelo domínio da economia e dos meios de comunicação regionais, o que lhe permite eleger seguidamente os prefeitos nos municípios mais importantes.

Mas não se pode esquecer os assassinatos de líderes comunitários e militantes ambientalistas ocorridos nas últimas décadas como parte desse projeto de poder.

A intenção dos parlamentares que representam basicamente os criadores de gado e o agronegócio é usar essa influência para fazer um recorte por dentro da Amazônia e criar um fato consumado que deixaria Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e parte do Pará isolados da floresta, para mais adiante pleitear a exclusão dessas áreas da Amazônia Legal.

Esse propósito vem sendo perseguido claramente há cerca de dez anos, mas a imprensa parece ignorá-lo, ou concorda com ele.

Entrevistas são uma boa fonte de informação, mas a reportagem no local ainda é a melhor maneira de contar uma história.

E a imprensa anda muito longe da Amazônia.

A tragédia do vôo 477

Alberto Dines:

Veja e Época mostraram neste fim de semana o potencial informativo das revistas de informação. Sobretudo em episódios que provocam grande comoção, caso da tragédia do vôo 447 da Air-France, em que os jornais diários não conseguem costurar na hora os fragmentos do noticiário.

Cinco dias depois de um desastre no espaço aéreo, até então sem corpos ou destroços, cada uma no seu estilo tentou amarrar uma explicação e uma história. Veja prometeu muito na capa – a falha na novíssima tecnologia do Airbus pode comprometer o futuro da aviação? – mas em nove páginas ficou longe de uma resposta. Época optou pela discrição, nada prometeu e em 51 páginas deu ao leitor uma agradável sensação de fartura informativa. Ambas, porém, incorreram no mesmo pecado do jornalismo diário: a fragmentação, que o abuso dos infográficos e desenhos torna ainda mais gritante.

A incapacidade de costurar uma narrativa pode explicar parcialmente a crise dos jornais contemporâneos: querem contar um número muito grande de histórias ao mesmo tempo, evidentemente não conseguem e frustram o leitor.

As revistas não tiveram tempo de incluir a decisão do Ministério Público de Paris, anunciada na manhã de sexta-feira, de abrir uma ação por “homicídio culposo”. Mas os jornais de sábado e domingo tiveram tempo e, no entanto, deram pouca atenção a uma iniciativa aparentemente simbólica que denota a disposição do Estado francês e da sociedade francesa de não permitir que o caso seja engavetado. Como, aliás, aconteceu com as tragédias aéreas brasileiras ocorridas em 2006 e 2007 e até hoje não esclarecidas.