Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A cabeça de Renan
>>Sutilezas da política

Luciano:

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, esquenta os debates sobre a CPMF ao acusar entidades que pedem o fim do tributo de proteger sonegadores.

Enquanto isso, o líder do governo, senador Romero Jucá, tenta um acordo com a oposição para colocar em votação a proposta de prorrogação do tributo.

A moeda sobre a mesa é a cabeça de Renan Calheiros.

E há muito mais nos jornais de hoje, que falam de um Brasil com muita roupa suja para lavar.

Dines:

– A revelação pela Polícia Federal de que o ex-presidente do Corinthians, Alberto Dualib, admitiu que o título de 2005 foi ganho indevidamente  deve servir para tirar os escândalos do futebol dos cadernos de esporte e levá-los para as páginas de política ou de polícia. Nos cadernos desportivos, os escândalos e abusos desaparecem, como aconteceu com os pugilistas cubanos forçados a voltar ao seu país. O leitor-desportista quer discutir o jogo da véspera ou a chance do seu clube nos  campeonatos,  já o leitor-político não vai às páginas esportivas e assim fica distante de escândalos iguais ou maiores do que o mensalão porque se arrastam há décadas. Uma coisa é certa: no país do futebol, o futebol também perdeu a credibilidade. Este é o tema da edição de hoje à noite do Observatório da Imprensa. Às vinte e duas e quarenta, ao vivo, em transmissão conjunta pela TV-Cultura e pela TV-E.

Luciano:

Escândalos para todos

Um levantamento dos casos de corrupção, malversação, improbidade e desvios em geral citados ou relatados nos jornais pode dar ao leitor a sensação de que não existe ambiente onde os negócios públicos estejam a salvo da ambição privada.

As edições de hoje são uma coleção de escândalos novos, antigos e futuros.

O chamado ‘mensalão’ genérico encontrou sua conexão com o ‘mensalão mineiro’, que respinga num senador e num ministro cujo papel na votação da CPMF pode ser comprometido por causa do caso Renan Calheiros.

E a sombra do ex-banqueiro italiano Salvatore Cacciola ameaça outros personagens que esperam sua vez de entrar para o noticiário.



A cabeça de Renan

O governo tenta hoje destravar a pauta de votações no Senado sem a presença do presidente da Casa.

Renan Calheiros é moeda de troca apresentada explicitamente pela oposição, que não aceita votar qualquer coisa que não seja a medida que acaba com a sessão secreta para a cassação de mandatos.

O PT quer demonstrar que não tem medo de Renan, e com isso desmentir a reportagem de Veja, segundo a qual senadores do governo estão sendo chantageados.

O clima que transparece nos jornais de hoje indica que, qualquer coisa que Renan venha a dizer contra outros parlamentares, será tomada como verdadeira.

O presidente do Senado é ao mesmo tempo a figura mais vulnerável e a mais temida entre seus pares.

Papéis trocados

Uma certa inversão de papéis pode ser notada no noticiário de hoje sobre a versão original do chamado ‘mensalão’.

A imprensa está jogando no colo do ministro Walfrido dos Mares Guia, do PTB, o escândalo que tem como suposto beneficiário o senador Eduardo Azeredo, do PSDB.

O Estado de S.Paulo publica, ao mesmo tempo, que o Ministério Público de Minas Gerais vai pedir a devolução aos cofres públicos de parte do dinheiro arrecadado para a campanha de Azeredo em 1998.

E anuncia uma operação do governo federal para ‘salvar’ o ministro Mares Guia.

O escândalo é de Azeredo, mas quem vai para as manchetes é o ministro.

Samba de doido

Um leitor distraído pode achar que deu a louca nos editores.

Mas a verdade é que o caso trata de desvios de dinheiro de empresas estatais mineiras para a campanha do então governador Eduardo Azeredo.

Azeredo teria gasto 100 milhões de reais em sua tentativa frustrada para se reeleger em 1998.

O ministro Walfrido dos Mares Guia entra na história por que era, na ocasião, o vice de Azeredo e, embora não fosse candidato na chapa da reeleição, é apontado como um dos responsáveis pelo caixa da campanha.

Em busca de acordo

O que parece uma grande confusão dos jornais pode ser, na verdade, um balão de ensaio destinado a preparar a defesa dos acusados.



A Folha de S.Paulo, que também coloca o ministro no título de uma reportagem que mistura o ‘mensalão’ com a votação da CPMF, conta que Azeredo telefonou ontem para o gabinete de Mares Guia.

No final, alguns leitores mais desconfiados podem acabar acreditando que a imprensa foi usada para um encontro de interesses entre os dois acusados.

Renan atrapalha

Renan Calheiros não vai se licenciar.

Quem garante é seu amigo, o ex-senador Gilberto Miranda, entrevistado pela Folha.

A oposição vai continuar obstruindo a pauta toda vez que ele se sentar à mesa da presidência do Senado para tentar conduzir uma sessão.

E o governo tem pressa de aprovar a prorrogação da CPMF.

Esse é o quadro, mas o foco de interesses pode estar se colocando bem distante da votação da CPMF.

O procurador-geral da República deve apresentar nos próximos dias ao Supremo Tribunal Federal o processo contra os envolvidos no desvio de dinheiro de estatais mineiras para uma agência do notório publicitário Marcos Valério.

Os jornais já começaram a misturar os dois assuntos.

Sutilezas da política

Até aqui, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, vinha sendo poupado da suspeita de também ter se beneficiado do chamado ‘mensalão’.

Citado de passagem em uma ou outra ocasião, ele nunca havia sido incluído entre os personagens graúdos do escândalo.

Uma declaração do governador paulista José Serra acaba de colocar Aécio na mira.

O Estado de S.Paulo publica hoje que ‘Serra defende Aécio e adota cautela sobre Azeredo’, observando que o governador paulista fez uma defesa ‘veemente’ de seu colega mineiro.

A Folha escreve que ‘Serra defende Aécio e fica em cima do muro com Azeredo’.

Muy amigo

Tudo que Aécio menos precisava era de que alguém reforçasse seu vínculo com o escândalo.

O leitor distraído vai perguntar: ‘Ué, mas por que Aécio precisa ser defendido? O que ele fez?’

O leitor desconfiado vai imaginar que Serra está empurrando para o meio da roda seu maior concorrente na disputa pela candidatura do PSDB à presidência da República, em 2010.