Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A campanha está nas ruas
>>Palhaços em campanha


A campanha está nas ruas


Os jornais desta sexta-feira registram a desistência do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de disputar as eleições deste ano.


Ele se compromete a permanecer à frente do BC até o final do atual governo.


Meirelles, que representa um raro ponto de convergência entre o governo e a oposição, era o candidato dos sonhos do presidente Lula da Silva à vice-presidência.


Mas ele não tem o perfil dos sonhos do PMDB – não tem tradição partidária nem demonstra aquela habilidade de negociação por mais benesses do poder, principal característica do maior partido do país.



A coalizão governamental vai mesmo de Michel Temer, o presidente da Câmara que representa como ninguém o caráter ideologicamente anódino do PMDB.


Sua trajetória política é a do colecionador de oportunidades.


Entre seus compromissos mais duradouros, sua biografia registra a fidelidade aos empresários do bingo, dos quais foi dedicado defensor como advogado desde 1987.


Confirmada a candidatura, os persistentes homens de negócio da jogatina já mandam lustrar suas máquinas viciadas.


Um projeto nesse sentido desliza sorrateiramente no Congresso, longe do noticiário.



Mas essas são histórias antigas, que a falta de memória da imprensa deixa repousar no limbo.


Os jornais estão preocupados com outra questão: o pano de fundo das principais candidaturas ao governo federal é o tamanho do Estado.


No entanto, uma montanha de problemas institucionais aguarda a definição dos candidatos, e ajudaria muito os eleitores conhecer os pensamentos da cada coalizão sobre esses temas.


Parte desses desafios foi apresentada ao debate público no pacote do Programa Nacional de Direitos Humanos, mas a imprensa enxergou apenas aquilo que lhe interessava diretamente – a questão do controle social da mídia – e deixou no esquecimento tudo o mais.



No fragor da campanha, as sutilezas tendem a desaparecer e o próprio jornalismo costuma se transformar em caixa de ressonância de acusações e baixezas.


A partir da próxima semana, com ou sem apoio na legislação eleitoral, as candidaturas estarão lançadas.


Esse é o período em que o melhor jornalismo costuma entrar em recesso.



Palhaços em campanha


O Tribunal Superior Eleitoral promete rigor no controle da campanha deste ano.


As normas de conduta para o funcionalismo durante o período pré-eleitoral, divulgadas há duas semanas, são bastante severas.


Oficialmente, a campanha só pode começar no dia 6 de julho.


Mas pelo menos um setor da mídia já está em plena atividade eleitoral, sem que as autoridades e os jornalistas se tenham dado conta.


Trata-se de alguns programas de televisão e rádio que misturam política e entretenimento e que, atuando como crítica social e política, influenciam as opiniões tanto quanto o jornalismo de verdade.



O fato chama atenção para uma controvérsia que anda esquecida: programas humorísticos feitos ou comandados por jornalistas são atividades jornalísticas?


Apresentadores de programas como o CQC, Pânico na TV e outros, que costumam invadir eventos e instituições políticas, devem ter o mesmo tratamento que se dá à imprensa, como credenciais para entrevistas coletivas?


No ano passado, o senador Eduardo Suplicy andou perto de ser punido pelo Conselho de Ética por ter aceitado vestir uma sunga vermelha no Senado, a pedido de uma dessas humoristas.


Tais profissionais, muitos deles portadores de diploma de jornalismo, afirmam que são parte da imprensa, e, nessa condição, costumam alegar o direito de informar quando são barrados em algum desses eventos.


Mas a que código de conduta eles estão submetidos?



Certamente, aplicar um nariz de palhaço no rosto de um parlamentar não é propriamente o trabalho de edição de um jornalista na televisão.


Da mesma forma, promover discussões surrealistas e constranger autoridades em público não deve fazer parte dos objetivos de um repórter.


No entanto, muitos humoristas se valem de credenciais de imprensa para interromper entrevistas, usando ardis e chicanas para se aproximar de personalidades, com a intenção de produzir situações risíveis.


A imprensa poderia esclarecer se tais programas também estão submetidos às restrições impostas pelas regras das campanhas eleitorais.


Marqueteiros de candidatos já podem ter alguns desses humoristas sob contrato.