Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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>>Ver os fundos de frente

A cobertura das eleições


Como se previa, depois do lançamento aberto da pré-candidatura do governador Geraldo Alckmin para a presidência da República, e depois das pesquisas do Ibope e do Datafolha da semana passada, a questão eleitoral se tornou dominante.


Num período em que as exigências de transparência são muito maiores, seria conveniente que os principais meios de comunicação explicitassem o quanto antes as regras e os métodos que pretendem adotar na cobertura da campanha eleitoral de 2006. O leitor, o eleitor e a democracia sairiam ganhando.


Jarbas pede uma trégua


O governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcellos, diz em entrevista ao jornal Valor desta segunda-feira, 19 de dezembro, que a oposição e o governo deveriam dar uma trégua ao país. Jarbas considera que nem o governo acerta ao acusar a oposição de golpismo, nem a oposição está correta ao acusar o presidente Lula de chavismo.


O governador de Pernambuco pede a apuração dos casos de corrupção, mas também que o candidato anti-PT não fique apenas no denuncismo.


É preciso acrescentar algo. O que não se poderia aceitar, e teria efeitos catastróficos, seria o estabelecimento de um pacto das elites políticas para abafar a apuração de responsabilidades. Seria uma sinalização péssima para a população.


Ver os fundos de frente


Em entrevista ao Jornal do Brasil de ontem o ex-deputado Roberto Jefferson aponta o que seria a razão pragmática para um acordo tácito entre governo e oposição para amenizar o processo de punições aos envolvidos no escândalo do “mensalão”. Trata-se da denúncia de que fundos de pensão tiveram papel muito relevante no estabelecimento do valerioduto. E, como se sabe, as relações dos governos – o do PSDB e o do PT – com fundos de pensão são íntimas e intensas, devido, antes de mais nada, ao colossal volume de recursos que eles concentram.


Seja qual for o envolvimento dos fundos de pensão nos escândalos de corrupção, daqui para a frente será cada vez maior a exigência, por parte da sociedade, de transparência na sua gestão.


Programa do PSDB


O melhor roteiro recente para discutir as propostas econômicas que estarão em confronto no ano que vem é uma entrevista do economista Edmar Bacha publicada ontem no Estadão. Bacha, ex-presidente do BNDES e do IBGE, deverá ser um dos dirigentes da equipe encarregada de elaborar o programa econômico do PSDB.


Igualdade racial


O Estado de S. Paulo critica hoje em editorial o Estatuto da Igualdade Racial, que foi aprovado no Senado e tramita na Câmara dos Deputados. Diz que o texto é “um exemplo eloqüente do ranço demagógico inerente às teses politicamente corretas”.


O Estatuto proposto pelo hoje senador Paulo Paim, do PT gaúcho, é acusado de recorrer a teses racistas do século XIX.


A premissa do Estadão é a de que o Brasil é um país marcado pela miscigenação e não pela segregação. É uma hipótese que as lideranças do movimento negro não aceitam.


Do Nordeste ao Sul


O jornal Valor destaca hoje em manchete que os programas de transferência de renda do governo federal fizeram o Nordeste crescer mais do que o país. Isso pode significar mudanças estruturais da maior relevância para o desenvolvimento brasileiro, embora a indústria nordestina ainda não tenha decolado.


O reverso da medalha é a situação ruim da economia gaúcha. Segundo o Valor, o PIB do estado terá queda de quase 5% neste ano. Os mais fortes problemas gaúchos estão na agricultura, que passa por um período ruim, e é responsável por dificuldades também nos outros estados sulinos.


Mas a indústria gaúcha também sofre.


É curioso que se comemore, por exemplo, a permanência no Rio de Janeiro da sede de uma empresa que garante 300 empregos de boa qualidade, e não se dê a atenção merecida à perda de 15 mil empregos na indústria de calçados do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul.


Ajudar Morales


Existe um caminho para que Evo Morales, o vitorioso nas eleições bolivianas, faça um governo capaz de melhorar o quadro político e social do país. No primeiro discurso, não publicado pela imprensa brasileira mas que está no Clarín, de Buenos Aires, Morales ressaltou a contribuição de setores de classe média e de empresários a sua campanha e lançou um pedido categórico para que os investidores confiem na Bolívia.


A mídia brasileira adotou uma posição de relativa isenção na cobertura do processo eleitoral. É verdade que chegou tarde à Bolívia, o que não lhe permitiu traçar um quadro mais preciso. Se houve surpresa com o resultado das eleições, entre os leitores brasileiros a surpresa foi ainda maior.