Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A controvérsia do consumo
>>Contra os ficha-suja

A controvérsia do consumo


A imprensa brasileira ainda está comemorando os números que mostram o comércio varejista crescendo em ritmo acelerado, mesmo sob ameaça de inflação.


Reproduzindo dados do IBGE, os jornais informam que as vendas do comércio cresceram 10,6% no primeiro semestre, apesar do repique inflacionário.


Alguns analistas consideram que a classe média tradicional e as classes de renda mais baixa não refrearam o consumo ainda depois de alguns aumentos de preços, enquanto a chamada nova classe média, aquelas famílias que vêm sendo promovidas da zona de pobreza, continuam deslumbradas com sua nova capacidade de compra.


Os jornais também lembram os temores do Banco Central e do Conselho de Política Monetária, observando que uma das prováveis causas do aumento de preços é o descompasso entre o crescimento mais forte da demanda interna e a oferta insuficiente de produtos e serviços.


Mas o noticiário também destaca outros fatores, como a ascensão dos preços de produtos básicos no mercado internacional.


Acontece que as análises da imprensa sobre o risco da inflação em 2008 são muito parecidas com o que foi publicado há dez anos, quando o governo da época alterou bruscamente a política cambial.


Naquele período, também se noticiava que uma parte da população havia obtido um ganho de renda – que a imprensa representava através do aumento do consumo de iogurte e de biscoitos recheados.


Mas é preciso levar em conta que o cenário hoje é muito diferente.

Nos últimos anos, o Brasil se consolidou como um grande exportador e importador, ou seja, tornou-se um protagonista mais relevante no comércio global, o que também afeta o mercado interno.


O Brasil é outro, o mundo também mudou bastante depois da crise na Ásia, com a escalada do preço do petróleo e principalmente com a recente derrocada do crédito imobiliário nos Estados Unidos.


Em meio à turbulência geral, o Brasil parece navegar em águas relativamente calmas.


Mas o noticiário fragmentado e ainda preso a referências do passado não ajuda o cidadão a entender o que realmente vem por aí e a adotar a estratégia mais adequada para defender seu patrimônio.


Poupar ou atender os desejos reprimidos pela pobreza?


Enquando isso, o consumo segue desenfreado.


E a imprensa? A imprensa ganha com a publicidade.


Contra os ficha-suja


Alberto Dines:


– Querem saber como a imprensa pode ajudar a sanear a classe política? O Rio de Janeiro deu um exemplo na terça-feira (12/8) quando a Assembléia Legislativa cassou o mandato do deputado estadual Álvaro Lins (da ala Garotinho do PMDB). Ninguém esperava a cassação do ex-chefe da Polícia Civil fluminense, a diferença foi mínima, com mais um voto ele escaparia da punição e, além disso, a votação foi secreta — tudo o favorecia. Apesar de tantas vantagens, Álvaro Lins perdeu a imunidade e dois dias depois, ontem, foi decretada sua prisão preventiva. Quem impediu mais um caso flagrante de impunidade foi a imprensa do Rio de Janeiro: os três principais jornais, O Globo, O Dia e o Extra, apesar da concorrência que travam entre si, fizeram carga cerrada contra o acusado. Os deputados perceberam que se Álvaro Lins não fosse cassado a frustração popular sobraria para eles. Este é um caso em que a imprensa não pode desobrigar-se de seus compromissos com o interesse público. A isenção é sempre desejável, mas quando jornais e jornalistas têm convicções firmes e, sobretudo, têm evidencias, não podem lavar as mãos. A ficha de Álvaro Lins estava suja desde quando ainda era capitão da PM, acusado de trabalhar para um conhecido contraventor. A chamada ‘presunção de inocência’ caiu por terra quando a imprensa destacou e levou adiante as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. O caso talvez estimule a imprensa a assumir uma posição mais afirmativa contra os candidatos ficha-suja para as próximas eleições. Nem tudo está perdido.