A corrupção relatada
Após ter trocado a sedução dos holofotes pelo trabalho aplicado, a CPI dos Correios produziu uma sistematização que confirma a existência do “mensalão” como modalidade específica de corrupção. Envolve o governo, o PT, empresas privadas e empresas públicas.
O relatório parcial do deputado Osmar Serraglio não é perfeito. Seria mais contundente se tivesse dito com a devida ênfase que outros partidos, em especial o PSDB, serviram-se de Marcos Valério antes do PT. Mas o relatório parcial se contrapõe de modo firme às negativas do governo e sua base aliada.
O discurso oficial
O deputado Virgílio Guimarães, do PT mineiro, resume hoje no Estado de S. Paulo a retórica governista: “Acho que não houve o mensalão e principalmente não acredito que tenha ocorrido desvio de recursos públicos”. Virgílio Guimarães foi quem apresentou Marcos Valério a Delúbio Soares.
O distante Ceará
A imprensa de São Paulo e do Rio cobriu mal a absolvição do deputado José Nobre Guimarães na Assembléia Legislativa do Ceará, anteontem. Não se tratava de assunto apenas regional, mas do desdobramento político do episódio dos dólares na cueca, um dos símbolos da corrupção no PT.
Existe semelhança com o caso do deputado federal Romeu Queiroz. E houve ingerência no processo de dirigentes de instituições federais, notadamente o Banco do Nordeste e o Departamento Nacional de Obras contra a Seca, cujos dirigentes estiveram no plenário da Assembléia cearense.
Erik Guimarães é um dos editores executivos do jornal O Povo, de Fortaleza. Ele diz que a grande imprensa não cobre direito assuntos regionais.
Erik:
– A grande imprensa tem uma séria dificuldade de perceber as nuances do que está acontecendo nos estados. No caso específico do Guimarães, por exemplo, em todos os sites ele é sempre apontado como o irmão do Genoíno. Mas ele não é só isso. Ele tem um papel importante na política cearense. Ele é um líder do PT estadual há mais de uma década.
Guimarães operou um esquema de caixa dois que não era para ele, era para um candidato derrotado ao governo do estado, assim como Romeu Queiroz também operou esquema de caixa dois para terceiros. No caso do Guimarães, há indícios muito fortes de que esse dinheiro veio do publicitário Marcos Valério, ainda que o deputado tenha sempre negado que tivesse conhecimento disso.
E para a absolvição dele podem ser contabilizados vários fatores. Um desses fatores é a capacidade de articulação do deputado, que é inquestionável. Um segundo fator é esse espírito de corpo, essa preocupação dos deputados estaduais aqui de virem a ser acusados de caixa dois, de se criar uma jurisprudência em que eles venham a perder o mandato por conta disso. E além disso questões regionais, que interferem claramente. A questão da briga entre os grupos do ministro Ciro Gomes e do senador Tasso Jereissati.
Kroll espionou jornalistas
A guerra entre a Telecom Itália e o empresário Daniel Dantas atinge jornalistas. Josias de Souza noticia na Folha de S. Paulo nesta quinta-feira, 22 de dezembro, que a empresa Kroll espionou jornalistas a pedido de Daniel Dantas. A motivação seria uma campanha contra Dantas movida pelo controlador do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil, Nelson Tanure.
Os jornalistas Gilberto Menezes Cortes e Ricardo Boechat são citados no dossiê da Kroll obtido pela Folha. Menezes Cortes declarou que o documento é “um dossiê típico de arapongas”, apelido dado a agentes do extinto Serviço Nacional de Informações que espionavam durante a ditadura. Boechat diz que todas as notas que publicou em sua coluna foram factuais, algumas delas furos de reportagem, como a antecipação do rompimento do Citibank com o grupo Oportunity, de Daniel Dantas.
O veneno dos arquivos
O governo optou por uma abertura não irrestrita dos arquivos da ditadura. De um lado, isso corresponde à natureza negociada do processo brasileiro de redemocratização. De outro, a prudência se impõe porque a ditadura manipulou informações sobre a vida íntima de cidadãos, e esse veneno ainda pode ter efeito.
De todo modo, é ilusão achar que há documentação sobre tudo que aconteceu durante a ditadura.
Vender jornal a todo custo
Como é da tradição local, o tablóide sensacionalista inglês Daily Mirror pegou pesado: deu uma foto com a localização exata da casa da escritora J.K. Rowling, autora da série Harry Potter. Ela recebeu ameaças de morte e resolveu processar o Mirror.
Esse tipo de coisa, infelizmente, faz parte do DNA do jornalismo.