A eleição da internet
Os jornais amanheceram com a aposta nas manchetes: o senador democrata Barack Obama venceu as eleições para presidente dos Estados Unidos e o seu partido recupera a maioria no Senado americano.
Os cadernos especiais foram sendo produzidos ontem, ao longo do dia, mas as redações só tiveram informações seguras das projeções eleitorais perto das duas horas da manhã de hoje.
Em outros tempos, os jornais teriam o cuidado de colocar uma eventual condicionante em seus títulos, mas com a internet se tornou possível em poucos minutos juntar as evidências que fundamentaram a decisão: Obama é o vencedor, ainda que a contagem dos votos não tivesse terminado no final da edição.
A eleição americana deste ano é provavelmente o marco inicial do século XXI no que se refere às comunicações.
Um punhado de analistas destaca o papel da internet não apenas na campanha eleitoral, mas principalmente na cobertura da votação e nas projeções do resultado.
Ainda vão se passar alguns dias até que todos os votos sejam contados e sejam oficialmente divulgados os números oficiais. O sistema eleitoral americano é uma mistura de vários sistemas, desde a velha cédula de papel até complicados aparelhos eletrônicos que dificultam a vida do eleitor.
Com a internet foi possível antecipar a vitória de Obama.
Mas a internet não é apenas instrumento da cobertura eleitoral.
Foi também o principal veículo de campanha, e seu uso inteligente talvez um dos segredos da vitória de Barack Obama.
Quando lançou sua candidatura, em fevereiro de 2007, o então desconhecido senador de Illinois, um autêntico afro-descendente de primeira geração, prometeu que mudaria o jeito de fazer política em Washington.
Pouca gente o levou a sério e a imprensa praticamente o ignorou.
Mas ele havia empolgado algumas centenas de correligionários que se juntaram para ouvir suas propostas.
Organizadamente, essas centenas se transformaram rapidamente em dois milhões de militantes empenhados em tornar realidade aquilo que parecia improvável: um presidente negro de origem pobre chegar à Casa Branca.
Os dois milhões de voluntários arregimentaram quatro milhões de novos eleitores e, juntos, eles arrecadaram os 700 milhões de dólares usados na campanha.
Tudo pela internet, à revelia dos poderosos canais de televisão e da imprenda tradicional.
Essa história está nos jornais de hoje.
É a história de uma impossibilidade que se torna real pela movimentação de cidadãos através da internet.
Também é o roteiro do futuro da imprensa: ela nunca mais será a mesma.
Fugindo dos jornalistas
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– A presidente da Argentina Cristina Kirchner está vez mais enrolada com o chamado ‘escândalo da maleta’, cujo pior desdobramento pode ser a acusação formal de ser a beneficiária de pelo menos 800 mil dólares ilegalmente enviados pela estatal venezuelana de petróleo para sua campanha presidencial. Também por isso, Cristina tem razões de sobra para se afastar da imprensa. Quanto menos inquirida pela mídia, melhor para ela, que passou maus bocados na crise com os produtores rurais argentinos e viu sua popularidade despencar a níveis alarmantes.
Como não tem disposição para conceder entrevistas, os estrategistas da imagem presidencial aconselharam Cristina a presidir duas, três, às vezes quatro solenidades oficiais diárias – o que lhe garante espaços nos meios de comunicação. Afinal, a cobertura das atividades da Presidência da República é uma pauta obrigatória em qualquer lugar do mundo. Mas agora a presidente resolveu inovar: desde o mês passado, a cada viagem que faz ao interior do país, leva junto um artigo assinado, de sua autoria, para ser publicado na imprensa local. A tática deu resultado, pois os textos de Cristina em geral ganham as manchetes dos jornais das províncias. E depois repercutem nos grandes diários nacionais sediados em Buenos Aires.
A estratégia da presidente é ‘federalizar a comunicação’, conforme apurou a repórter Mariana Verón, do La Nación, com fontes da Casa Rosada. As mesmas fontes garantem que é a própria Cristina quem escreve os textos. De todo modo, a repórter percebeu que as peças em geral reproduzem textualmente trechos de discursos proferidos nos locais que visita. Mas o leitor se dá conta disso?