Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>A floresta e o Planalto
>>Preservando Sarney

A floresta e o Planalto

Jornais e revistas distribuídos no final de semana concentram o noticiário nacional em duas frentes: a questão ambiental e o escândalo que envolve o Senado Federal por conta dos atos administrativos secretos.

Os conflitos entre indígenas e forças policiais na fronteira ocidental amazônica, que deixaram um número ainda desconhecido de mortos e feridos, finalmente chamam a atenção da imprensa brasileira.

Os jornais de circulação nacional enviaram repórteres à região e começam a constatar os fatos que já vinham sendo revelados há meses pela imprensa alternativa, com especial destaque para o Blog da Amazônia, produzido pelo acreano Altino Machado.

Desde o começo do ano, com base em informações de líderes indígenas e do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, Machado vem informando regularmente sobre conflitos entre índíos ashaninka e outras tribos e invasores cujo ingresso na floresta vem sendo facilitado pelo lado peruano.

Só depois que o conflito se alastrou e se agravou, com o aumento do número de mortos, a chamada grande imprensa se interessou pelo assunto.

A Folha de S.Paulo admite, na edição de domingo, que a disputa “lança luz” sobre tribos amazônicas até então invisíveis para a imprensa.

A revista Veja tenta, em sua edição desta semana, fazer uma síntese sobre a controvérsia que se estabeleceu entre ambientalistas e representantes dos agronegócios a respeito do futuro da Amazônia.

Interessante notar como a reportagem se choca com um trabalho publicado no site Planeta Sustentável, também pertencente à Editora Abril.

Planeta Sustentável traz informações colhidas em palestra do pesquisador Alberto Veríssimo, fundador do Imazon, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, que indica claramente a necessidade de uma política de preservação mais agressiva para a região.

Quanto à Medida Provisória 458, que propõe regularizar a posse da terra, Veríssimo defende o veto a três pontos: o prazo para a venda da terra de três anos para as grandes propriedades, a venda das terras para pessoas jurídicas e prepostos e a falta de exigência de compensação do passivo ambiental.

Na edição da revista, os ambientalistas são tratados com preconceito e a tentativa de simplificar a questão complexa acaba produzindo mais desinformação do que esclarecimento.

Como diz a própria Veja, conciliar desenvolvimento e conservação não é para amadores.

Preservando Sarney

Quanto à atual safra de escândalos no Senado Federal, ficamos sabendo, por exemplo, que foram pelo menos 650 medidas, quase sempre favorecendo parentes e amigos de senadores e burlando decisões que restringem benefícios à maioria dos servidores do Congresso.

Sabe-se que tais decisões privilegiaram gente ligada a muitos parlamentares, entre eles alguns que andaram cobrando providências do presidente da Casa, o notório coronel da política José Sarney.

Mas os jornais e revistas ainda não conseguiram identificar todos os padrinhos clandestinos dos atos administrativos secretos.

Por enquanto, o personagem central da imensa falcatrua segue sendo o senador José Sarney e a figura emblemática do episódio não podia deixar de ser… o mordomo.

A revelação de que o Senado Federal pagava um salário de 12 mil reais para o mordomo da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, é a informação que faltava para completar o roteiro dos desmandos.

A reação da governadora, tentando justificar o pagamento de seu serviçal com dinheiro público, apenas aumenta a gravidade das acusações.

Mas, com exceção do jornal O Estado de S.Paulo, a imprensa não parece disposta a fazer grande esforço para cobrar medidas mais eficazes e punição dos responsáveis.

Comparada ao escândalo que envolveu o senador Renan Calheiros em 2007, por exemplo, a safra de falcatruas que apontam para o senador José Sarney e seus aliados está sendo tratada com muita brandura.

O leitor que acompanha a longa relação de irregularidades que vem sendo revelada desde o início da atual legislatura deve estranhar o fato de que ninguém ainda tenha falado em cassação de Sarney.

A sequência do noticiário produz uma sucessão de capítulos inconclusivos, como se fosse preciso um escândalo ainda maior para que a imprensa exija a única solução aceitável: o processo para a cassação do presidente do Senado.