A fome no mundo
Ganha espaço no noticiário de hoje a repercussão, durante a cúpula dos países mais ricos, de um estudo do Banco Mundial afirmando que a produção de biocombustíveis forçou um aumento de 75% nos preços mundiais de alimentos nos últimos seis anos.
A fonte da informação era um jornal, o britânico The Guardian, que na sexta-feira havia publicado uma reportagem citando o estudo, que contraria os dados divulgados pelos governos dos Estados Unidos e da Europa.
O jornal circulou entre os jornalistas presentes ao evento. Os jornalistas questionaram autoridades e especialistas, e o estudo acabou se tornando o tema central dos debates.
Assim, uma notícia de jornal acabou influenciando a pauta da cúpula dos países ricos e produziu a repercussão que é amplificada hoje pela imprensa.
Mas nem todos os jornais se preocuparam em destacar os dados contidos no estudo original divulgado por The Guardian.
O estudo do Banco Mundial condena especificamente a produção de combustíveis a partir de milho e sementes oleaginosas, como é feita nos Estados Unidos e na Europa, minimizando os efeitos do etanol fabricado no Brasil a partir da cana-de-açúcar.
Mas apenas o Globo reproduziu a defesa do etanol brasileiro feita pelo secretário-geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon.
Segundo a Folha de S. Paulo, a questão brasileira, discutida publicamente pelo presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, é garantir que o biocombustível seja produzido de forma sustentável, ou seja, que não substitui a produção de alimentos nem destrói o patrimônio natural.
A questão será respondida pelo Brasil num seminário internacional marcado para novembro, conforme anunciou o secretário-geral da ONU.
O ponto central do encontro, destacado por toda a imprensa, é o risco de um desastre de proporções globais, que poderia aumentar a miséria no mundo.
Segundo a FAO, órgão da ONU dedicado à agricultura e alimentação, existem hoje 850 milhões de pessoas submetidas permanentemente à subnutrição.
A crise de alimentos pode aumentar esse contingente de miseráveis em 100 milhões.
Essa é a notícia que pode mudar alguma coisa.
Perguntas sem respostas
Os jornais de hoje seguem acompanhando os efeitos da libertação da ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt.
Quase em unanimidade, afirma-se que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Farc – estão com os dias contados.
No entanto, restam ainda muitos fatos a serem esclarecidos na operação de resgate.
Os jornais brasileiros, que enviaram repórteres à Colômbia e acompanham a visita da ex-refém à França, informam que o governo francês teria pago um resgate por ela, mas seu representante foi enganado por um falso emissário das Farc, que ficou com o dinheiro.
Entre os fatos que continuam sem esclarecimento, um dos pontos centrais é o papel dos mediadores estrangeiros nos contatos com os guerrilheiros.
Hoje os jornais informam que o governo da Colômbia acusa um dos mediadores de manter ligações com as Farc e proibiu a continuidade das atividades dos mediadores europeus no país.
A Folha de S.Paulo levanta essas e outras questões, como a possibilidade de a operação de resgate ter tido a participação de militares americanos e israelenses.
O tema ainda está longe de ser esgotado. O trabalho da imprensa no episódio será discutido esta noite pelo Observatório da Imprensa na TV.
Alberto Dines:
– Talvez faltem algumas explicações na história da libertação de Ingrid Betancourt. De qualquer forma é um episódio extraordinário, candidato a Fato do Ano ou pelo menos Fato do Semestre e cujos efeitos ainda mal divisamos. Hoje à noite no Observatório da Imprensa algumas histórias que a imprensa ainda não contou. À meia noite e dez pela TV-Cultura. Pela TV-Brasil, ao vivo, às 22:40.