Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A mídia é parte da crise
>>Sem histeria

A mídia é parte da crise


Nunca é demais relembrar que os bens mais preciosos em jogo para todos os atores da crise são a liberdade e a democracia. Em primeiro lugar, para a imprensa, por meio da qual a liberdade tem dimensão pública, e sem a qual a democracia é irrealizável.


A mídia não pode agora apenas apontar um dedo acusador para as irregularidades, os crimes, a traição à esperança de um país que elegeu um ex-operário para a presidência. A mídia participou, por ação, omissão ou incompetência, de todas as farsas agora reveladas. A mídia é parte integrante do sistema político que precisa se repensar.



Sem histeria


A mídia tanto é parte integrante do sistema político que nela foi criado na madrugada desta sexta-feira, 12 de agosto, o fato político novo que se combina com o depoimento de Duda Mendonça no Congresso. Esse fato é a pesquisa do DataFolha que mostra o prefeito José Serra à frente do presidente Lula em simulação do segundo turno da eleição presidencial vindoura. O Alberto Dines chama a atenção para o encaixe dessa pesquisa numa escalada que mostra sinais de histeria. Não é só do presidente Lula que se esperam hoje palavras responsáveis. A mídia tem que fazer a sua parte. Não pode pescar em águas turvas.


Dines:


− Mauro, a mídia não pode entrar na linha das provocações do Senador ACM. A proposta do novo mínimo foi uma das maiores irresponsabilidades praticadas fora do âmbito do PT. Pura malandragem. A crise agravou-se perigosamente com as confissões de Duda Mendonça ontem na CPI dos Correios. A imprensa não precisa jogar lenha na fogueira. A última edição de Veja já foi um autêntico panfleto, Época vai na mesma linha ao antecipar para hoje a edição que normalmente sairia amanhã, sábado. Parece que a intenção é exclusivamente abalar os mercados.


Estamos vivendo um dos piores momentos da nossa história política e a imprensa não precisa exagerar. Nem pode esquecer que estamos no mesmo barco. Ou na beira do mesmo precipício. Todos: governo, oposição e, naturalmente, a imprensa. Um pouco menos de excitação seria mais saudável para todos. A “escalada” do Jornal Nacional ontem à noite estava frenética. As pesquisas eleitorais do DataFolha em geral saem aos domingos, mas agora uma foi antecipada para hoje. Para quê? Para vender mais jornal ou para dar mais velocidade à bola de neve? Calma, estamos apenas no primeiro terço do mês dos desgostos.


Militância castigada


Uma pauta que pede apuração: como se sentem diante da dinheirama dos Delúbios, Valérios e Dudas os contribuintes petistas que pagaram durante anos e anos, com sacrifício, suas mensalidades ou dízimos ao partido? No Painel da Folha de hoje se afirms que Duda ganhou do PT o dobro do que está dizendo. Que efeito terão essas revelações sobre o moral da militância?


Justiça cega


Outra pauta urgente: por que a Justiça Eleitoral é tão incompetente? Por que aceita sem questionamento prestações de contas que brigam com os fatos?


A vida continua


O desenrolar avassalador da crise rebaixa no noticiário a importância de muitos assuntos. Defesa da concorrência, saúde pública, problemas da educação, infra-estrutura são alguns exemplos. Isso fica mais patente quando o horário nobre da televisão aberta é ocupado inteiramente pelo noticiário da crise, por crimes e catástrofes.


Questões explosivas


Armamento atômico anunciado pela Coréia do Norte é um problema de arrepiar os cabelos. Ouvinte: experimente abrir o programa Google Earth e ver a que distância da fronteira fica Seul, a capital da Coréia do Sul. A tensão com o programa nuclear do Irã, vizinho do Iraque, é assustadora. Na edição que circula hoje, a revista The Economist diz que a a China tem condições de exercer um papel apaziguador junto à Coréia do Norte e ao Irã. Mas nas últimas semanas tem crescido no noticiário internacional a preocupação com o conflito potencial entre os Estados Unidos e a China, conflito em que Taiwan é um fator explosivo. A mídia brasileira não dá ao assunto o devido peso.