Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A novela senatorial
>>Coronelismo nas rádios comunitárias

A novela senatorial
 
Renan Calheiros é presidente do Senado, cargo estratégico. É, com José Sarney, um dos líderes do PMDB mais amigo do Planalto. A renúncia do senador Sibá Machado à presidência do Conselho de Ética complica a vida dos governistas. O antigo PFL pede a cabeça de Renan. O PSOL vai bater bumbo pela queda do amante à moda antiga. Tudo isso é verdade, mas talvez não justifique o tamanho das manchetes dadas hoje nos jornais de projeção nacional a respeito de mais um capítulo da novela senatorial. E não surgiu até hoje uma evidência sólida de que a Mendes Júnior deu dinheiro a Renan.
 
Nenê e Roriz
 
Só a Folha de S. Paulo dedica hoje espaço à biografia do fundador da Gol, Nenê Constantino, empresário de ônibus acusado de acumular dívidas com o INSS e amigo do peito do senador Joaquim Roriz, novo envolvido em estripulias pecuárias.  Sempre que aparece um figurão dos negócios metido em confusões as redações vestem luvas antes de colocar as mãos nos teclados.


Enriquecimentos
 
A imprensa vive a reboque de denúncias partidas de autoridades. Será que só após escuta telefônica seria possível conhecer a opulência pecuarista de Joaquim Roriz, que foi quatro vezes governador do Distrito Federal?
 
E os negócios de outros eminentes integrantes do Legislativo e do Executivo, por que não despertam curiosidade jornalística?
 
A imprensa não se dá o trabalho nem de passar regularmente em estacionamentos de delegacias policiais ou de batalhões da Polícia Militar, em qualquer cidade do Brasil, e verificar se os carros de delegados, comandantes e mesmo subalternos são compatíveis com seus salários. Seria uma campanha útil de esclarecimento da população.


Coronelismo nas rádios comunitárias
 
O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, fala de pesquisa que constatou a lamentável situação das rádios comunitárias no Brasil.
 
Egypto:
 
– A edição online deste Observatório traz uma pesquisa inédita sobre as rádios comunitárias no Brasil. A investigação, coordenada por Venício Lima e Cristiano Aguiar, revela um quadro desolador daquilo que poderia ser um importante instrumento para a democratização da comunicação no país. As rádios comunitárias, regulamentadas em 1998, transformaram-se em moeda de troca no jogo da barganha política, suscitando o que Venício e Cristiano denominam “coronelismo eletrônico de novo tipo”.


A pesquisa cobriu o período de 1999 a 2004, cruzou informações sobre 2.205 emissoras autorizadas pelo Ministério das Comunicações e desvendou o cipoal burocrático do processo de autorização. Fica claro que a existência de um ‘padrinho político’ é fundamental tanto para a aprovação do pedido como para acelerar sua tramitação.


Foi possível identificar vínculos políticos em metade dessas rádios e comprovar a de duplicidade de outorga em 26 emissoras – isto é, pelo menos um diretor de uma rádio comunitária pertencente à diretoria de uma outra concessionária de radiodifusão, o que é proibido por lei.
Este cenário só reforça a necessidade de uma revisão profunda no marco regulatório da comunicação eletrônica de massa no Brasil. E já não seria sem tempo.

‘Rádios comunitárias: coronelismo eletrônico de novo tipo (1999-2004) – As autorizações de emissoras como moeda de barganha política’. Leia a apresentação da pesquisa aqui e o relatório final, aqui [arquivo PDF; 1,72 MB].

Concessões de rádio e TV
 
A Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados entregou ontem ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, sugestões para tornar mais rápida e mais transparente a análise de pedidos de concessão e de renovação de outorgas de radiodifusão. Enquanto a internet via banda larga não se generalizar no país, concessões de rádio e tevê continuarão sendo um problema central na comunicação social e, portanto, merecedor de toda atenção.


Classificação adiada
 
A entrada em vigor da portaria do Ministério da Justiça sobre classificação indicativa de programas de televisão foi adiada mais uma vez, devido à pressão das redes de tevê.


Murdoch melhorou a oferta
 
Dias atrás, quando esquentou o noticiário sobre a proposta de compra do Wall Street Journal por Rupert Murdoch, dono da News Corporation, um colunista da revista Forbes escreveu, ironicamente, que o comunicado da família Bancroft, controladora da Dow Jones e do Wall Street Journal, soava como pedido para melhorar a oferta de compra. Não deu outra. Hoje se noticia que a negociação prossegue. Fala-se em garantia de independência editorial para o Journal, mas ninguém acredita muito nisso. Murdoch tem mão pesada.