A oposição amarrada
O presidente do Senado, José Sarney, e o presidente da Câmara, Michel Temer, decidiram adotar uma interpretação segundo a qual as medidas provisórias editadas pelo Poder Executivo não serão mais um obstáculo para a votação de outros projetos que estejam na fila.
Essa é a manchete do Estado de S.Paulo, nesta quarta-feira.
Mas o assunto não interessou tanto à Folha de S.Paulo nem ao Globo, que apenas fizeram registros nas páginas internas e ignoraram o tema na primeira página, embora todos os jornais costumem criticar o efeito da profusão de medidas provisórias que atualmente entulham as duas casas do Congresso e atrapalham a agenda dos legisladores.
A rigor, a medida, que deverá ainda ser referendada pelo Supremo Tribunal Federal, vai ampliar os poderes do PMDB, que dirige tanto a Câmara como o Senado, e restabelecer algum equilíbrio entre o Executivo e o Legislativo.
O Executivo foi consultado e, segundo a imprensa, o próprio presidente da República apoiou a decisão.
Com isso, as medidas provisórias só vão obstruir a tramitação dos projetos de lei.
As outras formas de legislação, como as propostas de emenda constitucional, projetos de lei complementar e projetos de decretos legislativos, poderão transitar independentemente da votação das medidas provisórias.
É quase um ovo de Colombo.
Uma simples análise sobre a natureza dos projetos permitiu tomar essa medida, que deverá ajudar a desobstruir os trabalhos no Congresso, onde existem propostas engavetadas há duas décadas.
No entanto, os jornais passaram ao largo de uma questão que não está contemplada no noticiário de hoje: o que fazer com a oposição.
Esmagados pela maioria governista, os partidos de oposição tinham até agora como principal recurso a obstrução da pauta e o amplo acesso à imprensa, como formas de levar o governo à mesa de negociação.
Publicada assim, sem maiores análises sobre o efeito da medida no longo prazo, a notícia tem pouca serventia.
E contribui para afastar o interesse dos leitores para o que se passa no Congresso Nacional.
Que, afinal, para o bem ou para o mal, decide sobre a vida do País.
A crise do jornalismo
Não há boas notícias para o jornalismo de papel.
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– Foi divulgada anteontem a sexta edição do estudo The State of the News Media, a mais completa radiografia do jornalismo americano, realizada anualmente pelo Projeto de Excelência em Jornalismo do Pew Research Center, um instituto independente de pesquisas. O estudo abarca todas as mídias nas quais o jornalismo pode ser exercido. Apresenta também uma exaustiva análise do conteúdo de quase 80 mil matérias de 48 veículos, um relatório sobre a cobertura das eleições presidenciais americanas, além de tabelas interativas, especiais sobre mídia étnica, jornalismo cidadão e novas iniciativas em jornalismo.
Nada parecido com algum estudo remotamente similiar produzido no Brasil. Mas, embora focado nos Estados Unidos, The State of the News Media aponta tendências que podem ser muito úteis para os estudiosos do jornalismo brasileiro, pelo menos no que representam como efeito-referência. Alguns dados são de arrepiar. As receitas dos jornais diários caíram 23% nos últimos dois anos. Em 2008, um em cada cinco jornalistas empregados em 2001 estava sem emprego. Nas emissoras de TV aberta, as receitas caíram 7% no ano passado, um ano de eleições, enquanto as emissoras a cabo sustentavam duramente sua rentabilidade.
O número de americanos que migrou para a internet em busca de notícias cresceu 19% nos últimos dois anos, e em 2008 o tráfego nos 50 maiores sites de notícias cresceu 27%. Com a crise financeira que eclodiu no último trimestre do ano passado, o cenário ficou ainda mais nublado. De todo modo, o recado dos números é claro. Para sobreviver e manter-se útil, a mídia impressa precisa reinventar-se. E o jornalismo, em quaisquer plataformas, também. E muito rapidamente. Quanto mais não fosse porque, segundo dados do Ibope Nielsen, o Brasil deverá fechar 2009 com quase 70 milhões de internautas, a maioria deles usando banda larga. A hora é agora.