A partilha como recompensa
O governo comemora a vitória de sua proposta de salário mínimo na Câmara dos Deputados, avalia o grau de rebeldia do PDT e a disposição das centrais sindicais – que detêm cargos no Ministério do Trabalho – para se antagonizar a suas políticas. A presidenta Dilma e seus auxiliares mais próximos preparam-se também para “recompensar” os partidos uniformemente fiéis da base aliada por seu desempenho na votação.
Os jornais desta sexta-feira se esmeram em mostrar como está sendo preparada a distribuição de cargos em empresas estatais. Não deixa de ser uma denúncia.
Nomes do PMDB como Geddel Vieira Lima, José Maranhão e Orlando Pessuti já podem contar com vice-presidências da Caixa e do Banco do Brasil.
O farto noticiário sobre as barganhas do governo com a base aliada deixa na sombra duas coisas. Uma, o mapa de ocupação de cargos pelo PT, cujo apetite por colocações na máquina estatal supera o do PMDB e demais partidos aliados. Outra, a explicação sobre a razão de tanto interesse de políticos derrotados por cargos em empresas estatais e órgãos públicos.
Sabemos que Geddel Vieira Lima vai para uma vice-presidência da Caixa. Perfeito. Mas não sabemos o que ele pretende ou pode fazer como dirigente de um banco. Fazer politicamente, é claro. Ou não é?
Guilhotina emperrada
Alberto Dines:
– Uma semana depois, mantêm-se os equívocos, despistamentos e imprecisões em torno da Operação Guilhotina, que cortou a cabeça da banda podre da polícia civil do Rio.
Em parte porque os órgãos de segurança não estão interessados em revelar tudo o que efetivamente aconteceu e, em parte, porque nossa imprensa continua dependente de declarações ou informes oficiais.
O indiciamento pela PF do ex-chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski, por “violação de sigilo funcional” foi interpretado ontem à noite pelos portais e telejornais como punição por ter vazado informações sobre a Operação Guilhotina deflagrada na sexta passada.
É possível que isso também tenha ocorrido, mas a sorte da cúpula da Polícia Civil já estava decidida no final de Novembro do ano passado quando uma fonte alertou o Observatório da Imprensa para o malogro do monitoramento dos negócios dos chefões do narcotráfico chantageados pelos policiais que deveriam prendê-los.
A informação foi categórica: “vai cair todo o mundo, talvez só escape o Allan”.
O briefing sigiloso levou este Observatório a tentar despertar a imprensa da euforia bélica com o sucesso da reconquista da Vila Cruzeiro e do Morro do Alemão (ver ‘A empáfia cega a mídia’ e ‘Os poderosos chefões’).
Àquela altura, há dois meses, estava evidente que o interesse público fora traído por aqueles que deveriam protegê-lo. É possível entender a cautela das autoridades em chamar a atenção para o sofisticado sistema de investigações sobre lavagem de dinheiro.
Mas não cabe à imprensa colocar-se no papel de autoridade selecionando o que pode e não pode ser levado ao conhecimento público. Ou, o que é pior, oferecendo falsas pistas. A história da força tarefa que operava no LAB-LD precisa ser contada, o Valor Econômico teve acesso parcial a ela (ver ‘Software acha ‘máquinas’ de lavar dinheiro’). Agora o cidadão tem o direito de conhecê-la em detalhes.
Se no fim de novembro já se sabia que o então chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski, poderia ser degolado, não faz sentido incriminá-lo por uma guilhotina que começou a funcionar há uma semana.