A profundidade do poço
O Jornal do Brasil deu ontem em manchete interna: ‘Popularidade de Lula no fundo do poço’. Mas o poço pode ser mais fundo. O Ibope deve divulgar nova pesquisa em setembro. A última saiu em agosto. Em relação à pesquisa CNT-Sensus, a situação do governo era pior em cerca de cinco pontos percentuais. Essa discrepância vem se repetindo ao longo do tempo e poderá aparecer novamente.
Economia ajuda
Não será surpresa se a situação da economia brasileira evoluir de forma muito positiva nos próximos meses e der ao governo novo alento. O mais interessante é que o filme segue o roteiro concebido pelo governo e pelos especialistas, o que significa aumento da previsibilidade e, portanto, melhoria das condições para receber investimentos.
Se tudo correr bem, ótimo. O presidente Lula não está sendo antagonizado principalmente por seus méritos, como já aconteceu com outros no passado, mas por seus erros.
A ira de Jefferson
Honra ao mérito para o Globo. O jornal foi objeto da ira de Roberto Jefferson na tribuna da Câmara, ontem, porque o havia desmascarado em 12 de junho, dias depois da entrevista à Folha de S. Paulo na qual o então deputado reagira às denúncias sobre um esquema de corrupção nos Correios.
No domingo passado, o Globo voltou a denunciar, em reportagem sobre corrupção na Polícia Rodoviária, não só Jefferson, mas também o suplente petebista que assumirá sua vaga, Fernando Gonçalves.
Nesta quinta-feira, 15 de setembro, o Globo é o único entre os jornais mais importantes que foge da manchete óbvia, “Cassado Roberto Jefferson”, e olha para a frente, com “Severino: renúncia ou cassação”. O jornal transcreve todas as acusações que lhe foram feitas ontem por Jefferson, e, como fizera o Jornal Nacional da Rede Globo, as rebate.
Gushiken e os fundos
O depoimento do ex-dirigente sindical e ex-deputado Luiz Gushiken ficou em segundo plano no noticiário de hoje, mas é na principal esfera de influência do ex-ministro, os fundos de pensão, que devem ser buscadas explicações cruciais para a crise que o país atravessa.
Poder vigilante
O Alberto Dines pede que o quarto poder, a mídia, continue agindo de modo crítico em face dos outros poderes, no caso, mais especificamente, o Judiciário.
Dines:
– Mauro: os jornais hoje celebram a derrota dos fazedores de pizzas. Ao longo de quatro meses a imprensa manifestou temores de que a Câmara dos Deputados e o governo, juntos ou separados, se associassem para produzir interromper ou disfarçar esta sucessão de escândalos. Os temores não se justificaram, mas de onde menos se esperava veio a jogada mais capciosa desta temporada. Ao acolher uma liminar que sustava a abertura de processo para cassação do mandato de seis deputados petistas, o ministro Nelson Jobim, presidente da nossa corte suprema, mostrou não apenas os seus dotes de pizzaiolo, mas também o seu tremendo apetite político.
O chefe do poder Judiciário nunca escondeu seu projeto de candidatar-se à presidência da República, mas agora, ao interferir tão abertamente em outro poder, o Legislativo, exibe abertamente seu interesse em chegar à chefia do Executivo. Os diferentes poderes da República têm se comportado de forma razoável, confiantes na serenidade do Judiciário. Esta serenidade não se confirmou. O processo de cassação de deputados não é de competência do Judiciário.
A mídia em geral esquece que é o Quarto Poder e não gosta de brigar com juízes, desembargadores e ministros. Por óbvias razões. Mas agora não poderá furtar-se de cobrar do presidente do STF um comportamento, digamos, mais discreto no tocante à crise política. E se a mídia não fizer esta cobrança ao Judiciário, façamos nós uma cobrança à mídia.
Ser e convencer
Dines, a Folha de hoje, que dá as informações mais completas sobre a decisão do presidente do STF, ouviu de advogados apoio ao entendimento de Nelson Jobim. Mas a reportagem deixa claro que se trata de uma mudança de comportamento da mais alta instância do Judiciário. O STF não adotou o mesmo caminho diante de pedido semelhante feito pelo então presidente Fernando Collor.
A Câmara dos Deputados recebeu mal a decisão, porque não se trata apenas de discussão do processo jurídico, mas de uma questão jurídica dentro de um processo político. E, nesse caso, fica difícil acreditar que o ministro agiu movido apenas pela sua consciência de juiz.
O consolo é que ninguém poderá dizer no futuro que aos deputados do PT de José Dirceu e do PP de Severino e Maluf foi negada a mais ampla chance de defesa.