Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A tarefa de quem opina
>>Ideologia e mídia

A tarefa de quem opina


A profusão de acontecimentos que prendem a atenção sem que sejam necessariamente os mais importantes, como a longa novela da cassação de José Dirceu, ocupa o espaço da mídia em detrimento de análises mais articuladas. Pior que isso. Há um conflito entre fatos políticos, criados por protagonistas, e conclusões lógicas. O presidente Lula diz que pretende levar José Dirceu para o palanque de 2006 porque ele foi cassado, nas palavras do presidente, sem provas. Lula procura deixar Dirceu sossegado e passar a idéia de que não há provas contra ele, Lula. Ele tem o poder de criar esse fato político porque é presidente. Mas os repórteres não podem dizer isso em suas notícias. Seriam acusados de facciosismo. A tarefa fica para as páginas de opinião. É nelas que volta a se manifestar a preocupação com um quadro de deterioração ética que terá conseqüências negativas para a democracia.


Financiamento da política


O país pagará um preço cada vez mais elevado pela manutenção de um arcabouço corrupto de financiamento da política. Porque infringir a lei será visto como aceitável, mostra hoje Demétrio Magnoli na Folha de S. Paulo. E porque cada vez menos gente avessa a esse tipo de conduta, os melhores de cada geração, se disporá a ingressar na vida pública.



Pluralidade de vozes


A corrupção na democracia brasileira teve a força de cooptar o PT, que nasceu para ser o oposto disso. Não se trata apenas dos petistas que ocupam cargos públicos, mas da leniência dos militantes petistas diante dos malfeitos, o que é mais grave.


Quem está disposto a viver sem caixa dois de campanha é minoria em quase todos os partidos. Assim, os principais atores políticos não têm muito interesse em mexer nos fundamentos do sistema.


Isso arrasta a mídia. Mas as mudanças no campo da imprensa, principalmente a possibilidade de participação do público aberta pelas novas tecnologias, transformam toda a equação do jornalismo. E afetam também a política de um modo que ainda não se entende direito. Nunca houve tanta manifestação escrita de opinião dos cidadãos como existe agora na internet.



Ideologia e mídia


O Alberto Dines constata um cerco crescente da imprensa na em função da disputa ideológica.


Dines:


– O que chamou a minha atenção na sabatina com José Dirceu no Observatório da Imprensa, na última terça, foi a sua despreocupação no tocante à dupla pressão ora em curso contra a imprensa. A esquerda – no caso ele, o governo e parte do PT – tem feito críticas violentas contra a atuação da imprensa. Mas também certos grupos de direita, por enquanto ainda disfarçados, vêm acusando a imprensa de ser complacente com Lula e infiltrada pelo lulismo.


Ficou parecendo que a José Dirceu não interessava pintar o quadro com as suas verdadeiras cores, para que ele não seja obrigado a refrear suas denúncias neste início da temporada eleitoral. E na medida em que certos setores da esquerda, por uma questão de sobrevivência, não afrouxarão sua pressão contra a mídia, é evidente que a direita também não largará o osso.


Está começando a ficar evidente que o primeiro round da próxima disputa ideológica começa com o cerco à imprensa.


Jacinto de Thormes


Morreu ontem no Rio de Janeiro Maneco Muller, que assinou como Jacinto de Thormes a primeira coluna social moderna do Brasil. Há cinqüenta anos, Jacinto entrou com outro colunista famoso, Ibrahim Sued, na letra de um samba popular, Café Society, de Miguel Gustavo. Para fugir de detalhes dispensáveis, explica hoje o Globo, criou o bordão “depois eu conto”, que passou para a linguagem do povo.



Mulheres nas redações


A pesquisadora Alzira Abreu, do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, organizou com Dora Rocha o livro Elas ocuparam as redações. Mostra uma realidade da imprensa brasileira ainda não captada pelo grande público.


Alzira:


– A partir de uma pesquisa que nós fazíamos sobre a transição democrática no Brasil, com jornalistas, com a imprensa, nós verificamos que as mulheres, no final dos anos 1960, anos 70, ocuparam as redações. Elas foram pouco a pouco ocupando cargos importantes, principalmente como colunistas importantes nos jornais. E, também, no jornalismo de televisão.


Elas conseguem fazer sucesso no trabalho delas. Agora, eu não sei dizer se o jornalismo mudou em função da entrada das mulheres na redação. Hoje elas são às vezes mais de 50% de mulheres nas redações. Não sei se isso alterou o jornalismo. Eu acho que não. Elas podem ter dado maior seriedade ao trabalho delas, mas isso não altera a qualidade do jornalismo.