A violência nos jornais
A notícia alentadora sobre a redução do número de homicídios em todo o Brasil está em todos os jornais, mas apenas a Folha de S.Paulo deu ao tema um tratamento de primeira.
Além de dedicar cinco páginas à análise do ‘mapa da violência’, a Folha tratou o assunto como um problema nacional.
O Estado de S.Paulo, ao contrário, destacou os números de São Paulo e o Globo deu apenas uma página, com destaque para a situação do Rio.
Provincianismo ou interesse político, pouco importa: Globo e Estadão ficaram devendo a seus leitores.
A pesquisa, que considera os números das mortes violentas entre 1996 e 2006, mostra que o índice de assassinatos cresceu mais do que a população, mas também revela uma diminuição importante a partir de 2003.
Segundo os autores do estudo, citados pelos jornais, a conclusão é que a campanha de desarmamento de 2004, que permitiu recolher cerca de 500 mil armas de fogo da população, foi o ponto de partida para a diminuição da estatística de mortes violentas no Brasil.
O Estadão destaca que a capital paulista caiu 310 posições no mapa das cidades com mais assassinatos, proporcionalmente à população. A capital mais violenta, nesse aspecto, é Recife, seguida de Vitória, Maceió, Porto Velho e Palmas.
O Rio de Janeiro, destaque do Globo, é a cidade brasileira com o maior número absoluto de assassinatos de jovens entre 15 e 24 anos.
As estatísticas sobre a violência no Brasil se encontram com outro tema que tem freqüentado o noticiário nos últimos dias: o estudo publicado hoje pelos jornais revela uma grande coincidência entre o desmatamento e a violência. Dos 36 minucípios responsáveis por metade da derrubada de árvores na Amazônia, nada menos do 23 estão na lista dos mais violentos.
A ausência do poder público, ou a corrupção das autoridades, está na raiz dos desmatamentos, na raiz do trabalho escravo e dos assassinatos.
Nada a comemorar
Os jornais comemoram o aumento na circulação, mas os números absolutos ainda revelam um universo de leitura muito reduzido.
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– Relatório do Instituto Verificador de Circulação mostra que no ano passado o número de exemplares de jornais vendidos no Brasil aumentou 10,1% em relação a 2006. Este dado se refere aos 92 títulos filiados ao IVC, todos de circulação paga. Os números não consideram os jornais de distribuição gratuita.
Matéria publicada anteontem no Estado de S.Paulo destaca que o maior crescimento se deu nos jornais de baixo custo – caso do mineiro Super Notícias, que custa 25 centavos e viu crescer suas vendas de 147 mil exemplares/dia para 301 mil cópias em média diária, num período de 12 meses.
Os números risonhos, porém, escondem uma taxa de leitura ainda medíocre no Brasil. Segundo a Associação Mundial de Jornais, em 2005 apenas 45,3 em cada mil brasileiros compravam jornais diariamente – taxa bem menor que a verificada no México (148,4 em cada mil) e na Argentina (94,2 leitores em cada mil habitantes).
Outro dado complicador é a acentuada migração do jornal físico para a internet, sobretudo entre os mais jovens. Para conquistar novos públicos, só investindo em qualidade. E neste quesito os jornais impressos ainda precisam comer muito angu.
Uma mensagem de Armando
O governo do Rio presta homenagem ao jornalista Armando Nogueira.
Alberto Dines:
– Ontem no Palácio das Laranjeiras no Rio de Janeiro foi entregue ao jornalista Armando Nogueira a Grã-Cruz da Ordem do Mérito das Comunicações. Na presença do ministro Hélio Costa, do governador Sérgio Cabral e de um pequeno grupo de jornalistas cujo tempo de profissão somado daria uns 500 anos, Armando Nogueira, considerado o Machado de Assis da crônica esportiva, fez um brevíssimo discurso. No fim deixou esta mensagem que é uma lição, um credo e uma profissão de fé não apenas para os profissionais de imprensa mas também para o público: ‘Jornalista só tem prestígio, enquanto não usa este prestígio’.