A volta da euforia
Passado um ano de crise financeira internacional, os jornais brasileiros transitaram do mais tenebroso catastrofismo para uma insistente desconfiança e agora embarcam alegremente na celebrada volta da pujança total aos mercados.
É manchete ou destaque na maioria dos diários, nesta terça-feira, a notícia de que o banco Santander prepara a emissão de ações na Bolsa de Valores de São Paulo, em volume bilionário, como nos recentes tempos da euforia total.
Os detalhes da operação disponíveis na imprensa informam que o banco de origem espanhola deve inaugurar a retomada com o lançamento de ações no total aproximado entre R$ 11 bilhões e R$ 13 bilhões, o que representaria a maior oferta pública de ações no mercado nacional em todos os tempos.
Os analistas estão de olho em detalhes como o volume da distribuição de lucros aos acionistas e as condições da oferta de crédito após essa operação, fatores que podem indicar o estado de confiança do mercado e confirmar a condição do Brasil como líder da retomada do crescimento econômico mundial após a crise.
No entanto, os jornais ainda se apresentam pouco críticos em relação às condições em que se processa a retomada da economia.
A Folha de S.Paulo é o único dos grandes diários que chama a atenção dos leitores para o fato de que a crise econômica internacional reforçou a concentração do setor bancário no Brasil.
Sabe-se, embora não seja tema frequente no noticiário, que a reforma iniciada em 1995 com o Proer – Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional – tornou mais sólido o sistema, porém não produziu melhores condições de concorrência entre os bancos.
Com isso, nem sempre o sucesso de uma operação como a anunciada nesta terça-feira corresponde a benefícios para a sociedade como um todo.
Concentração significa menos alternativas e menos poder de barganha para os clientes, diante das taxas de juros e de serviços cobradas pelos bancos.
Quando celebra a retomada do crescimento econômico, a imprensa deveria perguntar, como a citação latina: “Cui bono?” – quem ganha com isso?
Observatório na TV
O presidente Lula da Silva declarou em Nova York, onde foi receber um prêmio internacional ao serviço público, que pretende promover no Brasil um debate sobre políticas públicas para a democratização da internet.
Esse é o tema do Observatório da Imprensa na TV, nesta terça-feira.
Especialistas convidados, entre os quais o cientista político Marcus Figueiredo, o jornalista Caio Túlio Costa e o senador Eduardo Azeredo, irão debater o uso da internet durante o processo eleitoral, tanto em relação às campanhas quanto em relação ao noticiário sobre as eleições.
O senador, que relatou o projeto de reforma eleitoral, provocou polêmica ao propor a proibição aos portais de empresas de comunicação social de veicular na internet pesquisa que contenha manipulação de dados ou dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação sem motivo jornalístico que o justifique.
Depois, voltou atrás e encaminhou novo texto, propondo a liberdade na internet durante as eleições.
O novo texto do relator retira as restrições à web impostas anteriormente e determina que “é livre a manifestação do pensamento, vedado o anonimato durante a campanha eleitoral”.
No entanto, há controvérsias sobre a eficácia e a conveniência da proposta.
Uma das questões é como regular e assegurar o direito de resposta em condições compatíveis com o eventual dano causado por postagens maliciosas ou incorretas – fatos muito comuns durante as campanhas eleitorais.
O Observatório da Imprensa passará a ser exibido a partir desta terça-feira, às 23 horas.
Ao vivo na TV Brasil, em rede nacional.
Em São Paulo pelo canal 4 da Net e canal 181 da TVA.