Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Agora é comédia!
>>Escondendo a História

Agora é comédia!


A imprensa registra de maneira desigual a decisão do Supremo Tribunal Federal liberando a gozação de candidatos em programas humorísticos veiculados pela mídia.


De quebra, a imprensa em geral também ganhou o direito de divulgar críticas diretas de jornalistas a políticos em período de campanha eleitoral.


Dessa maneira, fica suspensa a aplicação do artigo 2, correspondente a essas restrições, que constavam da Lei 9.504, aprovada em 1997.


O Estado de S.Paulo, que havia tratado do assunto quando a proibição estava em vigor, agora ignorou completamente a liberação.


A decisão do STF poderia ser motivo para celebração, talvez uma festa da democracia.


Mas há muita controvérsia sobre as escolhas da mídia, seja no material considerado sério, dito jornalístico, seja nas produções de entretenimento, como as novelas e os programas humorísticos.


As preferências das empresas de comunicação nem sequer são camufladas, e não apenas nos jornais e revistas de circulação nacional. Também na imprensa regional são visíveis as escolhas políticas, para um lado ou para o outro do espectro partidário.


Portanto, pode-se esperar um festival de manipulações no mês que antecede o primeiro turno das eleições.


O ministro Carlos Ayres Britto, autor da liminar que na semana passada havia liberado provisoriamente as piadas sobre candidatos na TV e no rádio durante o período eleitoral, declarou considerar a atividade de humoristas como uma das atribuições da imprensa.


Trata-se de uma inovação interessante, a ser incluida nos currículos das faculdades de comunicação.


Principalmente depois que eles foram tornados inócuos, por conta de decisão anterior do STF que eliminou a obrigatoriedade do diploma específico para o exercício da profissão.


Talvez, inspirados por essa curiosa interpretação, os diretores de redação comecem a pensar na criação do cargo de editor de piada.


Não se pode afirmar que, com isso, a qualidade da imprensa brasileira venha a sofrer um impacto positivo.


Mas certamente vai ficar mais engraçado ler jornais e assistir os noticiários da televisão, uma vez que agora é permitido fazer “trucagem, montagem, ou outro recurso de áudio e video que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação”, conforme determinava o artigo suspenso.


Só não se pode afirmar que, com isso, a qualidade da imprensa brasileira venha a sofrer um impacto positivo.


Vai ficar apenas mais coerente: os candidatos de quem a imprensa não gosta vão todos virar Tiriricas.


Escondendo a História


Alberto Dines:


– A primeira guerra do século XXI foi iniciada em 7 de Outubro de 2001 com a invasão do Afeganistão  e ainda está em curso, nove anos depois. A segunda guerra do novo século, contra o Iraque do tirano Saddam Hussein, foi formalmente encerrada nesta terça-feira, quando o presidente Barack Obama  cumpriu a promessa eleitoral e declarou encerradas as missões de combate no país. Nenhum dos jornalões brasileiros destacou a data nas capas e os registros nas páginas internas foram irrisórios. Sete anos e meio de uma guerra total (20/3/2003 a 31/08/2010), meio milhão de mortos civis, o país destroçado por uma  guerra religiosa infindável, o caos político implantado e ao cidadão brasileiro não se oferece a oportunidade de perceber a importância do que ocorre à sua volta. O fato de que permanecem no Iraque 50 mil militares ianques para garantir a segurança do país não é justificativa para o desleixo do noticiário. Quando a 2ª Guerra Mundial acabou na Europa, (8 de Maio de 45), um contingente muito maior de soldados americanos, ingleses e russos permaneceu na Alemanha para garantir o fim das hostilidades. Ainda que as conseqüências da aventura militar iniciada pelo presidente Bush prolonguem-se por uma ou duas décadas, o anúncio feito pelo presidente Obama seria uma excelente oportunidade para que a mídia reexaminasse a sua vexatória participação no engodo mundial que  culminou com a catastrófica invasão do Iraque. Saddam Hussein blefou durante  quatro anos a respeito da posse de armas de destruição massiva, Bush, sua claque e o boboca Tony Blair deixaram-se enganar e logo depois constatou-se que no Iraque não havia qualquer traço de armas atômicas, nucleares ou biológicas.  O fiasco político-midiático não deveria ser lembrado nesta terça-feira quando Obama declarou que encerrava o engajamento americano nos combates ? A invasão do Iraque exacerbou definitivamente o confronto entre xiitas e sunitas, tornou todo o mundo islâmico um grande barril de pólvora e aqueles que deveriam fazer cobranças, distraíam-se com irrelevâncias. O mundo vai mal porque a imprensa já não sabe o que importa nem consegue apontar o que é transcendente.