Alckmin: faltaram temas cruciais
O governador Geraldo Alckmin saiu-se bem no Roda Viva da TV Cultura, ontem à noite, e isso se via em seu sorriso de contentamento. Mas os entrevistadores, que procuraram cobrir sem concessões tópicos momentosos, embora em alguns casos superficiais, deixaram de lado muitos temas mais importantes para o homem do povo: educação, saneamento, saúde, habitação, segurança pública (discutida apenas de modo marginal).
Se a campanha eleitoral for por esse caminho, servirá mal para esclarecer o que mais importa.
Cobertura seletiva
O gosto da imprensa pelo insólito, mesmo ao preço do relevante, é queixa do ex-deputado federal Wagner Rubinelli, que exerceu o mandato na vaga de Ricardo Berzoini enquanto esse era ministro, e deixou o PT pelo PPS após os escândalos do mensalão. Rubinelli apresentou projetos importantes, como o da criação de uma Justiça Ambiental no Brasil, que nunca foram noticiados. Diz que a mídia adora bizarrices irrelevantes, como a proposta, feito pelo atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo, de criação do Dia do Saci-Pererê.
Rubinelli:
– Muitas vezes o que é correto, bons projetos, coisas interessantes não são divulgadas. Talvez até o interesse do cidadão seja por coisas bizarras. Mas a imprensa deveria também pegar os bons projetos que existem na Câmara, mostrar para o cidadão o outro lado.
Outra coisa é que, se existe hoje o baixo clero, e os deputados que se destacam mais, também talvez seja por conta de a imprensa não divulgar o trabalho de todos os parlamentares de forma igual. A imprensa nomeia alguns parlamentares e diz: São esses que devem ser entrevistados. Para que haja democracia nos meios de comunicação seria preciso que a imprensa seja um pouco mais criteriosa e discriminar menos aqueles parlamentares que não fazem parte do tido como alto clero.
Partidos irmanados
Para quem reclama da ausência do PSDB do noticiário sobre trambiques com dinheiro de campanha eleitoral, a Folha dá hoje na primeira página notícia sobre pagamento feito por candidatos tucanos a uma empresa que também recebeu dinheiro de campanhas petistas. Os partidos são solidários no caixa dois.
Quatro séculos de jornal
O Alberto Dines relembra um aniversário de quatro séculos que a crise fez a imprensa esquecer.
Dines:
– A crise política e a cruzada contra imprensa não permitiram que a própria imprensa se lembrasse de comemorar os 400 anos da criação do Jornal. No verão europeu de 1605 criou-se em Estrasburgo – antiga Alemanha, hoje França – o primeiro jornal impresso de que se tem notícia. O nome era enorme, Relação de todas as histórias importantes, dignas de serem lembradas, mas na verdade o que ele pretendia era apenas registrar os fatos que mereciam ser registrados. Estava criado um meio que acabou mudando a história do mundo. O jornal criou o jornalismo, o jornalismo produziu uma revolução cultural jamais igualada. Isso não significa que o jornal e o jornalismo sejam infalíveis e isentos de erros. Erram e às vezes erram grosseiramente. Não apenas aqui, também nos Estados Unidos e Europa. Significa que o jornal está condenado a desaparecer? Os avanços da Internet podem favorecer ou prejudicar o jornal? É isso que vai ser discutido hoje à noite no Observatório da Imprensa pela TV. Às 10 e meia pela rede da TVE. Às 11 pela rede Cultura.
Patriotadas e preconceitos
Manipulação e preconceito não estão ausentes do noticiário desta terça-feira, 13 de dezembro, sobre a Varig. Nos jornais de Nelson Tanure, JB e Gazeta Mercantil, celebra-se com mão de gato o que seria a manutenção da Varig em mãos brasileiras. Mas nos outros grandes jornais essa brasilidade é matizada. Todos mencionam que Tanure é baiano. Forma embuçada de reforçar as desconfianças do mercado em relação à marca registrada das operações de Tanure, que costumam deixar credores a ver navios e empregados na pior.
O Globo vai além. Abre o perfil do empresário, que é um concorrente, apresentando-o como “filho de imigrantes libaneses”. Quando Silvio Santos, outro concorrente, se lançou candidato a presidente da República, em 1989, o Globo se referiu às “origens greco-judaicas”, ou algo parecido, do apresentador. A Folha também menciona o pai libanês de Tanure, no fim do texto. O Estadão e o Valor ficam só na baianidade.