Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Alegria, alegria
>>Pede-se civismo

Alegria, alegria


O Painel da Folha de S. Paulo desta sexta-feira, 19 de agosto, avança léguas, em algumas notas, sobre o submundo das orgias em Brasília. Está cada vez mais difícil manter o assunto em low profile.


A elite e o submundo


Há no Brasil um problema que a crise do “mensalão” põe em evidência. Existe uma vasta, vastíssima zona cinzenta em que indivíduos das classes de renda alta e média e grupos do submundo se cruzam o tempo todo. É onde se acham serviços de contrabandistas, “piratas” de software e hardware, doleiros, prostitutas, traficantes de drogas ilegais, policiais, juízes e outras autoridades subornáveis. E onde empresas que já escorregaram para a informalidade dão mais um volta no parafuso e compram matéria-prima ou mercadoria roubada. Sem falar na extensão da lavagem de dinheiro, maior do que se imagina.


Pede-se civismo


O Alberto Dines propõe a instituição de um prêmio para o veículo que fizer editorial propondo que o governo use em atividades urgentes o dinheiro do rompido contrato com Duda Mendonça. Fala, Dines.


Dines:


− Mauro: os meios publicitários ontem estavam excitadíssimos com a noticia de que as empresas de Duda Mendonça perderam o contrato de 150 milhões de reais por ano com a Presidência da República. Evidentemente, alguém vai abiscoitar, se não toda, pelo menos grande parte desta apetitosa verba de publicidade. Mas será que não seria mais útil investir esta dinheirama em programas sociais ou obras de infra-estrutura?


Claro que atrás do apetite das agências de publicidade está também o apetite dos departamentos comerciais das empresas de comunicação. É a mídia que veicula esta publicidade e recebe grande parte desta verba. Resta saber se algum veículo de comunicação terá coragem de escrever um editorial sugerindo ao governo que destine estes 150 milhões de reais para outros fins que não a publicidade ou o marketing. Sugiro aos leitores mais atentos que façam um monitoramento a partir de hoje. O veículo que assumir esta heróica posição merece o Prêmio Nacional de Civismo. É bom não esquecer que o valerioduto começou com contratos de publicidade oficial e acabou no mensalão.



Em Minas Gerais


Como é vivida fora do circuito Brasília-São Paulo-Rio a crise do “mensalão”?


O editor de política do Estado de Minas, Rodrigo Gini, constata que o sentimento dos leitores do jornal é, como no país inteiro, de indignação. Rodrigo pensa que o público anda meio perdido com o excesso de informação, denúncias que se misturam.


“A imprensa cumpre um papel interessante”, diz o jornalista, “mas acaba saturando o leitor”. A tiragem do jornal, cuja média varia entre 95 mil e 100 mil exemplares e havia caído em junho, em comparação com maio, segundo o Datafolha, está aumentando, diz Rodrigo Gini.


Crase humilhante


Como dizia Ferreira Gullar, a crase não foi feita para humilhar ninguém, mas hoje há uma de lascar num título da página 7 da Gazeta Mercantil: “Empresário prefere Alckmin à Serra”. Esse “a” aí é só uma preposição, gente, não tem contração com artigo. Se tivesse, seria “ao Serra”. Ou Serra teria que ser sobrenome de uma mulher.


Cheiro de PRI mexicano


Clovis Rossi revela hoje na Folha de S. Paulo que o presidente Lula tem tido contato com o povo em verdadeiras “cidades cenográficas”, em atos de massa de mentirinha. Rossi alude às técnicas do PRI, Partido Revolucionário Institucional, quando estava no poder.


Em 1976 um amigo meu resolveu entrar num comício do PRI na Cidade do México, para ver como era um ato do partido que fez a primeira revolução do século XX. Descobriu que os funcionários tinham sido liberados e levados em ônibus para o grande teatro. A horas tantas, cansou-se da discurseira e se virou para as portas por onde havia entrado. E então descobriu que não podia sair. Seguranças grandalhões estavam lá postados e um lhe disse: “Ninguém sai antes do fim”.