Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Apenas picuinhas
>>O futuro da TV pública

Apenas picuinhas

A observação do noticiário político nos últimos meses revela um fenômeno preocupante: a oposição ao presidente da República perde expressão progressivamente, o que pode revelar a ocorrência de sério desequilíbrio nas relações de poder.

Não que os representantes oposicionistas tenham perdido espaço na imprensa: pelo contrário – sempre que buscam um repórter ou colunista para manifestar suas opiniões, encontram amplo resguardo nas páginas dos principais jornais.

O que se pode observar, claramente, é que a temática do debate político se torna cada vez mais restrita e pontual, e progressivamente distante dos grandes problemas nacionais.

Nesta quarta-feira, por exemplo, enquanto o Estado de S.Paulo e o Globo ainda acompanham os embates em torno do controle da CPI da Petrobrás, a Folha de S.Paulo simplesmente ignora o Congresso Nacional, refererindo-se apenas ao julgamento do deputado Edmar Moreira, o senhor do castelo.

O tema da reforma política foi para a “cesta seção”, com c, como se diz no jargão jornalístico, ou seja, a cesta do lixo.

O Estadão dá como certo que dez dos maiores partidos decidiram abandonar a proposta.

Com a aproximação da disputa presidencial no ano que vem, a tendência é que os congressistas se afastem ainda mais das questões de fundo, dedicando-se a ocupar o espaço da mídia com assuntos mais ruidosos e de curto prazo.

A imprensa simplesmente acompanha os movimentos dos parlamentares e não se revela capaz de propor uma agenda mais consistente, ou de arrancar do mundo político expressões mais representativas do que as costumeiras picuinhas partidárias.

Para o leitor distraído, que se alimenta das manchetes dos jornais, pode ficar a impressão de que o Congresso nada apenas na superfície da política e de que a imprensa não consegue mais do que reproduzir as intrigas do dia.

O futuro da TV pública

Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

– Começou ontem e vai até amanhã, em Brasília, o II Fórum Nacional das TVs Públicas, com pauta focada nas formas de financiamento das emissoras, nos desafios apresentados pela migração do sistema analógico para o digital, nos marcos regulatórios e, não menos importante, no conteúdo da programação. O evento é promovido por quatro entidades do campo da mídia pública: Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec), Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU), Associação Brasileira das Televisões e Rádios Legislativas (Astral) e Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCcom).

Em artigo publicado na edição online deste Observatório, o jornalista Antonio Achilis, presidente da Rede Minas e da Abepec, antecipou um debate sobre a avaliação DE desempenho das emissoras públicas. Devem as TVs públicas operar com vistas à conquista da audiência e nela ter o seu referencial de sucesso? Ou, em vez de falar apenas aos consumidores, reconhecer que sua missão maior é contribuir para a formação crítica dos cidadãos?

Não há dúvida que a segunda alternativa tem mais a ver com o escopo das emissoras públicas, mas nem sempre tem sido assim. Ainda persiste o vício, aqui e acolá, nas emissoras ou fora delas, de medir o desempenho das TVs públicas pelo mesmo metro usado pelas estações comerciais. Embora haja legitimidade nos critérios adotados pela TVs comerciais, Achilis defende que do Fórum surja a recomendação para que as TVs públicas aceitem apenas publicidade institucional, e abram mão das mensagens publicitárias que não tenham caráter de serviço público.

É um belo desafio, tão importante quanto as formas de financiamento dessas emissoras, sobretudo quando se reconhece nelas um contraponto mais que necessário à mesmice emburrecedora da TV comercial.