Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Ainda a cantilena sobre a mídia
>>Politização fora do lugar

Ainda a cantilena sobre a mídia

 

Alberto Dines:

 

Na festa de ontem à noite, as camisetas do presidente Lula e de alguns dos seus ministros diziam que a reeleição foi uma vitória do Brasil. A intenção era lançar as bases da reconciliação nacional. Infelizmente ficou na intenção. No seu primeiro pronunciamento, o presidente reeleito não conseguiu desativar o clima de palanque e declarou que o “povo foi incitado a ter dúvidas sobre o seu governo, mas o povo sabia o que era verdade e o que não era verdade”. Ora, o povo foi incitado por quem? Dúvidas sobre o quê?
Que verdade?

 

A não ser que o próprio presidente faça algum gesto para desmentir esta impressão, tudo indica que ele não conseguiu esquecer a cantilena a respeito da mídia. Sem a mesma veemência das últimas semanas é verdade – mas com o mesmo espírito.

 

A festa transformou-se numa entrevista coletiva improvisada. E em matéria de mídia – foco central deste Observatório – o saldo não foi auspicioso. Foram escolhidos apenas quatro jornalistas para fazer perguntas, não tiveram direito a réplica e, o pior, o presidente foi na direção contrária da gratidão à mídia manifestada no debate da Record há exatamente uma semana.

 

Politização fora de lugar

 

O comportamento de mídia nas eleições de 2002 foi bastante razoável. E por que ? Porque a mídia sabia que estava sendo observada e quem se sente observado, em geral, toma mais cuidado. Agora, em 2006, a coisa mudou. Quem ultrapassou o sinal foram os observadores da mídia. Ou melhor, alguns observadores de mídia que insistem em politizar algo que não pode nem deve ser politizado sob pena comprometer a sua própria função.

 

IstoÉ poupada

 

É preciso lembrar que, em alguns momentos nesta campanha, a discussão sobre o desempenho da mídia chegou a sobrepor-se à discussão sobre as privatizações ou mesmo sobre a questão do gás boliviano. Mas, curiosamente, os mesmos críticos da imprensa não se lembraram de examinar o único desempenho 100% vergonhoso do episódio Vedoin – o papel da revista IstoÉ, pivô e razão de ser de todo o escândalo.

 

Olhar para o futuro

 

A mídia não errou? Claro que a mídia errou, mas não como instituição. Assim como não se pode dizer que o Partido dos Trabalhadores armou o Dossiê Vedoin mas, sim, alguns seus militantes “aloprados”, da mesma forma não se pode lançar suspeitas sobre uma instituição que será essencial para a conciliação nacional.

 

Ressaca eleitoral

 

O Estado de S.Paulo foi o mais “alckimista” da imprensa nacional. Foi alckmista mesmo antes da escolha de Alckmin, foi peça-chave na oposição à candidatura de José Serra pelo PSDB. O jornalão deve ter acordado nesta manhã com dose dupla de ressaca.

 

Sarney derrotado

 

Antes que se comece a dizer que a mídia gaúcha foi a responsável pela vitória de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul é preciso lembrar que Roseana Sarney foi derrotada apesar do férreo controle que a sua família exerce sobre a mídia no Maranhão. Comparativamente, o poder dos Sarney é ainda mais forte já que se exerce tanto no plano político como no plano da mídia. É bom não esquecer que o leitor lê, o eleitor vota.

 

Para não esquecer

 

Os debates pela TV, as entrevistas às rádios e as sabatinas nos jornais ofereceram ao eleitorado mais subsídios do que os horários da propaganda comandados pelo TSE. Nunca houve tal participação da mídia. Este é um dado que não pode ser esquecido quando se discute o desempenho da mídia nestas eleições de 2006.