Bonança no Planalto
O presidente da República e a imprensa chegam ao fim do ano em clima de paz.
O café da manhã com repórteres, promovido ontem no Palácio do Planalto, transcorreu em ambiente de cordialidade, e a celebrizada habilidade de Lula para as conversações improvisadas dominou o encontro.
Apesar de não ter sido permitido anotar ou gravar a conversa, o presidente respondeu a todas as perguntas com bom humor durante uma hora e meia, e até propôs algumas pautas aos jornalistas.
No encerramento do ano em que sofreu sua maior derrota no Congresso, com a extinção da CPMF, o presidente também parece ter retomado as condições para uma política de comunicação mais apropriada.
Segundo o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, o único representante do ministério a participar do encontro, o presidente concedeu em 2007 152 entrevistas, 60 a mais do que no ano anterior.
Mas Lula se referiu de passagem ao ano de 2004, quando anunciou o ‘espetáculo do crescimento’ e passou os doze meses apanhando da imprensa por causa disso.
No final, cobrou o reconhecimento de que o crescimento, afinal, está acontecendo.
Relações respeitosas entre a imprensa e o poder são um pressuposto da democracia.
Até aqui, o governo petista e a mídia vêm convivendo às trombadas, com a imprensa reclamando da falta de contatos mais freqüentes com o presidente e Lula se queixando de perseguições e má-vontade da imprensa.
O ápice dos desencontros neste ano aconteceu durante o processo de votação da CPMF, quando a mídia, claramente, se posicionou contra a prorrogação.
Além do espaço preferencial concedido à oposição, os jornais acabaram pecando por dar destaque a especulações sobre vinganças do governo e aumento da carga tributária após a derrota no Senado.
Ontem, na conversa com os repórteres, Lula colocou uma pedra sobre o assunto e afirmou que não vai propor nenhum pacote econômico para superar a falta dos 40 bilhões de reais que entravam nos cofres públicos todos os anos.
Os jornais agasalharam as ponderações do presidente.
Quem sabe, inauguramos 2008 com uma imprensa mais interessada em informação do que em opinião.
E com um presidente mais disposto ao diálogo do que ao discurso.
Um ar de decadência
A crise na mídia tradicional, que não respeita fronteiras, se manifesta muito claramente nos veículos que misturam jornalismo com entretenimento.
Mas quando as operações marqueteiras influenciam as decisões editoriais, a reputação vai por água abaixo.
Rankings, pesquisas e destaques do ano costumam ocupar as páginas da mídia em dezembro, e nem tudo é puro jornalismo.
Dines:
– A escolha de Vladimir Putin pela revista Time como personalidade do ano merece algumas reflexões sobre os seus padrões de jornalismo e os padrões de jornalismo vigentes no mundo. Não é a primeira vez que a revista que revolucionou a imprensa semanal escolhe como figura do ano uma personalidade não apenas controversa, mas claramente oposta ao exercício do jornalismo livre. Putin não é o primeiro ditador festejado pela revista Time, Hitler e Stalin também foram. Time jamais escondeu suas preferências conservadoras, mas ao festejar o novo czar da Rússia, adota a mesma estratégia à qual se entregam outros veículos em processo de decadência: quer fazer barulho, chamar a atenção. Não se trata de uma opção jornalística, mas de uma opção marqueteira. Não houve eleição, foi uma decisão da diretoria da publicação. O fato de Al Gore ter ficado em segundo lugar, é uma jogada política para favorecer os grupos empresariais americanos que detestam a defesa da ecologia e a defesa do meio ambiente. O jornalismo mundial já viveu momentos mais dignos e mais decentes.