Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Saudade da CPMF
>>Notícia Velha

Saudade da CPMF

Alguns entrevistados nos jornais de hoje já ponderam que teria sido melhor prorrogar a validade da CPMF.

As medidas tributárias anunciadas quarta-feira pelo governo ainda estão sendo digeridas pela imprensa, mas claramente se percebe quais setores ficaram mais desgastados com o aumento de tributos.

O setor financeiro, que deverá arcar com uma alíquota maior na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, ameaça repassar o custo para os clientes.

E a indústria começa a plantar na imprensa previsões de dificuldades para a economia em 2008.
O direito de espernear é universal.

Mas é dever da imprensa filtrar e ponderar as manifestações dos descontentes.

O que se lê nos jornais de hoje é uma tentativa de explicar o conjunto de medidas anunciadas no dia 2, mas o resultado é uma colcha de retalhos costurada em economês.

Com exceção da Folha de S.Paulo, que fez um esforço para traduzir o assunto em figurinhas, o noticiário dos jornais ainda é complexo.

Para a maioria dos leitores, é naturalmente difícil entender todo o quadro macroeconômico que deverá resultar das medidas do governo, por causa da própria complexidade do sistema tributário.

Além disso, mistura-se a manifestações de empresários e economistas o discurso dos políticos, o que torna o noticiário ainda mais confuso.

O leitor está preso no emaranhado de siglas e opiniões.

A imprensa não está fazendo a lição de casa direito.

Primeiro, foi surpreendida pelo anúncio das mudanças, embora alguns colunistas afirmem que elas eram esperadas e inevitáveis.

Depois, deixa no ar uma série de perguntas sem resposta.

Uma delas: se a própria imprensa vem noticiando que a explosão do consumo pode estimular a inflação, como devem ser analisadas as medidas que inibem o consumo?

O Executivo também não ajuda a esclarecer. Não apenas pela aparente dificuldade – ou desinteresse – do ministro da Fazenda em falar o português de todos, em vez do economês, mas também pela já folclórica inabilidade do atual governo no trato com a opinião pública.

Notícia velha

A passagem do clima de festas para a dura realidade foi demais para a imprensa.

O Globo, por exemplo, mal pôde completar sua manchete sobre o ‘bailão da paz’ em Copacabana e já foi obrigado a encarar a velha rotina dos tiroteios e mortes.

O choque com a realidade faz o clima de fantasia parecer notícia antiga.

Alberto Dines:

 

– O Ano Novo parece velho, estamos no dia 4 de janeiro e o que aconteceu à zero hora do dia primeiro parece coisa do passado. Este envelhecimento precoce não se deve à velocidade dos nossos tempos,  a culpa é dos grandes buracos no noticiário que deixam a visão da realidade ultrapassada e incompleta. Como já foi mencionado, os jornalões não saíram na terça-feira porque foram antecipados para a véspera. Por essa razão o noticiário das festanças populares saiu dois dias depois, atrasado, muito atenuado e visivelmente incompleto. O caso mais flagrante foi o do Globo com a baita manchete no melhor estilo oba-oba: ‘Bailão da Paz abre 2008’. O tal ‘bailão’ pode ter acontecido, mas ‘paz’ é força de expressão. No dia dois de janeiro, o jornal era obrigado a reconhecer que seis pessoas foram baleadas nas areias de Ipanema e Copacabana – uma morreu e cinco ficaram feridas. É pouco, é muito? Depende dos paradigmas adotados, mas não são dados irrelevantes. Uma coisa é certa: o jornalismo de adivinhação é muito perigoso. Hoje,  quatro dias depois, a polícia carioca admite que mesmo a expressão ‘bala perdida’ parece indevida  porque pressupõe tiroteios indiscriminados que aparentemente não aconteceram. E isso é grave. Como os jornalões paulistanos não adotaram o clima de oba-oba pouparam-se de gafes, mas o seu leitor até hoje não sabe com exatidão o que aconteceu na avenida Paulista no mega-reveillon. Não sabe nem vai saber. É notícia velha.