Cena tumultuada
Véspera de votação para substituir Severino Cavalcanti, a imprensa não deve se perder nos meandros desse processo eleitoral. Como nota Eliane Cantanhêde na Folha de S. Paulo desta terça-feira, 27 de setembro, seja qual for o resultado, ele representará uma melhoria em relação à breve era de Severino. As CPIs é que estão num momento difícil. A mídia poderia ajudar a população a acompanhar atentamente o trabalho das Comissões de Inquérito se fizesse, ela mesma, o dever de casa de entender corretamente e apresentar com clareza o que está acontecendo. Mas o tiroteio atrapalha. Até juiz de futebol preso entra no jogo de cena.
Tarso Genro no Observatório
O Alberto Dines anuncia a participação do atual presidente do PT, Tarso Genro, no programa de televisão do Observatório da Imprensa desta noite.
Dines:
– Mauro: na semana passada, o Partido dos Trabalhadores resolveu colocar a imprensa no banco dos réus com uma violenta nota do Diretório Nacional. Ao invés de enfrentar os partidos rivais – como seria de se esperar – o PT partiu para o confronto com a única instituição que poderia ajudá-lo nesta sucessão de crises. Hoje, o PT encara uma debandada sem precedentes em seus quadros. Amanhã, será novamente dia de briga na rinha da Câmara. Com a imprensa amuada e, em alguns casos irritada, graças ao teor nitidamente antidemocrático da nota do PT, o governo fica mais isolado e o partido do governo mais enfraquecido. Quem é que teve a infeliz idéia de dirigir o fogo contra a mídia numa hora destas? Perguntem ao presidente do PT Tarso Genro, que participará hoje do “Observatório da Imprensa”, às dez e meia da noite na rede da TVE e às onze na Rede Cultura.
O PT que poderia ter sido
O noticiário sobre o primeiro turno do processo eleitoral no PT, no domingo passado, lembrou eleições internas no PDS de Paulo Maluf e Mario Andreazza, ou no PMDB de Orestes Quércia e Newton Cardoso, duas décadas atrás. É o motivo imediato da revolta dos parlamentares e dirigentes que ontem deixaram o Partido dos Trabalhadores. Mas o divórcio entre esse grupo e o governo Lula é motivado também, e isso a mídia não pode perder de vista, pela maior virtude do governo, a saber, não ter vacilado, até aqui, na condução de uma política econômica baseada no tripé combate à inflação, disciplina fiscal e câmbio flutuante.
A esquerda ex-petista criticou, como a mídia, os esquemas corruptos supostamente usados pelo chamado Campo Majoritário do PT e pelo governo Lula, mas faltou cobrar um ímpeto reformista que este governo, por sucessivos erros políticos, deixou escapar, mesmo dispondo de condições extremamente favoráveis. Até onde se pode enxergar, o PT parece ter sido a última grande tentativa de organizar um partido político moderno no Brasil.
Imprensa no interior
O presidente da Associação de Jornais do Interior do Estado de São Paulo, Luís Carlos Paes Vieira, fala de fatores que dificultam a vida de uma imprensa independente em cidades do interior.
Paes Vieira:
– Existe a liberdade de imprensa. Isso é uma conquista do estado de direito, a democracia nos proporcionou isso. O que nós verificamos é que o exercício do jornalismo no interior, dada a proximidade com o poder público, com várias formas de pressão, acaba restringindo e exigindo muito mais do jornalista.
O jornalista, no interior, quando é agradável para um grupo social, é paparicado. A partir do momento em que ele põe uma foto que não seja do agrado, revela um fato… passa a ser perseguido. Isso existe. Mas eu acho também que isso é inerente à responsabilidade do agente, que é o jornalista.
Vlado, 30 anos
Hoje é a pré-estréia do filme Vlado, de João Batista de Andrade, documentário sobre o assassinato do jornalista Vladimir Herzog em 25 de outubro de 1975, sob tortura, num quartel do Exército em São Paulo. Depois das eleições de 1974, em que o partido que apoiava a ditadura, Arena, sofreu uma grande derrota, o protesto contra o assassinato de Herzog foi a mais importante mobilização antiditadura da época, abrindo caminho para grandes lutas que vieram depois, das greves do ABC lideradas pelo sindicalista Lula até as eleições de 1982 e a campanha pelas Diretas.
Em depoimento dado ao Museu da Pessoa dentro de um projeto em parceria com o Observatório da Imprensa, Audálio Dantas destacou o papel decisivo desempenhado naquela mobilização pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, que ele presidia. Hoje, os sindicatos estão longe de ter a mesma importância.