Chantagem no Senado
O Estado de S.Paulo revela hoje por que o Senado Federal ainda não tomou qualquer iniciativa para levar a julgamento seu todo poderoso presidente, o coronel maranhense José Sarney: pelo menos 37 senadores e 24 ex-parlamentares foram beneficiados pela criação de cargos e privilégios por meio de atos administrativos secretos.
Praticamente todos os partidos estão representados na manobra: PT, DEM, PMDB, PSDB, PDT, PSB, PRB, PTB e PR.
Todos os presidentes e primeiros secretários que passaram pela mesa diretora do Senado desde 1995 são suspeitos de haver utilizado ou tolerado o esquema.
Isso explica por que nenhum senador ainda levantou a voz para pedir a cassação de José Sarney.
O Globo revela que existe outra razão para a cumplicidade generalizada: o ex-diretor Agaciel Maia teria chantageado senadores que foram beneficiados por atos secretos, ameaçando revelar novas irregularidades.
Para alguns parlamentares, citados pelo jornal carioca, “tem senador por trás dessas chantagens”.
Os antecedentes dos últimos meses, quando vários senadores foram envolvidos em escândalos após vazamento para a imprensa providenciados por correligionários de Sarney transformam o presidente do Senado no principal suspeito de estar por trás das chantagens de Agaciel Maia.
Segundo os jornais desta terça-feira, desde ontem alguns parlamentares estão defendendo o licenciamento de Sarney da presidência, por 60 dias, para facilitar as investigações.
Mas isso dificilmente vai acontecer.
Sarney e seus parceiros sabem que, no momento em que deixar o gabinete, ainda que por um dia, ele se torna vulnerável a um processo de cassação.
O Estadão revela mais dois nomes de funcionários particulares da família Sarney que são pagos com dinheiro público.
Os dois servidores ganham do Senado mas trabalham no mausoléu que José Sarney mandou construir para si mesmo, ocupando a sede do Convento das Mercês, edifício histórico tombado no centro de São Luís.
A lista de falcatruas é tão grande que até a Folha de S.Paulo publica denúncia contra seu colunista, noticiando que o presidente do Senado e articulista do jornal usou verba oficial para pagar a organização da sua biblioteca particular.
Por muito menos que tudo isso outros personagens da República já foram mandados para a lata de lixo da História.
Mantendo o debate
Assim como não estimulou o debate durante a fase anterior ao julgamento no Supremo Tribunal Federal, a imprensa trata de considerar como superado o tema da extinção da obrigatoriedade do diploma específico para o exercício da atividade jornalística.
Apesar de todas as evidências de que a maioria dos ministros deciciu sem conhecer em detalhes como se faz jornalismo.
Mas ainda há espaços para se informar e discutir o assunto.
Alberto Dines:
O STF decidiu, assunto encerrado: acabou a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício profissional. Assunto encerrado, em termos.
Este julgamento não pode ser questionado, já que o Supremo é a instância máxima, mas deve ser examinado com mais atenção. A questão da liberdade de expressão não pode ser entregue a um sindicato de empresas de radiodifusão.
No entanto, a grande imprensa não parece estar disposta a manter o debate. Não é o caso do Observatório da Imprensa, que hoje à noite vai reavivar o assunto. Com depoimentos dos ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio de Mello, ambos do Supremo, da advogada Taís Gasparian, do jurista José Paulo Cavalcanti Filho, do Presidente da ABI, Maurício Azedo, dos correspondentes em Londres, Buenos Aires e a participação ao vivo dos professores Moniz Sodré e Mário Vitor Santos.
A liberdade de expressão interessa a você, leitor, ouvinte, telespectador. Às 22:40, pela TV-Brasil, ao vivo, em rede nacional. Em S. Paulo, Canal 4 da NET e 181 da TV-A.