Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>> Chuva mostra limitação
>> Realidades fora do foco
>> Quase Dois Irmãos

 

Devido a problemas causados pelas chuvas, esta edição não foi transmitida pela Rádio Cultura FM de São Paulo.

 

Chuva mostra limitação


Também na cobertura da chuva em São Paulo se revelaram as limitações da mídia brasileira nesta manhã de quarta-feira, 25 de maio.

 

No rádio, que é o veículo mais ágil, antes das seis da manhã repetia-se uma rotina: informações centradas nos problemas do trânsito.

 

Desde as quatro da tarde de ontem a chuva mostrava todo o seu potencial de estrago. Por que não se fizeram, de noite, advertências sobre os pontos mais vulneráveis?

 

Bem cedo nesta manhã, repórteres da TV Globo não foram além da Praça das Bandeiras, de onde se via uma Marginal do Tietê totalmente inundada, e do Ceagesp, na Marginal do Pinheiros.

 

Até as dez da manhã os sites de notícias não tinham ido além de constatações sobre problemas de trânsito e declarações de autoridades. Mas a presença dos governos é mais precária exatamente onde moram os cidadãos mais ameaçados, os que morrem e ficam feridos em maior número, os que têm maiores prejuízos materiais.

 

Onde a reportagem chega, aumenta a visibilidade dos problemas. Uma equipe de afiliada da Rede Globo no interior paulista mostrou, em boa reportagem feitas ontem, como as pessoas viveram em Capivari, região de Campinas, o drama da chuva e dos ventos.

 

Veremos hoje à noite na televisão e amanhã nos jornais como os problemas de chuva e inundações serão tratados no noticiário.

 

Realidades fora do foco

 

Elias Pereira da Silva, dito Elias Maluco, acusado de chefiar os bandidos que há quase três anos torturaram e mataram o repórter Tim Lopes, da Rede Globo, foi condenado em primeira instância a 28 anos de prisão.

 

Informa reportagem da Folha de São Paulo que desde o assassinato de Tim Lopes a cobertura da imprensa mudou.

 

Em áreas do Rio de Janeiro onde há presença de traficantes armados, foram adotadas normas de segurança mais rígidas. Na maior parte dos casos, as equipes só entram juntamente com a Polícia. .

 

Isso deixou a imprensa ainda mais longe da realidade dos bairros pobres e favelas. Em compensação, teria feito a mídia se preocupar mais com as políticas de segurança pública.

 

Mas, de lá para cá, essa mudança não produziu nenhum efeito positivo. A violência não parece estar sendo controlada.

 

Quase Dois Irmãos


 

 

Um filme em cartaz mostra que é antiga a distância entre a mídia e a realidade da população mais pobre. Chama-se Quase Dois Irmãos. Quem o dirigiu foi Lúcia Murat.

 

Lúcia Murat foi jornalista no Rio de Janeiro. Em Quase Dois Irmãos, a classe média e os pobres do Rio de Janeiro se desconhecem e se estranham, desde os cárceres da ditadura militar aos dias atuais. Um das funções estratégicas da mídia seria reduzir esse desconhecimento.

 

Lúcia Murat, ouvida ontem pelo Observatório da Imprensa, está convencida de que a imprensa tende a olhar só para um lado. Cobre muito mal, por exemplo, o dia-a-dia de pessoas que moram em favelas.

 

Ela diz que o Morro do Vidigal, no Rio, vive há um ano uma guerra diária, mas as pessoas que a sofrem pouco são retratadas na mídia. Diz Lúcia Murat que não existe cidadania neste país para elas.

 

Evidentemente, sem um trabalho adequado da imprensa, a participação política, portanto a democracia, tem dois pesos e duas medidas. Uma interrogação que a cineasta Lúcia Murat faz em seu filme Quase Dois Irmãos é se a democracia, uma grande vitória conquistada, é só nossa, da classe média, não é de todo o povo brasileiro.

 

 

 

 

 

Escândalos sem aprofundamento


Está cada vez mais evidente a importância que teria neste momento uma apuração jornalística independente e competente a respeito de casos de corrupção e má gestão na máquina pública. Em particular nas empresas estatais, onde a nomeação para milhares de cargos é moeda de troca da política atrasada.

 

Esse assunto é um dos destaques do Observatório da Imprensa online, segundo seu editor, Luiz Egypto. O Observatório da Imprensa na internet desta semana mostra como a mídia não sabe destrinchar a corrupção.

 

Comenta ainda que a imprensa brasileira tem perdido excelentes oportunidades para ajudar a conter o trágico processo de destruição da diversidade biológica. O noticiário traz dados assombrosos, mas praticamente ininteligíveis ao leitor comum, pela falta de contexto.

 

E o que dizer sobre a sopa de números que se espalha pelo noticiário econômico? A imprensa publica dados para todos os gostos e para justificar qualquer escolha. A maior parte da informação, porém, aparece sem o menor tratamento jornalístico, aumentando a confusão entre os leitores.