Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Chuvas brasileiras
>>Polícia não resolve segurança

Faltam antecipações


O episódio do metrô paulistano deixa mais uma vez evidente a precariedade da cobertura jornalística sobre os serviços públicos da cidade. A mídia se empenha agora em acompanhar a tragédia da estação Pinheiros, mas ficou devendo antecipações eficazes.


Chuvas brasileiras


Alberto Dines critica a cumplicidade da mídia com o estado de espírito geral de imprevidência em face das chuvas.


Dines:


– A culpa é da chuva, esta foi a explicação para o desastre ambiental em Miraí, Minas e também para o desabamento na obra do metrô em S.Paulo. A desculpa é valida, mas também é válido perguntar: há quanto tempo chove no mundo? O dilúvio bíblico aconteceu por acaso ontem? Enchentes no verão são novidade? No Japão, a freqüência dos terremotos exigiu a adoção de severos padrões de segurança para enfrentar a intensidade e a repetição dos tremores. O homem apreendeu a conviver com a natureza em todas as partes do mundo. Menos no Brasil, onde cada verão parece ser o primeiro e cada catástrofe é apresentada como inédita. Enchentes, desabamentos ou deslizamentos são fenômenos regulares, anuais, recorrentes, impossível desconhecê-los. A culpa foi da chuva, justificam-se as autoridades ou concessionárias, e a imprensa resigna-se com a desculpa. Mas a função da imprensa não é resignar-se com declarações esfarrapadas. Para reagir à engabelação rotineira, a imprensa precisa estar habilitada. Convém reparar que no último sábado as vozes mais indignadas contra a conversa mole do excesso de chuvas foram do deputado ambientalista Fernando Gabeira na Folha e do jornalista-ambientalista André Trigueiro na rádio CBN. Na quinta-feira, um dia antes da cratera se abrir na Marginal Pinheiros, Washington Novais, o decano dos jornalistas-ambientais, fazia o seu alerta semanal no Estadão contra o nosso descaso diante da temporada de chuvas. E o resto da imprensa? Alguém lembrou de comparar o índice pluviométrico deste verão com o do ano anterior? Dá muito trabalho. A culpa foi da chuva, enterremos os mortos e estamos conversados.


Beira-Mar ativo


O jornal O Dia chama a atenção, hoje, para o fato de que os bloqueios da Força Nacional de Segurança em estradas têm como alvo principal a atuação da quadrilha de Fernandinho Beira-Mar no contrabando de armas do Paraguai para favelas cariocas. Beira-Mar está trancafiado há muitos meses.


Polícia não resolve segurança


O coordenador de Segurança e Inteligência do Ministério Público do Rio de Janeiro, Astério Pereira dos Santos, diz que a questão da criminalidade não se resolve com mais Polícia.


Astério:


– Entendo sobretudo que não se pode enfrentar a violência e a criminalidade como um problema de Polícia. Esse é um problema que envolve políticas públicas e sobretudo muito estudo, para permitir que entendamos os valores das pessoas que praticam esses atos. Que os valores deles são muito diferentes dos valores que nós, responsáveis pelo sistema, temos. Se você não tiver exata noção dos valores morais, éticos, religiosos dessas pessoas, você vai ter dificuldade até mesmo de enfrentá-los. Enfrentá-los no bom sentido do combate em termos de pôr fim ao que acontece aí, mas através de políticas interessantes.


Eu vejo, por exemplo, a necessidade de levar o Poder Judiciário para próximo das comunidades carentes, porque nessas áreas , hoje, os conflitos familiares são resolvidos pela liderança local. Se nós tivéssemos uma representação do Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria nas proximidades, nós começaríamos a resolver esses conflitos internos da comunidade ensinando também, pedagogicamente, o que é a Justiça. Isso é fundamental. Que eles tenham acesso e possibilidade de resolução de seus conflitos através do poder regular.


Pérola de corporativismo


Poucas manifestações são tão sintomáticas do corporativismo brasileiro quanto declaração do presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Wladimir Reale, contra a intenção anunciada ontem no Globo pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, de exigir declaração anual de bens de policiais civis e militares. Aqui mora uma pauta jornalística que vai direto ao DNA da estruturação social brasileira.


Ai de ti, Venezuela


Os jornais trazem hoje bom material sobre o caminho da censura à imprensa na Venezuela. No Estadão, Paulo Moreira Leite mostra que não há mocinhos no filme. Mas reprimir e censurar não vai melhorar em nada o quadro social e político venezuelano.