Chuvas e notícias
As chuvas que vararam a noite de domingo e a madrugada de ontem produziram mortes em bairros da periferia de São Paulo e transtornos no aeroporto de Congonhas.
O único dos grandes jornais que deu essa ordem de grandeza na organização das notícias foi o Estado de S.Paulo.
A Folha dividiu os fatos ligados à tempestade, e tratou de forma separada os problemas no aeroporto e a tragédia da periferia.
O Estadão abriu o caderno Metrópole com a notícia das mortes de quatro pessoas durante o temporal, ouvindo testemunhas e descrevendo a situação da infra-estrutura nos bairros onde ocorreram as enxurradas.
Além disso, traz uma reportagem sobre o corte de verbas do governo estadual para obras de combate a enchentes. Diz ao jornal que os recursos para desassoreamento de rios e córregos e manutenção de sistemas de escoamento foram reduzidos em 61% de 2006 para 2007.
Mortes e política
O Globo preferiu escolher como manchete os problemas nos aeroportos de São Paulo, que começaram na noite de domingo, com as fortes chuvas que obrigaram à suspensão de alguns vôos e se complicaram devido ao excesso de passageiros por conta da corrida de Fórmula-1.
A notícia das mortes causadas pelas enchentes mereceu um registro no pé da mesma página que relata os problemas do ministro da Defesa, Nelson Jobim, com o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil, Milton Zuanazzi.
O critério do Globo problemas aeroportuários com mortes nas enchentes deve ter sido a origem comum dos fatos, ou seja, as chuvas fortes que castigaram a capital paulista.
Difícil de entender é a relação entre a chuva e os problemas políticos do ministro da Defesa.
Escolha difícil
Jornais são feitos para a classe média.
Essa idéia está na cabeça de todos os editores, e determina, implicitamente, as escolhas de cada dia.
Entre uma tragédia que ocorre em bairros distantes, onde a leitura de jornais é mais rarefeita, e um fato menos relevante, em termos absolutos, mas diretamente relacionado ao universo mais denso de leitores, a escolha é quase sempre pela segunda alternativa.
De qualquer maneira, fica para o observador da imprensa uma sensação de que o conforto de uns pode parecer mais relevante do que a vida de outros.
O desafio da TV digital
Os jornais ainda não atentaram para o problema, mas o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação, que ampliam as possibilidades de interferência do chamado usuário nos conteúdos oferecidos pela mídia, apresentam desafios cada vez mais complexos para os meios tradicionais.
No advento da internet, jornais e revistas adaptaram seus desenhos, basicamente fazendo referência às novas fontes disponíveis na rede mundial de computadores, e nada mais.
No geral, a linguagem continuou a mesma, a organização das notícias não mudou, e os novos meios continuam ganhando cada vez mais a preferência do público. Aliás, a cada novidade tecnológica os antigos espectadores se transformam em protagonistas do espetáculo da mídia.
Agora está chegando a TV digital, com possibilidades ainda maiores de escolhas, como a perspectiva de interromper a programação e saltar os intervalos comerciais. Como vamos ingressar nessa novidade?
Dines:
– Falta pouco para o dia 2 de Dezembro. Além do início formal das transmissões da TV-Brasil, no mesmo dia a TV brasileira entrará na era digital. A discussão sobre a TV pública está sendo travada de forma razoavelmente transparente, sabe-se o que ela será e o que não será. E a TV digital? As emissoras permitirão o uso total de suas possibilidades técnicas? A digitalização vai significar uma abertura efetiva, uma socialização de potencial do novo sistema ou vamos nos conformar com avanços pela metade? Quem comanda o processo – o interesse do cidadão-consumidor ou os interesses daqueles que não querem dividir o bolo? O Observatório da Imprensa desta noite vai esclarecer estas e outras questões. Hoje, às 22:40, ao vivo em rede nacional, pela TV-Cultura e pela TV-E.
Luciano:
Bastidores de um acordo
As discussões em torno da prorrogação da CPMF podem mudar a configuração das forças políticas.
Sinais de desgaste entre o PSDB e o Partido Democratas, por conta dessa proposta, podem se consolidar diante da perspectiva eleitoral de 2010. Sem os atuais aliados, o partido dos tucanos teria maiores chances de compor uma chapa com parte da atual base governista, segundo indicam os jornais.
O Globo, a Folha e o Estado de S.Paulo afirmam que o governo admite estudar proposta de redução de impostos, sugerida pelo PSDB, para obter os votos necessários à prorrogação da CPMF.
Além disso, acrescenta a Folha, a hipótese de redução na alíquota do tributo está fora de questão, pois isso implicaria em votar novamente o projeto na Câmara, o que custaria outros seis ou sete meses até a aprovação final.
A ministra Dilma Roussef já avisou os parlamentares que qualquer perda no Orçamento pode afetar emendas propostas por eles. Esse é o argumento que, afinal, pode dar uma solução ao impasse no Senado.
Oposição dividida
Mas nem tudo são flores. O senador Demóstenes Torres, do Partido Democratas, ouvido pelo Estadão, critica seus aliados do PSDB dizendo que, se a CPMF passar, o governo Lula será favorecido.
Pelos tucanos, o governador Aécio Neves observa que seu partido está dando uma demonstração de boa-vontade em troca da garantia de mais recursos para a saúde, a serem administrados pelos Estados e municípios.
O Democratas, que fechou questão contra a prorrogação da CPMF, ameaça expulsar quem votar com o governo. E se isola cada vez mais na oposição.
Se o quadro partidário se consolidar dessa forma, é possível uma aproximação entre a base do atual governo e o PSDB em 2010.
O mensalão pela CPMF
Por trás desse cenário, uma negociação que nada tem a ver com a CPMF pode estar azeitando o diálogo do governo com seus desafetos do PSDB.
O petista Tião Viana, que subsitui o presidente do Senado, Renan Calheiros, licenciado do cargo, admite, segundo a Folha, que a Mesa Diretora poderá arquivar a denúncia contra o senador tucano Eduardo Azeredo, acusado de se haver beneficiado de caixa-2 durante a campanha eleitoral de 1998.
Para não atrapalhar, Renan pediu mais dez dias de licença e já se diz que ele não voltaria à presidência do Senado.
Azeredo, apontado como o principal envolvido no escândalo que a imprensa chama de ‘mensalão mineiro’, seria, digamos assim, a azeitona na grande pizza de 2007.