Autocrítica petista
O PT não corre o risco de se emendar – nenhum grupo político brasileiro corre esse risco atualmente –, mas é importante para o país que a facção dominante no partido do presidente Lula, o Campo Majoritário, tenha reconhecido erros que conduziram ao “mensalão”. O Campo Majoritário, informa hoje o Globo, criticou os métodos adotados para fazer alianças no Congresso, o empenho em preencher cargos públicos, o plano do PT de tentar eleger a qualquer custo muitos prefeitos em 2004 e o financiamento de campanhas de partidos aliados.
Cobertura espasmódica, teoria delirante
Alberto Dines mostra como a mídia acompanha mal a crise do setor aéreo.
Dines:
– Ontem, primeiro de abril, dia da mentira, num blog de notícias, apareceu a delirante teoria de que os controladores de vôo são para o presidente Lula o que o caminhoneiros foram para Salvador Allende em 1973 no Chile. Em outras palavras, os sargentos da FAB seriam agentes desestabilizadores, provocadores de um golpe. Brincadeira ou não, o episódio serve para ilustrar o funcionamento da nossa mídia. A verdade é que a cobertura tem sido espasmódica, intermitente, embora a intensidade da crise seja ascendente. Basta que depois de uma crise aguda os atrasos nos vôos diminuam ligeiramente ou que o movimento nos principais aeroportos pareça mais tranqüilo e a mídia logo afrouxa o acompanhamento, esquecida de que os impasses básicos continuam intocados e ocultos. Os jornais de sábado coincidiram na classificação do movimento dos controladores em Brasília como “motim”. Tecnicamente estavam certos. Mas como é que se poderia classificar o comportamento das autoridades que desde o início tentaram esconder o problema dos controladores? Seria, por acaso, “obstrução da justiça”? A crise aérea só será efetivamente resolvida quando se souber exatamente o que aconteceu e o que está acontecendo. E para isso não é preciso de uma CPI. Basta que a mídia assuma as suas verdadeiras responsabilidades.
A Aeronáutica voou
Editorial do Estadão fala hoje em crise militar, em “princípios basilares da hierarquia e da disciplina”, em “patriótica serenidade” do comando da Aeronáutica. A realidade dos fatos é mais prosaica. O governo como um todo errou, mas em especial a Aeronáutica, que era responsável pelo controle do tráfego aéreo. Tanto é que em seis meses a crise só fez piorar.
Imprensa longe do povo
Os jornais cobrem mais Brasília do que Brasil e, com equipes subdimensionadas, fazem as reportagens mais ao alcance da mão. No sábado e no domingo, e isso continua hoje, foi muito pequena a parte dedicada aos problemas do brasileiro comum impedido de voar ou retido em aeroportos, dentro ou fora de aviões. Os telejornais falaram mais do drama das pessoas, porque tinham que fazer imagens nos aeroportos. Como duas equipes do Fantástico foram afetadas pelo apagão, o programa destacou o desconforto desses cidadãos. O Estadão de ontem deu uma boa reportagem sobre uma festa de hierarcas do ar, mas ninguém falou, por exemplo, das festas que foram canceladas em tantas cidades. E de outros eventos que não tinham nada de festa.
Governo ignora baixaria na TV
A jornalista Leila Reis expôs em sua coluna de ontem no Estadão uma incoerência do governo. Enquanto se lança à construção de uma TV dita pública, é incapaz de fiscalizar a qualidade do conteúdo da TV privada, que vem a ser uma concessão pública.
Escreveu Leila Reis: “A nova classificação indicativa da programação por faixa etária, a cargo do Ministério da Justiça, por exemplo, ainda hoje é combatida pelas emissoras. Está no ar a propaganda na qual a Globo defende a tese de que os pais é que são responsáveis pelo que os filhos vêem na TV. A recíproca, no entanto, não é verdadeira. Em nenhum momento o escalão principal da República saiu em defesa dessa precária classificação para o conteúdo do que entra diariamente em 98% dos domicílios brasileiros”.
Leila Reis dá exemplos de programas grotescos que utilizam pedofilia, violência policial, desrespeito à mulher e aos gays como motes para fazer graça.
Racismo
Luis Fernando Verissimo escreveu ontem: “Nenhum racismo é justificável, mas o ressentimento dos negros é. Construiu-se durante todos os anos em que a última nação do mundo a acabar com a escravatura continuou na prática o que tinha abolido no papel”.
E a ministra do Turismo, Marta Suplicy, em entrevista hoje na Folha, reconhece sem hesitar que há, sim, racismo no Brasil.