Começa a temporada eleitoral
Com o mês de setembro começou a definir-se o quadro em que se darão as eleições de 2006. Parlamentares deixam partidos bichados, os candidatos do PSDB intensificam sua disputa, a luta interna come solta no PT. Uma tarefa urgente da mídia agora é definir que padrões vai seguir na cobertura do processo eleitoral vindouro.
O relatório conjunto das comissões parlamentares que pede a cassação de 18 deputados reflete o poder e a importância da mídia. Sem clamor da opinião pública refletido nos veículos de comunicação tenderia a haver, e ainda poderá haver, algum tipo de acordo para poupar cabeças de culpados. Esse papel da imprensa será decisivo nas eleições de 2006.
Liberdade de imprensa
O Estado de S. Paulo desta sexta-feira, 2 de setembro, saúda em editorial a sentença do ministro do Supremo Celso de Mello em defesa da liberdade de expressão, dada ao julgar pedido de abertura de ação penal contra a revista Veja. Na edição de 3 de agosto, a revista publicou um artigo do colunista Diogo Mainardi sob o título “Quero derrubar Lula” e a reportagem de capa se chamava “O risco Dirceu”. Um advogado, Celso Marques de Araújo, havia acusado a revista de colocar em perigo o regime democrático e praticar subversão contra a segurança nacional.
O juiz do STF determinou o arquivamento da ação porque jornalistas não têm foro privilegiado. Assim, o advogado deveria ter procurado a primeira instância da Justiça Federal e não o Supremo. Mas Celso de Mello apresentou argumentos em defesa de imprensa, preocupado, segundo o Estadão, com a possibilidade de que novas ações viessem a ser movidas no contexto da atual crise e seus desdobramentos. O Estadão saúda a sentença por “atalhar uma forma de pressão que visa a constranger a imprensa neste momento em que desempenha um papel decisivo na apuração da verdade sobre a extensão e a profundidade da corrupção no PT e no governo”.
Na seção de opinião do Globo, o jornalista Luiz Garcia diz que a sentença do juiz deve ser recebida pelos jornalistas “com alegria, mas também, e principalmente, com humildade”. Garcia adverte a imprensa contra a idéia de que está aberta a temporada de caça aos poderosos. Certamente não foi essa a intenção do ministro Celso de Mello. Para o jornalista do Globo, continua aberta a temporada de vigilância aos poderosos, o que é bem diferente. Garcia pede mais substantivos do que adjetivos. Incentiva a investigação jornalística, mas faz uma distinção: investigar não significa comprar de olhos fechados o que outros investigaram, ou dizem ter investigado. E o direito de criticar os poderosos não é dado aos jornalistas por sua condição profissional, mas porque são cidadãos numa democracia.
Compromisso com as instituições
O Alberto Dines chama a atenção para a qualidade da discussão no Congresso.
Dines:
– Mauro, o saldo das decisões de ontem da CPI dos Correios é mais importante do que o número de deputados que poderão perder os seus mandatos. A quebra de decoro parlamentar ganhou a conotação política que a imprensa ainda não lhe dera. O decoro deixou a esfera moral, importantíssima, é claro, para ir além e converter-se em compromisso com as instituições. Como conseqüência a quebra de decoro passa a ser encarada na sua verdadeira dimensão – é um crime contra a instituição parlamentar e portanto é um crime contra o Estado.
Isso significa que quando o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, pede penas brandas para deputados que quebraram o decoro, ele está assumindo ostensivamente uma cumplicidade com aqueles que cometeram crimes contra o Estado. E neste caso ele próprio está sujeito a ser cassado. A corajosa atitude do deputado-jornalista Fernando Gabeira ao propor uma cruzada nacional para devolver a dignidade à Câmara dos Deputados é uma excelente oportunidade para que a imprensa abandone a sua condição passiva de mera divulgadora de escândalos e declarações, para converter-se num agente ativo do processo geral de saneamento que vai muito além do mensalão e do caixa dois das campanhas eleitorais.
Os prefeitos assassinados
O assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel é provavelmente o episódio mais emblemático de toda a tragédia brasileira do PT. Talvez o assassinato do prefeito de Campinas Toninho também o seja. Nos dois casos, a mídia trabalhou aquém de sua responsabilidade social e política. Aí a lições a tirar.
Em Nova Orleans faltou prevenção
A situação fora de controle em Nova Orleans, que agora já chega a cidades próximas, mostra a relevância da discussão sobre a comunicação. Muitos dos problemas vividos na região poderiam ter sido evitados, ou ao menos atenuados, se tivesse havido antes da catástrofe uma vigilância cívica mais ativa. Agora, não é o fenômeno natural que está matando: é a incapacidade temporária da sociedade americana de resgatar as vítimas.