Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Congresso diminuído
>>Criticar incomoda

Arábia Saudita
A presença de grandes construtoras brasileiras na Líbia poderia ter sido um fator de redução da ignorância pela mídia da realidade do país de Kadafi. Não foi o que aconteceu. Hoje há surpresa com o vigor da revolta e com a violência da repressão.

Mas o capítulo que pode desequilibrar toda a conjuntura econômica e política mundial é a Arábia Saudita, cujos conflitos internos começam agora a frequentar o noticiário. Se o fornecimento de petróleo for afetado e os preços explodirem, a situação se complicará muito.


Congresso diminuído
A discussão no Senado, hoje, não é mais sobre o valor do reajuste do salário mínimo. O que a oposição pretende contestar, dizem os jornais, são as regras de reajuste, que permitiriam ao governo evitar, nos próximos anos, o debate do assunto no Congresso. 

Parlamentares do PSDB falaram em autoritarismo do Executivo, diminuição das atribuições do Congresso. Se quisesse apontar a maior das distorções nas relações entre Executivo e Legislativo, o PSDB poderia citar ninguém menos do que o presidente do Senado, José Sarney. Ele reiterou, ao ser empossado pela enésima vez, a crítica à enxurrada de medidas provisórias. Essas, sim, dominam a pauta e o comportamento do Legislativo.
Por exemplo, o reajuste da tabela do Imposto de Renda, apresentado como contrapartida do salário mínimo de 545 reais, será objeto de uma medida provisória.
Esse debate, a ser acolhido pela mídia, que já tratou inúmeras vezes do assunto, envolve questões de fundo da democracia brasileira. 


Tortura sem anistia
Outra questão de fundo do processo de consolidação e ampliação da democracia é a abertura dos arquivos da ditadura. No Rio de Janeiro, um procurador militar, Otávio Bravo, defende a tese de que os desaparecimentos sejam considerados sequestros em andamento, crime continuado, caso em que não cabe prescrição nem aplicação da Lei de Anistia.


Nordeste indefeso
O Jornal Nacional mostrou ontem reportagem de André Luiz Azevedo sobre uma série de assaltos com dinamite a caixas eletrônicos em pequenas cidades nordestinas. Desde o início do ano foram 27, a maioria na Paraíba. Nenhum dos três jornais mais importantes, Folha, Estado e Globo, deu notícia sobre o assunto. A reportagem havia sido anunciada na edição do Jornal Nacional de segunda-feira.

Criticar incomoda

Luiz Egypto, redator-chefe do Observatório da Imprensa:

– Mauro, na quarta-feira passada você registrou, em cima da pinta, episódio ocorrido na noite anterior, durante o Jornal da Cultura, da TV Cultura de São Paulo, quando os dois comentadores convidados à bancada do telejornal – Eugênio Bucci e Demétrio Magnoli – criticaram, ao vivo, uma reportagem então exibida que parecia mais um release do governo estadual do que exatamente uma matéria jornalística.

O desdobramento curioso desse episódio foi o tempo que os jornalões paulistas levaram para registrar o fato. O Estado de S.Paulo saiu na frente e deu matéria logo na quinta-feira – tempo hábil para que aparecesse impressa notícia de fato ocorrido na noite de terça. A Folha só acordou para o assunto na edição de sexta-feira, dois dias depois de o telejornal ter ido ao ar, sem se importar em ter sido furada pelo concorrente direto.

Ambos produziram boas matérias sobre o caso, mas, ainda assim – e também por isso –, o episódio serve para mostrar como a nossa mídia trata a crítica de mídia. O que deveria ser corriqueiro em telejornal de emissora pública assume foros de grande novidade, a ponto de virar notícia de jornal. Em suma, a mídia não está acostumada a discutir o seu próprio desempenho. E estranha quando isso acontece.